Lula cobra Bush


Em um dia de tensão nas bolsas de valores em todo o mundo, provocada pelo medo de uma recessão na economia americana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou dos Estados Unidos responsabilidade para impedir que a crise naquele país se alastre pelo resto do mundo e ironizou o pacote de medidas lançado pelo presidente George W. Bush, na tentativa de diminuir as chances de recessão.

Essa crise, talvez seja alguma frustração para o pacote do Bush, que não contentou nem os americanos - alfinetou Lula. - Eu tenho dito publicamente que os EUA precisam assumir a responsabilidade para evitar que essa crise se alastre e possa virar uma crise mundial. Não é possível que pessoas que não têm nenhuma casa nos EUA, que não têm nenhuma hipoteca, paguem a crise da irresponsabilidade de alguns que resolveram ganhar dinheiro fácil como se estivessem apostando em um cassino.

Juros

Em meio ao tombo de 6,62% da Bovespa, Lula disse que conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os três foram a público para tentar acalmar os ânimos no Brasil.

Ainda ontem, analistas do mercado financeiro não acreditavam mais na redução da taxa de juros neste ano. Para eles, a Selic ficará em 11,25% até dezembro, o mesmo índice de hoje. A previsão faz parte do boletim Focus do Banco Central. Poderá haver, até, um aumento "preventivo" das taxas.

Mantega disse que o mercado "ficou frustado" com as medidas anunciadas pelo governo americano. Meirelles admitiu que o país não está imune à crise e prometeu tomar medidas, caso elas sejam necessárias, mas não especificou quais seriam essas ações.

Para Mantega, a crise poderá afetar o desempenho da balança comercial. Isso porque as turbulências podem influir no preço das commodities no mercado internacional e o Brasil é um grande exportador dessa categoria de produtos. Mas ele voltou a afirmar que o país está preparado.

Os mercados estão mais nervosos. Talvez estejam um pouco frustrados com o que foi anunciado ou com o que ainda não foi anunciado pelo governo Bush - disse Mantega. - Eu diria que é um dia de quase de pânico porque as bolsas caíram muito no mundo todo. Isso traz um contágio, mas não quer dizer que amanhã será assim. As autoridades americanas deverão tomar medidas e reverter esse quadro. Mas no Brasil, por enquanto, não há necessidade de tomar medidas.

Esse também foi o tom de Meirelles, ao comentar a crise durante a posse da nova diretora do de Assuntos Internacionais, Maria Celina Berardinelli Arraes, ontem na sede do BC.

Temores

Para ele, o movimento de queda das bolsas em vários mercados ontem reflete o temor de uma deterioração nos EUA. Mas o governo tentou acalmar o mercado interno e reduzir os impactos da turbulência no país.

Não temos a ilusão de que o Brasil está imune a desenvolvimentos externos, mas estamos mais preparados para enfrentar cenários adversos - disse Meirelles. - Nos últimos cinco anos, não desperdiçamos o bom momento do mercado externo. Nós estávamos preparando para arrumar a casa.

Na avaliação de Meirelles, o Brasil está "preparado para atravessar a crise com serenidade" e as atuais turbulências no mercado mundial demonstram que o regime de câmbio flutuante é o mais adequado para o Brasil.

Estamos preparados para uma turbulência externa e o regime de câmbio flutuante tem se mostrado o mais indicado para enfrentar períodos turbulentos, como o atual. Não há atalho para o crescimento sustentado, não há como prescindir do equilíbrio - disse Meirelles.

Entre os atributos da economia que considera importante para superar o momento, o presidente do BC destacou, além do regime de câmbio e de metas de inflação e de responsabilidade fiscal. Segundo ele, o país fez uma "apólice de seguro" contra cenários adversos.

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