Inflação dos alimentos começa perder fôlego


Os índices de inflação em dezembro tiveram altas mais fortes do que em novembro. No entanto, a comparação entre indicadores apurados em intervalos de tempo distintos já sinaliza uma desaceleração da alta nos preços de insumos, sobretudo de produtos agrícolas - exatamente aqueles que, em 2007, exerceram maior pressão inflacionária. Para alguns economistas, dezembro pode ter sido o mês de maior alta dos preços, tendendo a um arrefecimento nos próximos meses, especialmente no atacado. No varejo, também há uma expectativa de reajustes menores neste mês, mas a situação inspira cuidados: o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da primeira semana de janeiro teve alta de 0,89%, superior ao 0,7% da última semana de dezembro.

O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) encerrou dezembro com alta de 1,47%, ante 1,05% em novembro. No ano, a variação foi de 7,89%. André Furtado Braz, economista da FGV, observou que, apesar da alta consecutiva no índice nos últimos três meses, na comparação com outros indicadores da família do IGP, a variação foi a menor apresentada em dezembro. O IGP-M (que apura a inflação de 30 dias até o dia 20) registrou variação de 1,56% e o IGP-10, calculado entre os dias 11 de novembro e 10 de dezembro, registrou alta de 1,79%. "Esse resultado mostra que houve desaceleração e, dada a redução nos preços de produtos agrícolas nas últimas semanas, pode haver redução no IGP-DI de janeiro."

Em dezembro, o Índice de Preços por Atacado (IPA) - que tem peso de 60% nos IGPs - registrou alta de 1,9%, acima de 1,45% em novembro, mas abaixo dos 2,36% apontados no IGP-M. Uma notícia razoavelmente positiva no atacado foi o comportamento dos preços agrícolas. Eles ainda mostraram uma alta significativa no IGP-DI, subindo 4,27%, mas o número ficou abaixo dos 4,32% de novembro. A desaceleração foi expressiva principalmente em relação à alta de 5,95% verificada no IGP-M, como nota Braz. A diferença deveu-se em grande parte à desaceleração nos preços de produtos como o feijão (de 43,9% para 27,2%), e o milho (de 17,4% para 10,28%).

No caso dos preços industriais no atacado, não houve arrefecimento. Eles subiram 1,01% no IGP-DI, alta quase idêntica ao 1,02% do IGP-M, e bem mais salgada que o 0,41% de novembro. A variação no grupo de produtos industriais deveu-se, sobretudo, ao repique nos preços do petróleo e dos combustíveis. O óleo combustível subiu 5,31% e o querosene, 7,54%.

Para economistas ouvidos pelo Valor, a desaceleração nos preços agrícolas foi maior que o esperado e pode indicar um início de arrefecimento da inflação. "A inflação ainda está em um patamar alto. Mas algumas pressões agrícolas começam a sair e há sinais de que o pior já passou", afirma Zeina Latif, economista-chefe do ABN Amro Real. Conforme a economista, a variação menor do IPA agrícola pode ser repassada ao varejo, contribuindo para uma alta menor do IPC já neste mês. "Também não há sinais de que combustíveis terão uma alta tão significativa como em dezembro", complementa Zeina. O ABN estima para janeiro IGP-M de 0,7% e IGP-10 próximo a 1%.

Para Everton Santos, economista da LCA Consultores, os preços das commodities agrícolas podem recuar mais rapidamente que o previsto, podendo já trazer alívio aos índices de inflação ainda no primeiro trimestre deste ano. Ele observa que os preços da arroba do boi, da saca do milho e da saca de feijão, três itens de peso significativo no cálculo do IPA agrícola, subiram menos na primeira semana de janeiro que em dezembro. "Os preços estão desacelerando no campo e isso pode trazer algum alívio nos índices de preços." Em 2007, o IPA agrícola subiu 24,82%. Os preços industriais aumentaram 4,42%.

O indicador da RC Consultores de preços agrícolas no atacado, baseado em uma cesta de 14 itens, apontou estabilidade na primeira semana de janeiro, com queda nos preços de batata (11,3%), carne suína (6,7%), tomate (3,2%) e ovos (1%) - boa notícia para este mês.

Para o economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada, carnes, milho e feijão eram os produtos que estavam pressionando os índices em dezembro e a sua desaceleração pode ter efeito direto sobre os preços ao consumidor. O IPC-S da FGV, apurado entre 8 de dezembro e 7 de janeiro mostrou uma alta forte, de 0,89%, ainda muito influenciada pela elevação dos alimentos, de 2,13%.

O comportamento dos preços no varejo ainda preocupa bastante, embora os analistas esperem que esses indicadores arrefeçam neste mês. O IPC-DI, que responde por 30% do IGP-DI, teve alta de 0,7% em dezembro. Desse aumento, 66% se deveu aos alimentos, que subiram 1,69%, como nota o economista Luís Fernando Azevedo, da Rosenberg & Associados.

Na sexta-feira, sai o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro. O número é o mais aguardado pelos analistas, por servir de referência para o regime de metas de inflação. A expectativa do mercado é de um número alto - 0,68% segundo a pesquisa semanal do Banco Central -, ainda muito afetado pelos alimentos. Há projeções mais pessimistas, como o 0,8% do economista Adriano Lopes, do Unibanco.

Se confirmada essa elevação, o IPCA acumularia variação de 4,52% em 2007, ligeiramente acima do centro da meta, de 4,5%, nota Lopes. Para janeiro, ele acredita que o indicador pode arrefecer, com a expectativa de desaceleração dos preços de alimentos. Uma fonte de preocupação que continua é o comportamento dos preços de itens como os serviços (como aluguel, condomínio, cabeleireira, mensalidades escolares e conserto de automóveis), que não podem ser atendidos por importações, tendendo a ficar mais pressionados num cenário de atividade econômica acelerada.


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