Em discurso no qual falou de crenças e valores, José Serra também deu indicações de como será um novo ciclo tucano na Presidência da República, caso vença as eleições de outubro. Nas entrelinhas, o pré-candidato praticamente sepultou a hipótese de criar novos impostos, ao dizer que pretende fazer mais e melhor "com os mesmos recursos". A afirmação surpreendeu porque é conhecida a posição favorável do ex-governador de São Paulo ao imposto do cheque, a CPMF, derrubada no final de 2007 pelo Congresso. O tucano também atacou o carro-chefe da campanha governista, mas sem mencionar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em relação à sua primeira tentativa para conquistar a Presidência da República, em 2002, o discurso pronunciado por Serra no último sábado está bem mais solto. Há oito anos, no discurso que fez à convenção do PSDB, o candidato reservou nada menos que dez parágrafos para elogiar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando eram conhecidas suas críticas ao governo tucano. Agora, na oposição, encontrou um ambiente para tratar de todos os temas com desenvoltura.
O tucano, agora em 2010, retomou um tema que consumiu outra página do discurso de 2002: a segurança pública. A exemplo do que ocorreu oito anos atrás, Serra defendeu que a União assuma mais responsabilidades no combate à violência "e não tirar o corpo fora porque a Constituição atribui aos governos estaduais a competência principal nessa área". Segundo Serra, "se tem área em que o Estado não tem o direito de ser mínimo, de se omitir, é a segurança pública".
O raciocínio é o mesmo de 2002: "As bases do crime organizado estão no contrabando de armas e de drogas, cujo combate efetivo cabe às autoridades federais." Há oito anos, Serra propôs a criação de um ministério específico para tratar do assunto, o Ministério da Segurança. Agora, limitou-se a dizer que essa é uma atribuição a ser assumida pelo governo federal.
Serra evitou dois temas clássicos nos discursos dos candidatos: as reformas política e tributária. Em relação a impostos, fez de improviso uma ligeira menção à alta carga tributária (não estava no texto escrito), no trecho em que atacou mais diretamente - outra vez sem citar nomes - um dos ícones da campanha da ministra Dilma Rousseff: a infraestrutura do país.
"Há uma quase unanimidade a respeito das carências da infraestrutura brasileira: no geral, as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos, por onde passam nossas exportações e importações, há muito deixaram de atender as necessidades."
A crítica à deficiência na infraestrutura sustenta o mote "O Brasil pode mais" que Serra havia lançado ao se despedir do governo de São Paulo e repetiu com ainda mais ênfase agora - foi o título de seu discurso. "O PIB brasileiro poderia crescer bem mais se a infraestrutura fosse adequada, se funcionasse de acordo com o tamanho do nosso país, da população e da economia."
Serra citou especificamente o caso da soja produzida hoje em Mato Grosso: o custo de uma tonelada transportada até o porto de Paranaguá (PR), segundo ele, sai mais caro que o transporte da mesma tonelada embarcada naquele porto até a China. "A consequência é menos dinheiro no bolso do produtor, menos investimento e menos riqueza no interior do Brasil", disse. "E sobretudo menos empregos."
Na economia, Serra voltou a criticar o déficit no balanço de pagamentos. "O valor de nossas exportações cresceu muito nesta década, devido à melhora dos preços e da demanda por nossas matérias primas", disse. "Mas vai ter de crescer mais - temos de romper pontos de estrangulamento e atuar de forma mais agressiva na conquista dos mercados." Citou um caso que classificou de "impressionante": nos últimos anos, "mais de 100 acordos de livre comércio foram assinados em todo o mundo. São um instrumento poderoso de abertura de mercados - pois o Brasil, junto com o Mercosul, assinou apenas um novo acordo (com Israel), que ainda não entrou em vigência".
Além do PAC, ao referir-se aos problemas da infraestrutura, Serra fez críticas a duas outras áreas específicas: educação e saúde. "É preciso prestar atenção num retrocesso grave dos últimos anos: a estagnação da escolaridade entre os adolescentes", disse. "A saúde estagnou ou avançou muito pouco - mas pode avançar muito mais e nós sabemos como fazer isso acontecer."
Serra homenageou o pai, comerciante de frutas no mercado municipal, que não tirava férias porque isso deixaria a família sem dinheiro de subsistência. "Seu exemplo me marcou na vida e na compreensão do que significa o amor familiar de um trabalhador: ele carregava caixa de frutas para que um dia eu pudesse carregar caixas de livros."
Caros do Blog,
ResponderExcluirLeiam mais um capítulo da série A Idade das Trevas, no blog http://terragoyazes.zip.net. No ar e na rede: Daniel Dantas como modelo de empreendedorismo e de como os oligarcas tucanos saquearam o Estado!