O relatório final do Comando da Aeronáutica sobre o projeto FX-2, que envolve a compra de 36 caças e um negócio estimado em R$ 10 bilhões, agradou ao Palácio do Planalto. O documento indica que as aeronaves Rafale, da companhia francesa Dassault, e F-18 Super Hornet, da americana Boeing, contam com características técnicas e militares superiores aos Gripen NG, da sueca Saab. O Ministério da Defesa confirmou a entrega do parecer, que tem 390 páginas. Um colaborador direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também teve acesso ao documento.
O conteúdo do novo relatório - modificado por pressão do governo, que permite apontar o francês Rafale como o melhor - contrasta com a versão anterior, na qual a Aeronáutica hierarquizou os três concorrentes e apontou o Gripen NG no topo da lista. Ao caça Rafale, que é o preferido de Lula e do ministro da Defesa, Nelson Jobim, a Aeronáutica reservara o terceiro e último lugar, em função especialmente de seu custo mais elevado. A publicação dessa versão pela Folha de S. Paulo, no início da semana, irritou a Presidência, que avaliou o ato como uma pressão adicional da Força Aérea para fazer valer seus critérios na decisão final e o qualificou como nocivo à "segurança nacional".
"Não acho bom que um relatório da Defesa transcenda ao público. Isso afeta a segurança nacional. Pode não trazer problemas hoje, mas eles podem ser mais visíveis no futuro", afirmou o colaborador de Lula, que teve acesso à versão final.
O novo documento não traz uma hierarquia dos concorrentes, como o anterior. Mas expõe as vantagens dos caças Rafale e F-18 Super Hornet, como os fatos de serem projetos já construídos, testados e birreatores, enquanto os Gripen NG são monorreatores.
Parlamentares que acompanham essa concorrência para a renovação da frota da Força Aérea consideram que o documento final apenas alivia a saia-justa entre a Aeronáutica e a Presidência.
Mesmo que o relatório viesse a apontar o Rafale como a escolha perfeita, as sucessivas tentativas da Aeronáutica de constranger o governo a recuar em sua preferência foram registradas pelo Palácio do Planalto e devem resultar em punição. Em outubro, a cúpula da Aeronáutica apresentou a deputados da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional as razões pelas quais considerava os caças Gripen NG mais apropriados.
O próprio comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, alegara a um parlamentar que o fato de o projeto do caça sueco ainda estar em fase de desenvolvimento aumentaria a chance de absorção de tecnologia pela Embraer. Além disso, Saito reforçara as vantagens dos Gripen NG em termos de custo e de manutenção. O ápice, entretanto, foi o vazamento do relatório anterior, quando a nova versão estava prestes a ser concluída.
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