O ano dos fundos de ações


Os investidores que aplicaram em fundos de ações têm muito mais a comemorar neste fim de ano. Especialmente os de carteiras Petrobras e Vale, que ganharam mais de 80%. E, se as projeções dos analistas de bolsa para o ano que vem se confirmarem, é bom reservar o champanhe extra pois a festa deve se prolongar em 2008, não com o mesmo ímpeto, mas ainda acima da renda fixa. Por isso, a expectativa é de que o movimento de diversificação, que se consolidou ao longo de 2007, com a sangria nos fundos de renda fixa e DI e a forte captação dos multimercados e ações, continue no próximo.

A explicação para a forte captação dos fundos de ações, mais de R$ 22 bilhões neste ano, está na rentabilidade muito superior à dos fundos de renda fixa. Enquanto a média das carteiras de ações (incluindo aí as de Vale e Petrobras abertas para aplicações) estava em 41,96%, os renda fixa acumulavam 11,75% e os DI, 11,38%, segundo dados do site Fortuna. "A diferença entre os fundos de ações e DI e renda fixa é a maior desde 2003, ano da grande recuperação da bolsa", afirma Marcelo D"Agosto, sócio do Fortuna. Se for considerado o ganho dos fundos Vale, de 84,20% até dia 21, e Petrobras, de 83,38%, a comparação vira covardia. Em 2003, o ganho médio dos fundos de ações foi de 76%, para 24,5% dos DIs e renda fixa.

Além disso, DIs e renda fixa tiveram este ano uma das menores rentabilidades da história, acompanhando a queda dos juros. Os 24,5% de 2003, por exemplo, ainda eram um ganho que atraía o investidor, lembra D"Agosto. "E com a queda dos juros, muitos fundos renda fixa e DI de varejo passaram a render menos que a poupança por conta das taxas de administração cobradas pelos gestores e pelo imposto de renda", completa.

D"Agosto cita um estudo feito pelo Fortuna apenas com essas carteiras de varejo. No ano, os DIs e renda fixa para pequenos investidores tiveram um resgate líquido de R$ 35 bilhões, encerrando o dia 22 com um patrimônio total de R$ 213 bilhões. Considerando os números gerais das duas carteiras, que somados equivalem a resgates líquidos de R$ 24 bilhões no ano, isso significa que os grandes investidores e empresas compensaram em parte os saques do varejo com aplicações líquidas de cerca de R$ 11 bilhões.

"Tivemos muitas ofertas públicas de ações neste ano e grande parte do dinheiro arrecadado pelas empresas e pelos sócios foi aplicada em fundos exclusivos de renda fixa", afirma D"Agosto. Parte do dinheiro do varejo que deixou a renda fixa, acredita ele, distribuiu-se entre fundos de ações e caderneta de poupança. "Muitos fundos de varejo DI já estão rendendo menos que as cadernetas", afirma D"Agosto.

Isso explica também a grande procura por fundos Vale e Petrobras, uma vez que as carteiras acabam atraindo os investidores de varejo por sua rentabilidade passada e por serem mais simples de entender. No ano, os fundos da Vale abertos para captação acumulam depósitos líquidos de R$ 5,3 bilhões e os da Petrobras, R$ 1,7 bilhão. "É um número expressivo mesmo considerando a captação total dos fundos neste ano, de R$ 76 bilhões, incluindo os exclusivos que não informam ao mercado", afirma D"Agosto.

Para 2008, a expectativa é de que os fundos Petrobras e Vale não repitam o mesmo desempenho deste ano, apesar das projeções dos analistas seguirem otimistas. O mais provável, acredita D"Agosto, é que o investidor procure diversificar um pouco o risco. "Podemos ver gente sacando de fundos Petrobras e Vale e aplicando em fundos ativos ou nos fundos PIBB do BNDES, que reproduzem a carteira do Índice Brasil (IBrX-50)", diz.

Nos fundos de renda fixa e DI, D"Agosto diz que o cenário vai depender de os bancos oferecerem para o varejo opções mais rentáveis, com peso menor de taxas de administração. "Da forma como estão hoje, rendendo menos que a poupança, esses fundos vão continuar diminuindo", diz. Já no segmento de atacado, muitas empresas e pessoas que aplicaram os recursos das ofertas públicas podem encontrar oportunidades de investimento, o que levaria a saques das carteiras exclusivas.

A tendência de diversificação e aplicação em fundos de ações e multimercados pode ter uma pausa no primeiro trimestre, por conta das incertezas com o cenário externo e a turbulência do mercado local e internacional, afirma Roseli Machado, responsável pela Fator Administração de Recursos (FAR). Mas a expectativa para Petrobras e Vale continua boa. "O petróleo tende a ficar próximo dos US$ 100 o barril e o preço do minério continua pressionado, com expectativa de alta não só em 2008 como nos anos seguintes", afirma. A turbulência também favorece Petrobras e Vale pois são papéis mais líquidos, preferidos pelos estrangeiros, pois podem ser vendidos com maior facilidade.

Até março, vai ser possível ver com mais clareza o impacto da crise das hipotecas de alto risco (subprime) nos bancos e na economia americana e se vai haver recessão nos Estados Unidos. Apesar disso, Roseli trabalha com um cenário positivo, com o Ibovespa atingindo 82 mil pontos, um ganho de 30% que deve se consolidar no segundo semestre.

Vale deve continuar com bom desempenho em 2008 e nos próximos anos, com demanda crescente da China e outros emergentes, diz Pedro Galdi, analista da corretora do Banco Real. "Não dá para prever 80% como neste ano, mas 35% a 50% já é um nível bom", diz. Quanto a Petrobras, Galdi se diz cético no curto prazo pelas dificuldades da empresa em atingir as metas de produção. "Mas Petrobras é Petrobras e, no longo prazo, achamos que tem mais coisas para ser anunciadas, a exemplo do campo de Tupi." Galdi trabalha com uma projeção para o Ibovespa em 2008 de 73 mil pontos. "Mas estamos revisando esse número para cima."

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