O Brasil bombou em 2009

Há três décadas, o economista e historiador americano Jordan Young cunhou uma expressão que marcaria gerações, para o bem e para o mal: “Brasil, a força emergente do futuro”. A esperança que deu base a esse pensamento sustentou uma era, denominada de milagre econômico, mas acabou atropelada por sucessivas crises cambiais, calotes do setor público e um processo hiperinflacionário que levou o Brasil a se tornar um dos países mais desiguais e injustos do mundo. Às vésperas, porém, de entrar em um período eleitoral, em que, mais uma vez, os brasileiros terão a oportunidade de escolher democraticamente um presidente da República, finalmente o futuro parece bater às portas do país.

Se as estimativas de economistas do governo e do setor privado se confirmarem, o Brasil viverá, nos próximos 20 anos, um processo semelhante ao observado nos Estados Unidos no início do século passado, quando foram alçados à condição de potência. Veremos uma mobilidade social sem precedentes — em 2030, projeta o Banco Santander, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país, a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, ficará acima de US$ 30 mil, patamar de Primeiro Mundo —, com oportunidades de enriquecimento da população tanto por meio do trabalho quanto pelo empreendedorismo. Em vez de inflação, juros e câmbio, um debate(1) produtivo deve ser centrado nas necessidades de melhorias de educação, saúde, segurança e infraestrutura, como mostrará, a partir de hoje e ao longo dos próximos dias, uma série de reportagens preparadas pelo Correio, voltadas para a área econômica.

Com a renda em alta e mais acesso a crédito e a serviços, os brasileiros ficarão mais exigentes. Gerações que não têm a menor ideia do que é descontrole de preços não aceitarão sequer discutir a estabilidade econômica. Portanto, está nas mãos do próximo presidente levar adiante a construção do Brasil que todos anseiam. A pavimentação para isso levou pelo menos 15 anos. “Não há como ter retrocesso. O Brasil mudou, e para melhor”, diz Patrícia Bentes, sócia-diretora da Consultoria Hampton Solfise. “Teremos um país crescendo próximo de 5% ao ano, com inflação sob controle, juros em baixa e distribuição de renda. Será o Brasil do bem-estar social”, acrescenta o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

Mas há muito o que avançar. O número de veículos licenciados no Brasil está em 0,25 per capita, o mesmo índice computado nos EUA dos anos 1940. O total de pessoas que viajam por ano de avião corresponde a 25% da população, a mesma faixa dos Estados Unidos de 1950. O número de lares com telefone fixo no país é de 74,5%, patamar do país norte-americano no fim da primeira metade do século passado. Já o total de domicílios com televisão, de 93%, é o mesmo observado na economia mais rica do planeta nos anos 1960.

“Não é à toa que os olhos do mundo estão todos voltados para o Brasil. Seu potencial de crescimento é enorme. Tanto que, apenas nos últimos seis anos, mais de 30 milhões de pessoas — quase a população da Espanha — foram incorporadas à classe média. Outras 20 milhões saíram da pobreza. Imagine o que acontecerá daqui por diante, se mantida a política econômica responsável, baseada no tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superavit fiscal”, afirma o economista Rodrigo Ventura, da consultoria Macroplan. “Veremos uma revolução”, emenda Flávio Serrano, economista do Banco BES Investimento.

Olhando para frente
As pessoas que ascenderam socialmente passaram a ter crédito. Puderam, num primeiro momento, satisfazer as necessidades básicas. Agora, estão comprando carros. Depois, será a vez da casa própria. “É justamente esse movimento de consumo que estimulará uma revolução cultural. Ao constatar que pode melhorar de vida e ter acesso a bens de consumo mais caros, a população ficará mais exigente em relação ao governo. Passará a cobrar serviços melhores como contrapartida aos impostos que paga. Uma sociedade mais exigente obriga os governos a serem mais eficientes”, ressalta o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles.

Para Cristiano Souza, economista do Banco Santander, por estarem saboreando os frutos da estabilidade, os eleitores não permitirão extravagâncias nas discussões que permearão a campanha política de 2010. “O nível de exigência em relação às propostas dos candidatos será muito maior. Ninguém vai querer olhar para trás. A cobrança será sobre o Brasil que nos aguarda. Os investimentos públicos serão de qualidade? A educação vai melhorar? O sistema de transporte urbano atenderá as nossas necessidades? Os hospitais darão atendimento dignos? As pessoas poderão transitar livremente pelas ruas sem temerem a violência? São respostas para essas questões que todos anseiam”, destaca.

Na avaliação no economista Régis Bonelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV), mesmo temas de pouco apelo popular, como as reformas tributária, da Previdência Social, trabalhista e fiscal, vão entrar na pauta de debates, devido à capacidade de ampliar o potencial de crescimento do país. “Por mais que caminhemos para uma campanha plebiscitária, com comparações entre os governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, a população cobrará propostas para avanços, para novas conquistas”, diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. “Será o amadurecimento de 20 anos de democracia”, complementa Sílvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin.


1- Comparação
Em 1989, na primeira eleição direta pós-redemocratização, o debate entre os candidatos esteve calcado na consolidação da democracia e no combate à inflação. Em 1994, as atenções estiveram voltadas para as conquistas do Plano Real e a consolidação das liberdades políticas. Em 1998, questões macroeconômicas, como o câmbio e as crises externas, lideraram as discussões. Em 2002, focou-se na incerteza do que seria um governo comandado pelo PT. Em 2006, mesmo com a administração Lula abalada por denúncias de corrupção, pesaram as conquistas da estabilidade econômica, com melhoria da renda e do emprego. Agora, o desafio será garantir um futuro melhor, pois não há mais espaço para frustrações. Editorial do Correio Braziliense

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