Muita gente torce o nariz para o programa, considerando-o alienante, fake, inútil e afins. Há, ainda, quem jure de pés juntos que não perde tempo com esse “tipo de coisa”, mas tem na ponta da língua o nome de todos os participantes e as falas das discussões mais acirradas. E, é claro, existem milhões de pessoas que simplesmente encaram o Big Brother Brasil como pura diversão e se jogam na frente do sofá sem medo de serem felizes. Seja qual for a sua opinião sobre o reality show mais famoso do Brasil, é bom saber que o programa tem, sim, utilidade pública.
Em atrações como o BBB, os participantes aprendem a lidar com conflitos, estresse, dificuldades, diferenças, amizades, amor, afeto, sexualidade e outras situações. “Alguns têm habilidades inatas para lidar com as emoções mencionadas e “se dar bem”; outros não conseguem resistir à pressão emocional do jogo. No entanto, de um modo ou de outro, esse é um bom meio para desenvolver atitudes e habilidades diferenciadas”, explica a psicoterapeuta Fortunée Josiane Zagha, de São Paulo. Ao se tornar uma espécie de “pastiche da realidade”, o programa pode ensinar muitas informações úteis aos telespectadores – desenvolver determinadas habilidades, por exemplo. “É como se os concorrentes estivessem trabalhando em um grupo empresarial, vivendo em casa com a família ou então em qualquer grupo que impusesse normas e regras para o desenvolvimento de um projeto em comum. Porém, a diferença é a intensidade, pois no BBB os relacionamentos acontecem em uma velocidade muito maior e mais impactante, pois tem um meio acelerado de exposição que não ocorre na realidade”, comenta Fortunée.
Para a especialista, o programa chama a atenção de todos, cada qual atraído por alguns momentos e personagens, o que é positivo por mostrar modelos de comportamento aceitáveis e inaceitáveis, que podem ser discutidos e utilizados ou apenas rejeitados. “Não devemos esquecer que habilidades acompanham o desenvolvimento de cada pessoa e que situações diversificadas podem ajudar a manifestá-las na realidade. Também não devemos ignorar que cada participante tem personalidade com características diversas e habilidades que podem ou não ajudar o enfrentamento da realidade”, pondera.
Conheça, a seguir, 12 habilidades identificadas nos participantes do BBB e veja como elas são importantes no “mundo real”:
1. COMPAIXÃO
“Esse sentimento agrega a possibilidade de nos colocarmos na posição do outro, de sentirmos as dores e pensarmos no que faríamos para ajudar aquele participante com novas e melhores escolhas naquele momento que, por vezes, é difícil”, comenta Alexandre Bortoletto. Uma cena marcante do BBB10 foi o final da prova de resistência disputada durante 19 horas entre Lia e Elenita, que, até então, eram inimigas declaradas. Lia venceu a prova e se tornou líder, mas por compaixão ao esforço de Elenita, não só a abraçou ao final como ainda não a mandou para o paredão. Sua escolha foi Tessália, sob a justificativa de que a publicitária pouco se importou com ela durante a prova.
2. CAPACIDADE DE LIDAR COM DIFERENÇAS
No BBB, essa habilidade é colocada à prova todos os dias uma vez que seus participantes devem lidar com diversificados tipos sociais, raciais, sexuais, religiosos e comportamentais. Para o público, assistir como Marcelo Dourado e Dicesar (BBB10) procuram se relacionar bem, apesar de terem temperamentos e gostos bem distintos, ajuda a mostrar que aceitar e lidar com o outro, em toda a sua dimensão, só acrescenta à vida em família, no trabalho e entre os amigos. No BBB5, Alan deixou o machismo e os preconceitos de lado e se tornou amigo de Jean Willis. No BBB9, Priscila Pires transitava por todas as panelinhas sem fazer ou levar fofocas e se tornou uma participante querida e inesquecível.
3. INVEJA "DO BEM"
Embora seja um sentimento que facilmente passa do positivo para o negativo, e, portanto, possa aparecer no programa disfarçado de boas intenções, a inveja é algo inerente aos realities shows e está presente no BBB10 na forma de Anamara, a policial que não esconde a “admiração” que sente pela bela cor morena de Lia e pelo bumbum avantajado de Cacau. Sob uma perspectiva positiva, quem inveja pode se esforçar para conquistar aquilo que tanto admira nos outros. “Sabe aquele desejo de possuir o que o outro tem? Que tal transformar esse sentimento em algo que possa impulsionar sua vida para novas conquistas extraordinárias? Você vai se sentir muito melhor”, garante o consultor Alexandre Bortoletto, da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística (SBPNL).
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4. COMPETITIVIDADE
Para a especialista Fortunée Josiane Zagha, a competitividade pode ser construtiva, pois nos mostra como alcançar um objetivo de uma forma justa, digna e sadia. Quem não se lembra da prova de resistência disputada sob sol a pino entre Alemão e Caubói no BBB7? A vitória de um era sinônimo certo do paredão do outro, mas os dois encararam o resultado numa boa, com respeito e sem ressentimentos. Para quem não se lembra, Caubói levou a melhor na prova – mas Alemão saiu consagrado campeão da 7ª edição do programa.
