O negócio, agora, é a classe média

Nos últimos seis anos, pelo menos 30 milhões de pessoas emergiram para a classe média - quase três vezes a população de Portugal. De olho nesse público, favorecido pela maior oferta de emprego, pela renda em alta e pelo crédito farto, o estilista e empresário Ricardo Almeida decidiu ampliar seu foco de atuação. Já não olha mais apenas para a elite, que, nas últimas três décadas, lhe garantiu o sucesso. Aos 55 anos, o responsável pelos ternos do presidente Lula tem planos ambiciosos. Pretende aumentar as atuais oito lojas para 30 até 2014, oferecendo produtos mais acessíveis. E a justificativa é clara: "Se eu não fizesse a expansão que estou fazendo agora do meu negócio, teria problemas sérios daqui a cinco anos. O Brasil é a bola da vez e será invadido por todas as maiores marcas internacionais". Para seduzir a nova clientela, ele reduziu o preços do terno mais barato, de R$ 3,4 mil para R$ 1,9 mil, que está sendo financiado a prestações que, a seu ver, cabem perfeitamente no orçamento de profissionais liberais. A primeira coleção, da linha Office, a valores mais acessíveis, já lhe garantiu aumento de 40% nas vendas somente em abril. É esse salto que o incentiva a investir até R$ 500 mil em cada uma das novas lojas. A maior parte do dinheiro está saindo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES), a juros "não tão altos". Ele também está levantando uma fábrica em São Paulo, convencido de que nada mudará na economia seja quem for o vencedor das próximas eleições presidenciais. "O futuro presidente fará como Lula, manterá tudo de bom que foi conquistado nos últimos anos", diz. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que Almeida concedeu ao Correio Braziliense.

Ponto a ponto Ricardo almeida

Estilista das estrelas da tevê e do presidente Lula expandirá de oito para 30 a sua rede de lojas


Consumidor

Pretendo abrir de 20 a 30 lojas no Brasil em um prazo de quatros anos. Até dezembro deste ano, estaremos com 10 estabelecimentos. Em 2011, abriremos cinco, e, em 2012, mais cinco. Essas lojas terão preços mais competitivos. Não adianta ter roupas com valores médios de R$ 500, R$ 600, pois essa não é a realidade do Brasil. Estou em São Paulo, onde a situação econômica é diferente da que vemos na maior parte do país, como também é em Brasília e no Rio de Janeiro. Nos demais estados, que não estão acostumados com produtos tão caros, vão achar que a minha marca está querendo explorar. A minha maior preocupação é ter preços competitivos e atrair o maior número possível de consumidores para os meus produtos.

Estilo casual

Chamo de preços competitivos ternos a R$ 1,9 mil e calças custando entre R$ 300 e R$ 400. Mas não vamos vender só roupa social. Na realidade, na linha Office entrará um estilo mais casual, com roupas para serem usadas no trabalho, por profissionais liberais. Agora, os sapatos e os jeans continuarão na linha tradicional Ricardo Almeida, nada muito barato, para não perder a qualidade. Não quero isso. No caso das camisas, mesmo com preços menores, eu não perco na qualidade e ainda mantemos a nossa modelagem, que é bem diferenciada das demais e está dentro de um perfil de corte mais moderno.

Internacional

Estou produzindo camisetas polo no Peru. Elas vão custar R$ 156 ou US$ 80, que é o preço de uma Lacoste fora do Brasil. Ou seja, eu vou ter uma camisa com preço estrangeiro, que sairá mais barato para os brasileiros. Isso é para evitar aquele negócio de "ah, vamos comprar lá fora, que é mais barato". Vou ter gravatas a R$ 148. Isso dá uns US$ 70, um bom preço. Estou muito empenhado em oferecer produtos a preços mais acessíveis. Senão, por que abrir tantas lojas? Quero ter escala, produzir em qualquer lugar do mundo. E quanto maior for a minha produção, maior será o meu poder de barganha com as fábricas para reduzir custos e repassar essa economia aos consumidores.

Imagem

Não tenho a preocupação em vender produtos a preços mais acessíveis, para um público que hoje não compra meus produtos. A minha grife sempre foi a 'Ferrari' dos tecidos. Sempre lido com os mais caros italianos. Mas, se quero abrir lojas em todo o Brasil, não posso ter uma 'Ferrari' em Recife, uma em Belo Horizonte, porque não tenho mercado para isso. Tenho que ter produtos para outras faixas de público. Todas as marcas mundiais fazem isso: George Armani, Polo Ralph Lauren, Hugo Boss. Mas também com as roupas mais caras, de qualidade superior ao que se encontra no mercado. A questão é a matéria-prima. Se eu tiver matéria-prima mais acessível, o produto final ficará mais acessível.

Crédito

Estou comprando tecidos mais baratos na Índia, no Peru, no Egito. Mas terei bons produtos, com boa qualidade, para competir tanto com os nacionais quanto com os estrangeiros. As pessoas poderão comprar um carro que não tem o preço de uma 'Ferrari'. Vamos permitir que muita gente que nunca usou a nossa marca possa fazê-lo, sem um grande desembolso. Não podemos esquecer que os clientes poderão pagar as roupas a prazo. São muitas das facilidades de financiamento.

Competição

Com os preços que vou praticar nas novas lojas, com uma camisa custando, em média, R$ 200, terei condições de brigar com as marcas de produtos nacionais. Antes, minha disputa era somente com os importados. É isso que me dará condições de montar lojas no Brasil inteiro. Meu volume de produção aumentará até 30 vezes. Venderei, inclusive, no atacado.

BNDES

Estou pegando recursos no BNDES para a construção de uma nova fábrica, em São Paulo, e para as novas lojas. Como o custo do dinheiro não está mais tão caro, compensa, para quem está investindo, tomar financiamento e ampliar seu negócio. Mas também vamos buscar parceiros em várias capitais.

No exterior

Por enquanto, não tenho pretensão de abrir lojas fora do país. Neste momento, o meu foco é o Brasil, que está registrando um crescimento econômico espetacular, puxado pelo emprego e pela renda, com controle da inflação. O Brasil é o país do momento, dará banho em qualquer outro país lá fora. Portanto, o melhor que tenho a fazer é investir mais aqui e não lá fora. Essa será a minha posição pelos próximos 10 anos. Mas não descarto a chance de internacionalizar a minha marca.

Lula

Quando Lula assumiu a Presidência da República, deu continuidade a tudo de legal que os governos anteriores tinham feito. E tenho certeza que o próximo presidente aproveitará tudo o que foi feito de bom nos oito anos de Lula. Não acredito que jogará tudo fora. O Brasil é a bola da vez. Se eu não fizesse a expansão que estou fazendo agora dos meus negócios, teria problemas sérios daqui a cinco anos, porque todas as marcas invadirão o país, com preços muito competitivos e com a imagem superconsolidada lá fora. Então, estou me preparando para brigar com todos os produtos estrangeiros, com o know-how que eu tenho e a cabeça brasileira. Se eu ficasse com três lojas a vida toda, não poderia produzir em nenhum lugar do mundo, porque não teria escala para barganhar preço.

O Brasil é a bola da vez. Se eu não fizesse a expansão que estou fazendo agora dos meus negócios, teria problemas sérios daqui a cinco anos"

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