O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), gastou o primeiro ano de mandato para fazer aquilo que aliados e oposicionistas chamaram de "arrumação de casa". Eleito no primeiro turno para suceder o então governador e também candidato Lúcio Alcântara (PSDB), Cid dedicou seus primeiros 365 dias à elaboração de um programa de governo detalhado, algo que não tinha feito ainda.
Sem ter um planejamento em mãos, Cid preferiu reter os investimentos e contratar novos empréstimos com bancos de fomento para conseguir executar suas ações futuras. Enquanto em 2006 foram investidos mais de R$ 700 milhões, neste ano o volume aplicado não deve chegar a R$ 500 milhões.
Por outro lado, os cofres ficaram mais gordos. Além dessa economia, o governo do Ceará obteve empréstimos com o Banco Mundial e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento de cerca de US$ 700 milhões.
Com o caixa cheio, Cid quer pôr em ação em 2008 os programas de Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários (MAPP), uma versão estadual do Programa de Aceleração do Crescimento federal.
Depois de uma série de discussões de julho a setembro, só em outubro, o governo começou a lançar os MAPPs. Até agora são três: saúde, segurança pública e infra-estrutura. O mais robusto é o dedicado a estradas, metrô e trem, com R$ 5,3 bilhões, sendo que a maior fatia dos recursos irá para a construção de novas vias no Ceará. Outra grande expectativa é o Metrofor, o metrô de Fortaleza.
Mas a grande promessa de governo reside no MAPP da segurança, principalmente no Ronda no Quarteirão, um programa que fez parte da campanha eleitoral de Cid. A idéia é colocar viaturas e motos policiais rondando cada três quilômetros quadrados de todas as cidades com mais de 50 mil habitantes.
Essa é a única ação mais concreta que o governo Cid começou a implementar neste ano. Em dezembro, as cidades de Fortaleza, Maracanaú e Caucaia começaram a ser vigiadas pelo novo sistema.
A vitrine de Cid, entretanto, já é atacada pela oposição, formada por apenas dois dos 46 deputados da Assembléia Legislativa. Isso por causa do carro escolhido para o Ronda no Quarteirão: um Hilux, da Toyota, que custou cerca de R$ 150 mil. Ao todo, foram comprados 200 veículos.
"Foi uma demonstração de falta de bom-senso e de parcimônia. Se vai dar certo ou não, não sei. Só sei que o governador deixou de investir no principal: os homens", afirma Adahil Barreto (PR), deputado estadual da oposição.
Para os aliados, entretanto, os veículos são uma parte importante do programa. "Não dá para correr atrás de bandido sem se ter um bom carro", diz Nelson Martins (PT), líder do governo na Assembléia. Contou também para a troca dos veículos a imagem que carros modernos iam causar à população.
No campo econômico, Cid obteve uma derrota e uma vitória neste primeiro ano. Promessa de campanha do governador, a tão esperada siderúrgica Ceará Steel deixará de ser implantada por causa de desentendimentos com a Petrobras em relação ao preço do gás, fonte energética do empreendimento.
Mas, em uma articulação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cid conseguiu viabilizar um outro empreendimento para o Estado, a Companhia Siderúrgica de Pecém, com a Vale e a sul-coreana Dongkuk como acionistas. Porém sem a Danielli, que forneceria os equipamentos do projeto anterior.
O novo empreendimento, orçado em US$ 2 bilhões, é maior do que o anterior, mas oposicionistas - e até mesmo aliados - entendem que é como se tudo estivesse começando da estaca zero outra vez. "No passado, também já assistimos à assinatura do memorando de intenções da Ceará Steel. Quem garante que desta vez será diferente?", indaga Heitor Ferrer (PDT), deputado estadual da oposição.
Entre os governistas, o medo reside justamente na nova matriz energética do projeto, mais poluidora. "Será que isso não trará problemas? Muitos questionamentos ainda surgirão. Realmente não há certeza de que o Ceará terá sua siderúrgica", diz um aliado.
Além da sua própria robustez, a siderúrgica seria importante para desenvolver um novo setor no Ceará, o metal-mecânico, impulsionando a indústria do Estado. Tradicional pólo têxtil, o Ceará tem amargado com a valorização do real. Além disso, as atividades ligadas ao refino de petróleo estão em baixa.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, de janeiro a outubro deste ano, a produção industrial no Ceará ficou estável em relação a igual período de 2006. É o pior desempenho entre os três Estados pesquisados pelo IBGE: Pernambuco, Bahia e o próprio Ceará. A média nacional foi de 5,9%.
Cid, porém, sabe que colocar tanto seus planos da área econômica quanto os MAPPs agora ficará mais difícil. Isso por causa da queda da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O governador tem dito acreditar que os Estados e as prefeituras serão os mais prejudicados com o fim do imposto. Para ele, recursos do Programa de Aceleração do Crescimento, que ajudarão vários projetos dos MAPPs a sair do papel, poderão ficar comprometidos.
Outro desafio que Cid terá pela frente são as eleições municipais. O governador vem manifestando seu apoio à prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), que deu suporte a ele. Entretanto, além de a candidata à reeleição estar apresentando baixo desempenho nas pesquisas, Cid ainda poderá contar com um grande cabo eleitoral do Estado em outro palanque. Ciro Gomes (PSB), seu irmão, vem dizendo que não poderá negar apoio à mãe de seus filhos, Patrícia Saboya, que saiu do PSB e se filiou ao PDT justamente para disputar a prefeitura
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