Operação é similar à do PT, diz procurador


O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, disse ontem que o esquema do valerioduto mineiro do PSDB é semelhante, mas não idêntico ao mensalão nacional do PT -ocorrido entre 2003 e 2005, e cuja denúncia foi aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em quase sua totalidade. Defendeu seu trabalho: "Eu faço denúncia sobre fatos".
"Os fatos não são exatamente iguais. O procedimento que se adotou para fazer o desvio do dinheiro é o mesmo, mas com objetivos diferentes. Do ponto de vista do Ministério Público, isso não importa. O que importa é que os fatos sejam apreciados pelo Judiciário e recebidos. [Os desvios de dinheiro] são tão claros lá [no caso nacional] como aqui [Minas]. Só que aqui só há recursos públicos", disse.
Convencido de que pelo menos R$ 3,5 milhões em recursos públicos foram desviados para a campanha de reeleição do hoje senador Eduardo Azeredo (PSDB) em 1998, o procurador-geral negou sentir qualquer tipo de constrangimento por denunciar o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais). "O problema não é meu. Eu faço a denúncia sobre fatos, que é um dever meu. As conseqüências são as da lei".
Ele disse que Mares Guia foi denunciado ao STF porque participou do esquema de desvio de dinheiro público. Em entrevista ontem à imprensa, Antonio Fernando evitou comentar detalhes da denúncia, apresentada na véspera ao STF.
Questionado sobre as razões que o levaram a acusar formalmente Walfrido à Justiça, respondeu: "O ministro está aí denunciado como co-autor porque participou dos atos que engendraram esse esquema de desvio de dinheiro".
Ao encerrar a introdução da denúncia de 89 páginas, Antonio Fernando registra que, no documento, irá "descrever os delitos que tiveram o comprovado envolvimento do senador da República Eduardo Azeredo e do ministro de Estado Walfrido dos Mares Guia". Na lista dos 15 denunciados, pesa contra Walfrido e Azeredo a acusação da prática dos crimes de peculato e lavagem de dinheiro.
Ele também negou ter informado previamente ao ministro de que iria denunciá-lo. "O ministro Mares Guia só esteve lá [na Procuradoria] pedindo a oportunidade para apresentar uma manifestação escrita, que foi apresentada no final de setembro. Recebi e apreciei".
Para Antonio Fernando, existem "todos os elementos para [que o STF] aceite" a denúncia. "Eu só formulo acusações quando estou convencido". Segundo ele, haverá desdobramentos decorrentes da investigação sobre os desvios ocorridos em Minas. Parte deles vai se dar em torno de uma lista, elaborada pelo também denunciado Claudio Mourão, com as fontes de pagamento e os beneficiários do dinheiro desviado para a campanha de Azeredo. Mourão era o tesoureiro da campanha em 1998.

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