5. LIDERANÇA
Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas, transformando-o numa equipe que gera resultados. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva. No programa aparecem líderes positivos – os que constroem, e negativos – os que destroem. Cadu, do BBB10, vem sendo um ótimo exemplo de bom líder – aliás, conquistou a liderança duas vezes. Soube combinar o desejo de seus amigos com o próprio e mandar o elemento incômodo – Alex, no caso – para o paredão nas duas oportunidades. Na segunda, deu certo, mas nem por isso ele demonstrou arrogância ou superioridade.
6. ESPÍRITO DE EQUIPE
Trabalhar em equipe, gerenciando conflitos e interesses, é um dos fatores essenciais à conquista de objetivos definidos e necessita de motivação e empatia entre seus participantes. O público tem muito a aprender com o BBB nesse quesito, principalmente ao observar as provas entre equipes para conseguir comida ou a imunidade e as compras de alimentos. Há muita gente que se revela egoísta, enquanto outras pessoas se mostram solidárias e preocupadas com a solidariedade.
7. AMBIÇÃO
“A ambição de conquistar valores e pessoas aparece o tempo todo no programa. Pode ser positivo se você esforçar-se para realizar um grande trabalho, o melhor trabalho, motivado pelo simples desejo de se superar (crescimento interior), e de fazer benfeito. Outra coisa, e totalmente diferente, é você trabalhar numa busca desmedida (ambição) de superar os outros e alcançar o sucesso, ou cargos, ou riquezas para sua própria realização”, comenta Fortunée. “No BBB aparecem pessoas ambiciosas que prejudicam e derrubam todos os que estiverem à frente e outros que utilizam a ambição para apenas se superarem e conquistarem objetivos éticos e dignos”, completa. Como bom exemplo, podemos destacar, mais uma vez, o Alemão do BBB7; como mau, Tessália do BBB10. “Até com o time dos vilões o público pode aprender alguma coisa, pois o ser humano aprende por comparação também”, avisa Alexandre. “Quando observamos algo que não achamos certo, procuramos evitar aquela atitude, buscando novas escolhas comportamentais. Repito: aprender é uma constante no ser humano. Sempre estamos aprendendo algo”, destaca.
8. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Saber como reagir emocionalmente e escolher melhor a emoção em determinada situação faz a diferença entre vencer e perder. A inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. É a capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de trabalharmos bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos. “Para termos inteligência emocional adequada precisamos perceber, entender, usar e controlar adequadamente as emoções”, resume a psicoterapeuta Fortunée Zagha, que aponta o ambiente profissional como um campo fértil para desenvolvê-la. No BBB, entre os participantes que mais se destacaram por conta dessa habilidade, estão Grazi Massafera (BBB5), que não ganhou o programa, mas caiu nas graças do público (e da Rede Globo), e Max Porto (BBB9). Ambos tiveram passagens marcadas por simpatia, simplicidade, maturidade e, sobretudo, pouca encrenca com os demais.
9. FLEXIBILIDADE
Sem flexibilidade, é impossível conseguir adaptação. Participantes rígidos costumam ser rapidamente eliminados por não conseguirem respeitar o grupo. Esse é um tópico necessário em qualquer circunstância de vida, o que nos torna sensíveis e motivados em efetivar novas conquistas. No BBB10, Morango, homossexual assumida, não faz de sua escolha uma bandeira incômoda nas conversas com os confinados nem impõe sua presença de maneira agressiva. Sabe conduzir tudo numa boa, sem estresse, e com isso atrai a simpatia do público.
10. RESILIÊNCIA
Resilientes são aqueles que capazes de vencer as dificuldades, os obstáculos, por mais estressantes e traumáticos que sejam. “No BBB isso ocorre o tempo todo por meio dos jogos de equipe e dos relacionamentos do cotidiano”, comenta a psicóloga Fortunée. Sempre é possível encontrarmos no programa – e na vida – a necessidade de controlar emoções e impulsos, de ser empático e eficiente em seus propósitos e ter otimismo, lealdade e honestidade consigo mesmo e com os outros, além de saber administrar as emoções e trabalhar em alto nível de pressão. Bons exemplos de resiliência no BBB foram as atitudes de Kléber Bambam (BBB1) e Dhomini (BBB3), que souberam enfrentar a indiferença e as piadas dos companheiros de confinamento e se tornaram vencedores de suas respectivas edições.
11. FORÇA DE VONTADE
É um estado de excelência, que se manifesta quando sentimos que existe algo dentro de nós, uma força extra que vai além das nossas possibilidades atuais. Nos realities shows isso fica evidente quando o participante supera uma tarefa e/ou prova – e estimula o público a também lutar por seus objetivos e metas. Nesse BBB10, a dentista Fernanda ganhou uma prova dificílima de resistência logo na primeira semana do programa e se tornou alvo de admiração, dentro e fora da casa.
12. CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO
Para o especialista em PNL Alexandre Bortoletto, para exemplificar essa habilidade vale a pena recorrer a uma máxima de Charles Darwin, já citada por Pedro Bial para se referir sutilmente ao participante Marcelo Dourado (BBB10): “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as que respondem melhor à mudança.” Ou seja, as que demonstram capacidade de adaptação.
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