A necessidade de crédito está obrigando o brasileiro a se planejar. Para não ser expulso do paraíso do consumo, a maioria está honrando seus compromissos em dia. A inadimplência, segundo dados do Banco Central, fechou no patamar de 5,7% em 2010 — o menor desde junho de 2001, quando o calote havia alcançado 5,5% de todas as operações realizadas pelas famílias. A queda dos juros, de 2,1% no último ano, também favoreceu a quitação das dívidas, aliviando um pouco o bolso.
Para Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, o percentual está em um bom nível, mas, no decorrer de 2011, deve voltar a subir. Carlos Thadeu de Freitas, ex-BC e atualmente economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), concorda com a opinião de Lopes. “Não será nada alarmante, só um movimento natural. Os dados de 2010, de queda na inadimplência, mostram que o brasileiro está preocupado em manter o nome limpo para não deixar de comprar”, pondera Freitas.
Os números do Banco Central apontam também maior atenção ao uso do crédito. As modalidades mais caras estão perdendo clientes para as mais baratas. Enquanto o consignado avançou 24,7% no ano passado, principalmente entre os trabalhadores da iniciativa privada — em que houve incremento de 33,3% no período — o uso do cheque especial cresceu apenas 3% e, em dezembro, caiu 8,5% em relação ao mês anterior. “Há um melhor entendimento das famílias sobre as opções de crédito. Gradualmente, temos notado uma migração dos mais caros para os mais baratos”, constata Lopes.
Nos últimos anos, a entrada de mais de 30 milhões de brasileiros no mercado consumidor e na pujante classe média tornou-se motivo de preocupação para os órgãos reguladores do sistema financeiro. Antes vivendo à margem do crédito, de uma hora para outra passaram a ter acesso a diversas opções de financiamentos, algumas perigosas como o cartão de crédito e o rotativo do plástico, conhecido também como pagamento mínimo e que chega a cobrar 300% de juros ao ano. Com isso, o governo se viu obrigado a aumentar o controle sobre o setor e o brasileiro, aos poucos, vem aprendendo a organizar seus gastos.
“Houve uma evolução nesse sentido de planejar, mas sempre houve também dificuldade de controle orçamentário. Muita gente foi apresentada recentemente a esse mercado e perdeu o controle com tantas opções. Mas há 10 anos isso era mais grave”, avalia Miguel de Oliveira, economista-chefe da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac). Para ele, não existe uma farra do crédito no Brasil. Comparada a outros países, a relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB) é pequena. “Ainda existem milhões de brasileiros fora do mercado de crédito”, afirma Oliveira.
Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank, discorda da tese do economista da Anefac. Segundo ele, se for excluído o financiamento imobiliário — que realmente tem uma base de comparação muito baixa (representa apenas, 3,8% do PIB) —, o volume de crédito no país pode ser considerado bem expressivo. “Fica semelhante a outros países. Podia ser melhor, mas vai continuar a crescer”, argumenta Serrano.
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