Itabira, berço da Vale, foi a cidade com mais demitidos

Numa cidade tão pequena e rica como Itabira (MG), berço da Companhia Vale do Rio Doce, a crise financeira ceifou um emprego a cada 74 habitantes nos últimos 12 meses. O cenário já foi pior, quando empresas iniciaram cortes que atingiram o pico de 2 mil trabalhadores. Afetada diretamente pela crise global, que reduziu de forma drástica a demanda por produtos siderúrgicos, a Vale se viu obrigada a dispensar 150 funcionários e a fazer contenções em sua planilha de custos. Tudo para se ajustar a uma queda de 35% da produção desde o primeiro semestre de 2008.

Cerca de 90% dos demitidos pela Vale, segundo o sindicato da categoria, eram funcionários antigos, que puderam antecipar a aposentadoria. Mesmo assim a crise se alastrou. A empresa gera 3 mil empregos diretos e 1.200 indiretos. "A nossa cidade pagou um preço muito alto nessa crise", afirma o presidente do sindicato Metabase, Paulo Soares de Souza. "A Vale divulgou que o pior da crise já passou, começou a admitir novamente, mas a recuperação está muito tímida."

Segundo o prefeito João Izael Querino Coelho (PR), o planejamento urbano de Itabira teve de ser repensado. A arrecadação de impostos sobre a mineração e circulação de mercadorias caiu R$ 40 milhões. "O cenário ainda é muito obscuro. O que parecia uma gripe forte, foi uma pneumonia mesmo", diz Coelho.

Situação semelhante viveu São Caetano do Sul, sede da GM do Brasil. Com a crise atingindo em cheio a montadora nos Estados Unidos e no resto do mundo, suas filiais também foram afetados. O terceiro turno, criado para atender a demanda crescente entre 2007 e 2008, foi desfeito. No primeiro trimestre deste ano, 1.650 trabalhadores viram seus contratos serem encerrados e não renovados. A boa notícia para os 145 mil habitantes de São Caetano é que os cortes ficaram para trás e a GM voltou a recontratar, embora ainda sem o terceiro turno.

Em terceiro lugar entre as cidades que mais demitiram ficou Toledo, no Paraná. Ela possui uma fábrica da Sadia, inaugurada há pouco mais de dois anos, que se tornou vital para a economia da região. Quando se tornou público o prejuízo da empresa de R$ 2,6 bilhões em operações de derivativos, em setembro de 2008, famílias de trabalhadores já esperavam pelo pior. E o pior veio quando a crise mundial reduziu a demanda por frangos. A Sadia teve de optar por encerrar o terceiro turno. Mais de 900 funcionários foram cortados em dezembro, medida que não parou por aí. Outras dezenas de demissões foram feitas nos meses seguintes.

INTERIOR

Ano após ano, Sertãozinho, no interior paulista, foi aprendendo a conviver com as demissões sazonais. No período da entressafra, cortadores de cana eram dispensados e elevavam o índice de desemprego. Isso persistiu por vários anos, quando o Brasil não produzia carros flex e o setor sucroalcooleiro era desestruturado. Quando a cadeia ganhou outro status, sendo assediado até por grupos estrangeiros, a cidade de 100 mil habitantes soube aproveitar a oportunidade. Criou um polo nacional da indústria de maquinários voltados para os canaviais, com atividades que movimentam a economia o ano inteiro.

Tudo ia bem até a crise mundial. Em Sertãozinho, ela foi sentida quando as fontes de crédito secaram, impedindo as empresas de refinanciarem a troca de suas máquinas e formarem capital de giro. Dezenas de projetos de novas indústrias, planejados para atender a uma demanda crescente por álcool e açúcar, foram suspensos. Ao longo de 2009, usinas entraram em dificuldades e não honraram nem mesmo com os salários dos funcionários. O comércio foi duramente golpeado. "Desde 2005, Sertãozinho gerava 10 mil novos postos de trabalho por ano. Este ano vamos gerar menos de 1 mil empregos", diz o secretário da Indústria e Comércio, Marcelo Pelegrini.

São Luís, no Maranhão, é a primeira capital a aparecer no ranking das que mais demitiram. Com quase 1 milhão de habitantes, o município acumula perda de 7.290 vagas nos últimos 12 meses. As demissões estão concentradas nos setores da construção civil, serviços e indústria. Enquanto o resto do País vivenciou um bom momento no setor imobiliário, a capital registrou cortes mensais de empregos desde janeiro. .

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