Aliados de Serra brigam na Assembléia

Com uma base de sustentação de 70 dos 94 parlamentares na Assembléia Legislativa de São Paulo, o governo José Serra (PSDB) tem experimentado nos últimos dias o lado amargo dessa ampla maioria. A partilha das comissões permanentes da Casa entre os governistas incendiou a base e pôs em pé de guerra duas legendas da coalizão que apóia Serra no Legislativo - DEM e PV.

Com a fatura em mãos e conscientes do seu poder de fogo, os dois partidos cobram do governo tucano o mesmo pagamento: a presidência da Comissão de Transportes e Comunicações, considerada a mina de ouro da Assembléia. DEM e PV têm as duas maiores bancadas depois do PSDB e do PT. O resultado dessa queda-de-braço deve sair na próxima semana.

A comissão é disputada porque analisa contratos milionários, como as concessões de rodovias paulistas e do metrô. O colegiado também é cobiçado porque tem direito a duas cadeiras no conselho da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), que fiscaliza os contratos das concessionárias de estradas.

São 23 as comissões permanentes na Assembléia. Divididas por temas, elas examinam todo projeto de lei que tramita pela Casa antes de sua votação. São formadas por grupo de 9 a 11 deputados. Entretanto, umas têm mais visibilidade ou são mais importantes que outras. A repartição das comissões entre os dez aliados (PSDB, PV, DEM, PTB, PPS, PR, PP, PMDB, PDT e PSB) faz parte das negociações de Serra para obter a maioria no Legislativo.

ATRASO

A demora na composição desse tabuleiro, no entanto, é um reflexo de que a acomodação não está sendo fácil. Após dois meses de legislatura, um terço das 23 comissões está parado, à espera da definição de seus integrantes. São elas: Transportes e Comunicações, Agricultura e Pecuária, Saúde, Assuntos Internacionais, Economia e Planejamento, Fiscalização e Controle e Redação.

O presidente da Assembléia, Vaz de Lima (PSDB), minimizou as complicações na base tucana. “Não há briga nenhuma. Isso é comum no processo de definição dos representantes para as comissões da Casa”, afirmou. Os líderes do PV, deputada estadual Rita Passos, e do DEM, Estevam Galvão, não comentaram o assunto.

A confusão no ninho governista não chegou ao plenário. Até agora, o governo teve o apoio dos aliados em todas as votações de interesse do governo e, na próxima semana, vai precisar mais do que nunca da aliança para aprovar a reforma da previdência paulista.

Os colegiados definidos até ontem são 15. O PSDB tem a presidência de quatro, entre elas as duas mais nobres (Finanças e Orçamento e de Constituição e Justiça). Ao PT foi entregue também quatro comissões, mas de papel secundário. O DEM está, por enquanto, com dois colegiados, de pouca visibilidade. PV, PPS, PSB, PTB, PR e PMDB têm uma cada um.

AJUDA DO INIMIGO

Nem com o PT, principal oposição na Casa, o governo teve tantos problemas como em sua base. Pelo contrário. Na semana passada, a ajuda para apagar um incêndio entre seus aliados veio do inimigo.

Depois de garantir aos petistas a vice-presidência da Comissão de Segurança Pública, o PSDB pediu de volta o cargo. Precisava acalmar os ânimos do DEM, parceiro dos tucanos no Estado há três administrações. O deputado estadual Gil Arantes (DEM) tomou posse anteontem. Em troca, os tucanos deram ao PT a Comissão de Direitos Humanos.

Vários outros focos de incêndio foram apagados neste mês. Na Comissão de Meio Ambiente, o governo se viu em meio a um fogo cruzado entre PV e PSB. Quem acabou levando a melhor foi o PV, que ficou com a presidência do grupo - uma das promessas de Serra em troca do apoio do partido na Assembléia.

Nessa negociação também foi garantida ao partido a Comissão de Transportes e Comunicações, por isso a queixa do outro aliado, o DEM, que presidiu o colegiado nos dois últimos anos e pressiona para continuar no comando.

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