BNDES terá juro menor para empresas com projetos de inovação

O cenário de maior crescimento da economia brasileira não será suficiente para elevar os gastos das empresas em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O país precisa, de fato, criar um consenso de que sem adotar a inovação como foco de sua estratégia de inserção no mercado internacional, perderá oportunidades importantes, como as que estão colocadas na área de software (serviços de tecnologia da informação) e etanol, entre outros. E se perder essas oportunidades, perderá espaço como fornecedor mundial de bens e serviços. Essa foi a conclusão da quinta sessão de debates do XIX Fórum Nacional, organizado pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae).

O reconhecimento de que o Brasil precisa, com urgência, desse foco na inovação, veio de próprios membros do governo que participaram da sessão de debates. E eles mesmos fizeram propostas para superar a dispersão de esforços nessa área e o baixo volume de recursos públicos nela alocados. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que o banco deve, em breve, reduzir as taxas de juros cobradas de empresas que desenvolvem projetos inovadores, e a equipe do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) defendeu a formação de um fundo público para apoiar projetos de inovação com juro zero.

"Sustentar a liderança que temos hoje em alguns setores exige um esforço contínuo em inovação mesmo naqueles segmentos onde já somos ganhadores", defendeu Coutinho. O país, disse ele, precisa de um esforço conjunto, que reúna e concentre ações espalhadas em várias áreas e ministérios, e precisa também ampliar sua agenda nessa área. A política de inovação, avalia, precisa ter caráter setorial, regional e também patrimonial, pois em muitos setores a escala será fundamental para garantir o aumento dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Além de juros menores, o BNDES estuda alterar a forma de conceder financiamento para inovação. Em vez de exigir garantias reais, o banco pode "quebrar paradigmas" e buscar outras formas pelas quais os tomadores de financiamentos para inovação possam dar alguma segurança ao banco.

O diretor do Ipea, João Alberto Negri, defendeu a tese de que investimento em inovação, posteriormente, se transforma em investimento produtivo e mais crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, a pesquisa que vem sendo feita e atualizada pelo Ipea há oito anos (e que reúne um banco de dados de 24 mil indústrias com mais de 30 empregados e que representam 85% do valor adicionado da indústria brasileira) indica que as empresas que investem em inovação, também investem 17% mais que as demais e crescem 21% mais que a média.

O Ipea elaborou um programa para que o conjunto de 5 mil empresas industriais que já inovam possam aumentar seus gastos em P& D de 0,6% do faturamento para 1,5% no médio prazo. Para chegar a isso, é preciso formar um fundo com R$ 1 bilhão extra por ano, durante oito anos. Essa proposta deve entrar no que vem sendo chamado de PAC da Inovação, cuja elaboração está cargo do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. "A idéia é que esse fundo opere com juro zero", defendeu Negri.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software (Brasscom), Antônio Gil, disse que o Brasil está diante de uma grande oportunidade na área de serviços de informação. No mundo, disse, o volume de negócio nesta área é de US$ 1,2 trilhão, dos quais US$ 40 bilhões são feitos fora do país que usa o serviço. Desses US$ 40 bilhões, US$ 28 bilhões são feitos na Índia. Esse valor vai crescer até US$ 200 bilhões a médio prazo e o Brasil tem condições de ganhar parte desse incremento de negócios. Entre as medidas que podem ajudar o país a não "perder esta oportunidade", está a necessidade de formar mão-de-obra e desoneração de impostos, para tornar o custo brasileiro mais competitivo.

A favor do Brasil, disse ele, existe o mercado consumidor, há conhecimento (votação eletrônica, entrega de imposto de renda e automação bancária são exemplos) e o fuso horário (requisito que atrapalha a Índia, que está a 11 horas de "distância" de Nova York).

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