Crise internacional pode levar Brasil a obter só em 2009 grau de investimento


O Brasil poderá ver retardada a obtenção do grau de investimento, dependendo do impacto das turbulências financeiras internacionais na economia real. A expectativa era de o país alcançar essa classificação nos próximos seis meses, barateando crédito para as companhias brasileiras e atraindo mais investidores especialmente prudentes.

No entanto, a chefe de mercados emergentes do Deutsche Bank, um dos maiores bancos do planeta, Maria Laura Lanzeni, estima que isso só ocorrerá no prazo de 18 meses. Além do cenário global incerto, ela nota que se o país não aprovar reformas microeconômicas, o Peru é que poderá obter antes o grau de investimentos. O Peru se tornaria assim o terceiro da América Latina com essa classificação após México e Chile.

Outro especialista estima que o motivador para o grau de investimento para o Brasil têm sido as reservas internacionais (de US$ 180 bilhões), a inflação na meta, a manutenção do superávit primário e sobretudo o crescimento. Antes, havia preocupação sobre até que ponto o país iria crescer. Hoje, o governo estima expansão acima de 4%.

Mas esse especialista admite que, se houver crise muito forte nos Estados Unidos e desaceleração na economia mundial, ficará difícil para as agências de classificação de risco alterarem o grau do Brasil este ano.

O clima de incertezas sobre as turbulências financeiras, sua repercussão na economia americana e no resto do mundo, marcaram a reunião extraordinária dos principais bancos centrais e dos maiores bancos comerciais do planeta, ontem, no Banco de Compensações Internacionais (BIS), espécie de banco dos bancos centrais.

A desaceleração da economia dos EUA tem sua origem no ajuste do mercado imobiliário. A situação se agravou e a queda do preço das residências pode alcançar uns 10% em 2008. O principal risco é que isso afeta as decisões de consumo dos americanos e o emprego.

Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (o BC dos EUA), veio a Basiléia dois dias após o risco de recessão nos EUA ter aumentado com novos dados revelando súbita alta no desemprego e menor criação de empregos em dezembro no país. Esse cenário elevou as pressões sobre o Fed para cortar as taxas de juros em pelo menos 25 pontos básicos na reunião deste mês, corte que poderia ser seguido por outros bancos centrais.

"Os problemas com liquidez persistem e vão demorar bom tempo a se resolver", disse o presidente do Banco Central do México, Guillermo Ortiz, após o encontro. "Recessão é a pergunta de 1 bilhão de dólares, como dizia Rudi Dornbush. Os acontecimentos sempre tardam a chegar, mas quando chegam é numa velocidade que tampouco se espera."

Os bancos comerciais, incluindo Deutsche Bank, Credit Suisse, UBS e BBVA, não abriram sua situação individual em meio à crise, o que não foi nenhuma surpresa, porque ninguém revela dados confidenciais diante do concorrente. Por sua vez, os banqueiros centrais deixaram para falar hoje entre eles sobre macroeconomia e não na frente do setor privado.

Ficou claro, em todo caso, que os mercados mais atingidos pelo aperto de crédito, os EUA e a Europa, vão precisar de seus bancos centrais para continuar fornecendo liquidez. A expectativa é de que possa haver ação maior entre o Fed e o Banco Central Europeu, mas só entre eles por enquanto.

Além disso, os dirigentes da Alemanha, da Grã-Bretanha e da França planejam ter um encontro ainda este mês para intensificar reformas e melhorar mecanismos para estabilidade financeira em torno do mundo. Isso implicaria regulamentação de hedge funds, avaliação de complexos instrumentos financeiros e mais transparência nos balanços de risco.

Os governos consideram que a resposta inicial para gestão de riscos deve continuar a ser das instituições financeiras e dos investidores. E aí vêm com o apoio de fortes regulamentações nacionais. Desde outubro, a dramática escalada do aperto de crédito tem exigido respostas urgentes coordenadas.

Para Kenneth Rogoff, professor da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do FMI, o Fed tem subestimado o tamanho das perdas e a virulência do contágio global do aperto de crédito.


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