Candidatos da situação, historicamente, arrebanham mais votos nos grotões, independente da ideologia e do partido político ao qual pertençam. Com base nessa constatação, comprovada por meio de gráficos e cruzamento de dados que revelam o comportamento do eleitor, o cientista político, pesquisador de Yale e professor visitante de Princeton, Cesar Zucco, 33, levanta questionamentos sobre um novo aspecto comportamental observado na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, que certamente trará impactos na sucessão deste ano.
"Os eleitores pobres de cidades ricas nunca tinham votado tão maciçamente no candidato do governo como em 2006", afirmou em entrevista exclusiva à Folha, durante passagem pelo Brasil na semana passada.
A mudança da base eleitoral de Lula de 2002 para 2006, com aumento significativo de votos nos grotões, afirma ele, teria acontecido naturalmente, pelo simples fato de o petista ter se tornado governo. Já o percentual significativo de votos nas cidades ricas, entre os pobres, pode ser explicado por conta da penetração do Bolsa Família nesses núcleos subdesenvolvidos das metrópoles. Aí reside a novidade.Zucco não crê na existência de um fenômeno populista, o lulismo: "Não vejo um acúmulo da evolução do PT, de uma ideologia que junta estabilidade fiscal com alívio de pobreza. Acho inclusive que a fidelidade desses votos está para ser determinada. Não há nenhuma base material clara que diga: essas pessoas aqui são petistas hoje e vão continuar sendo amanhã. Acho que não".
Leia trechos da entrevista.
ELEIÇÕES 2002 E 2006
O que houve de mais diferente na eleição de 2006 não foi tanto o sucesso do Lula em cidades pobres, e sim o sucesso do Lula entre os eleitores pobres de cidades ricas.
Todos os partidos que estiveram no governo tendem a ir melhor em lugares pobres. O que não tinha acontecido antes, aparentemente, e essa análise não é definitiva, é que os eleitores pobres de cidades ricas nunca tinham votado tão maciçamente no candidato do governo como em 2006. O Bolsa Família é uma explicação plausível, o principal suspeito.
VOTO DA CLASSE MÉDIA
Se você não consegue atingir ninguém diretamente nas cidades [mais ricas] por falta de uma rede local, você vai tentar atingir com promessas, ou com bens públicos -oferta de segurança, saúde. Sempre são coisas bem gerais, e não específicas, cujo retorno é incerto.
Se o governo consegue o voto do pobre nas cidades grandes e maciçamente o voto nas cidades pobres, sobra a classe média para dividir com a oposição. Acho que a classe média pode sim ser menos relevante.
E a oposição vai ter problemas. Ganhar uma eleição sem levar os pobres é muito difícil. Provavelmente a classe média vai se dividir. Dificilmente haverá uma lavada da oposição na classe média. E, pelo jeito, haverá do governo entre as classes pobres.
CENÁRIO PARA 2010
Acho pouco provável que o governo perca a eleição. Nessas coisas há um certo grau de imprevisibilidade, mas, estruturalmente, tem muito pouca chance de o governo Lula perder, dado o contexto da economia, o contexto social, os resultados de eleições passadas, o retorno do Bolsa Família para o Lula pessoalmente -ainda que ele não transfira todos os votos - e dado que o PT vai ter mais tempo de televisão. Quando você soma tudo isso é um morro acima grande para a oposição.
BOLSA FAMÍLIA E VOTO
O paralelo é a estabilização, com o Plano Real. Parecia que quem resolvesse o problema da inflação seria Deus. E a estabilização rendeu uma reeleição para o Fernando Henrique. E só. Hoje, ninguém mais pensa nisso e diz: "Vou votar no PSDB por causa da estabilização". O outro paralelo é o Vargas. Criou o salário mínimo, sindicatos, o Ministério do Trabalho, uma série de coisas. Até muito recentemente, ao final da ditadura, discutia-se quem seria o herdeiro do legado Vargas.O Bolsa Família encontra qualquer lugar entre uma coisa e outra. Não dá para saber se vai ter um efeito Lula, se vai ter um efeito PT, ou se vão passar para a frente.Folha
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