Confiante em sua velocidade, a lebre despreocupa-se com a corrida e perde para a tartaruga, que, em seu ritmo lento, não parou de caminhar. O desfecho da fábula aflige um aliado do governador José Serra. Para ele, o PSDB está perdendo terreno para o PT. O pré-candidato tucano mantém-se líder das pesquisas, mas a campanha está ausente nos Estados.
Serra ainda não fala em candidatura. Quer governar São Paulo até abril sem enfrentar ataques de setores ligados ao PT. "A inércia tem nos favorecido", diz Jorge Bornhausen, ex-presidente do DEM, interlocutor frequente do governador paulista.
A campanha da ministra Dilma Rousseff ganha visibilidade em viagens e discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na pauta dos dirigentes do PT, em reuniões de líderes do PMDB e em decisões de partidos governistas. Dilma reúne-se semanalmente com um grupo informal de coordenação de campanha.
O PT assume a estratégia. A antecipação da campanha é necessária para tornar a ministra conhecida. Enquanto está no governo, precisa colar sua imagem à de Lula, percorrer o país com ele, ter seu nome cada vez mais em evidência.
Alguns líderes da oposição entendem a lógica de Serra, mas querem ações e unificação de discursos nos Estados. Acham insuficiente notas e ações judiciais. Esperam que o PSDB mobilize aliados logo após o Carnaval. Listam problemas que se acumulam.
Em Pernambuco, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) continua desestimulado a disputar com o governador Eduardo Campos (PSB), aliado do PT, apenas para garantir palanque a Serra. Pemedebistas queixam-se de fragilidade e desarticulação da aliança com PSDB e DEM.
Com agravante: o senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, provável coordenador da campanha de Serra, enfrenta dificuldades pessoais para se reeleger contra a frente governista. Ex-aliado de Miguel Arraes, avô de Campos, Guerra tem bom relacionamento com o governador, que disputa a reeleição. O tucano ganharia a eleição mais facilmente se contasse com o apoio informal de Campos.
No interior, prefeitos do PSDB começam a se declarar neutros na disputa ao governo do Estado, contando, aparentemente, com a compreensão da cúpula tucana. No Ceará, o PSDB procura um candidato competitivo para o governo. O senador Tasso Jereissati rejeita ir para o sacrifício. Sua situação é parecida à de Guerra: tem ligações com o governador Cid Gomes (PSB) e sua reeleição para o Senado seria mais fácil se Cid lançasse apenas um candidato à vaga. Mas PMDB e PT, aliados do governador, têm concorrentes.
No Distrito Federal, o palanque da oposição ruiu. O único governador eleito pelo DEM, José Roberto Arruda, foi abatido num caso de corrupção. Saiu do partido e da disputa eleitoral. No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius (PSDB), mesmo enfraquecida por denúncias, ainda não desistiu de disputar a reeleição, o que atrasa a negociação com o PMDB de José Fogaça.
Em Santa Catarina, onde também o PMDB do governador Luiz Henrique sempre foi parceiro do PSDB e do DEM, o vice-governador, Leonel Pavan, pré-candidato tucano ao governo, foi denunciado pelo Ministério Público à Justiça por suposta corrupção passiva, entre outras coisas.
A oposição prefere comemorar vitórias, como a desistência do governador Aécio Neves (MG) de disputar com Serra a candidatura. Mas tem o desafio de convencê-lo a ser o vice na chapa. As cúpulas de PSDB, DEM e PPS estão empenhadas nisso. Temem que, como candidato ao Senado e interessado em votação consagradora, Aécio faça uma campanha presidencial "light", insuficiente para despejar os votos de Minas na candidatura de Serra.
A aliança em torno de Fernando Gabeira (PV) ao governo do Rio é outra vitória apontada por serristas. Foi o melhor que a oposição conseguiu num Estado eleitoralmente estratégico. Serra terá aliados na chapa, mas, ao menos no primeiro turno, Gabeira apoiará a senadora Marina Silva (PV) para presidente.
Para serristas, os problemas maiores são do PT. Um deles é a escolha do vice de Dilma, que pode causar mais constrangimentos à aliança com o PMDB. Michel Temer é tido, em avaliações feitas por estrategistas do PT, como opção apenas em caso de "eleição fácil". No caso de Aécio ceder às pressões e integrar a chapa de Serra, o mineiro Hélio Costa pode ser mais útil.
A prudência do tucano pode estar certa, a se confirmar análise do historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos. Ele prevê "a campanha mais violenta da história", com troca de acusações e guerra de dossiês, tudo facilitado pelo uso da internet. Por trás, estarão os grupos que sustentam as candidaturas e delas dependem.
Para Villa, apesar da antecipação da campanha da parte de Lula e do PT, a ministra ainda é uma incógnita como candidata. "Dilma terá de começar a caminhar com as próprias pernas", afirma. Por enquanto, ela não se apresentou. É candidata em formação, tartaruga empurrada pelo presidente e pelo PT. Serra observa. Aliados próximos dizem que, ao contrário da lebre, o tucano não está parado. Corre nos bastidores.
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