A Cia. Energética do Estado de São Paulo (Cesp), com privatização prevista para o primeiro trimestre de 2008, está longe de ser um ativo qualquer do setor elétrico. Um verdadeiro mico alguns anos atrás, quando estava afundada em dívidas, a empresa foi saneada e tem capacidade para gerar sozinha mais energia do que as duas hidrelétricas projetadas para o rio Madeira. As seis usinas da Cesp têm capacidade instalada de 7,46 mil megawatts (MW). As hidrelétricas de Santo Antônio, recém licitada, e Jirau, terão 6,45 mil megawatts.
Depois que o Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização (PED) aprovou na sexta-feira a privatização da empresa, dissipando dúvidas que ainda existiam sobre os reais planos do governo paulista, analistas e investidores voltaram de vez sua atenção para o potencial da companhia num cenário futuro de escassez de energia. Ontem, as ações da empresa dispararam. Os papéis PNB (mais líquidos) subiram 15,21% e as ações ON tiveram forte valorização de 26,62%, à medida que os investidores ajustavam os preços de acordo com a expectativa de preço mínimo no leilão.
Além da sua enorme capacidade de geração - quarta maior do país em potência instalada e terceira em energia produzida -, um ponto em especial passou a chamar a atenção do mercado financeiro. A empresa já contratou a venda de toda a energia que produzirá até 2012. Mas o que poderia ser considerado um fator de segurança, limita o seu faturamento.
A empresa fechou contratos no leilão de energia velha de 2004 e estima-se que o preço médio seja de R$ 70 o megawatt-hora (MWh). No leilão de energia velha mais recente, no entanto, o MWh saiu a R$ 109, enquanto no mercado livre o preço está na faixa de R$ 130 a R$ 140. Ou seja, a Cesp deve ter um salto expressivo de receita a partir de 2013, com novos contratos. E esse fator só a torna mais atrativa.
Esse salto esperado na receita ainda não está totalmente computado no preço atual do papel. Neste ano, a sua receita bruta deve ser de R$ 2,6 bilhões. Em um relatório da Merrill Lynch, o analista Felipe Leal afirma que o seu preço alvo de R$ 45 para a ação PNB incorpora um MWh de R$ 110. "Nós estimamos que cada R$ 5/MWh a mais no preço de energia aumenta a avaliação de Cesp em 4%", escreve ele.
Outro fator ainda não incorporado às cotações e que é um grande atrativo para o comprador são os créditos fiscais acumulados em função de prejuízos passados. Estima-se algo como R$ 2 bilhões.
Nos últimos dois anos a empresa promoveu uma grande reestruturação financeira. Seu endividamento, que estava na casa de 9 vezes a geração de caixa caiu para cerca de 5 vezes. E a meta para 2008 é chegar a um índice de 3,5. Todo o caixa livre tem sido destinado ao abatimento dos débitos.
Os esforços para reestruturar as finanças da Cesp, já com vistas à privatização, ainda no governo de Geraldo Alckmin, incluíram uma emissão de debêntures, uma oferta primária de ações e uma capitalização do governo com recursos da venda da Ceteep. O pacote total, entre capitalização e alongamento de dívida, foi de R$ 5 bilhões.
Muito tem se especulado sobre a data e o preço mínimo do leilão. O comunicado divulgado pela Cesp na sexta-feira fala em privatização no primeiro trimestre. Mas o Valor apurou que o cronograma com que o governo trabalha atualmente prevê a venda em fevereiro. Quanto ao preço mínimo, o Banco Fator, contratado para fazer a avaliação do ativo, indicou algo próximo a R$ 45 por ação. O Citi, responsável pela modelagem da venda, apontou um preço um pouco inferior, em torno de R$ 43, com vistas a atrair mais compradores. Já o governo de São Paulo tem dado sinais de que gostaria de ver o preço mínimo acima dos R$ 45, mais próximo a R$ 48 ou R$ 49. Seja como for, no mercado financeiro ninguém acredita que o comprador levará a empresa por menos de R$ 50 por ação. O novo controlador ainda terá que fazer oferta aos minoritários donos de PNB. Mas a oferta aos detentores de ON "é dúvida".
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