O duro dilema de conviver com o PMDB


O PMDB diz para o governo Lula: decifra-me ou te devoro

Desde o fim do regime militar, o PMDB assemelha-se à famosa esfinge que perguntava: decifra-me ou te devoro. No sistema político atual, é impossível ter maioria no Congresso sem os peemedebistas, mas governar com o PMDB é tão difícil quanto. Em maior ou menor medida, esse foi o enredo que acompanhou os governos passados. Agora isso se repete com Lula. Para quem quiser entender esse enigma, os acontecimentos recentes são exemplares para mostrar não só como funciona tal fenômeno, mas, sobretudo, para realçar seus impactos negativos sobre nossa democracia.

Comecemos essa história com a passagem do primeiro para o segundo mandato de Lula. Sabiamente o presidente optou por incluir o PMDB na coalizão governamental. Foi uma lição aprendida com a crise do mensalão, quando o governo sofreu no Congresso por não ter apoio formal desse partido. Não se pode negar que o apoio do PMDB fortaleceu a base governista na Câmara. Hoje, o executivo federal tem maioria folgada na Casa.

Mas o apoio do PMDB não veio na mesma medida no Senado. Basta lembrar a votação da CPMF, quando alguns senadores peemedebistas foram decisivos para a derrota do governo. Não é só na soma dos votos que os peemedebistas se colocam em oposição a Lula. A veemência dos discursos dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mão Santa (PMDB-PI) lembra os ataques mais ásperos dos petistas à gestão tucana.

Não há como evitar a pergunta: se esses dois senadores estão num partido da base governista, como podem adotar uma postura tão radical contra a própria legenda? Afinal, ser contra uma ou outra visão do próprio partido é saudável numa democracia, mas ser totalmente contra o “lado” escolhido pela legenda é estranho. Não é, pelo menos, o que acontece nas principais democracias ocidentais.

Peemedebistas são potenciais traidores e querem mais espaço que os outros partidos

O apoio do PMDB nunca é integral, seja em votos, seja em posicionamento público. O que explica esse caráter cindido do partido é sua natureza regional. O PMDB é uma legenda que funciona como um condomínio de caciques estaduais, mais preocupados com a dinâmica política local que com questões nacionais ou programáticas. Se houver um conflito do partido do presidente com um deputado ou senador do PMDB, eles optam por resolver seus problemas paroquiais, deixando de lado diretrizes partidárias.

A falta de unidade no PMDB não é o pior problema relacionado ao apoio do partido aos governos. Na semana passada houve uma aula de “governismo peemedebista”, com a discussão sobre a partilha do poder no sistema elétrico e na Petrobras. Com uma voracidade maior que todas as outras legendas, o PMDB quer cargos e mais cargos, com destaque para os postos de segundo e terceiro escalão, preferencialmente em estatais, embora seus líderes também se contentem com nomeações na administração direta. É importante ter ministros, mas o que conta mais é a possibilidade de multiplicar indicações e empregos.

Os peemedebistas não somente são potenciais traidores, como ainda querem mais espaços administrativos que os outros partidos governistas, em cargos que tenham recursos e influência, sem a contrapartida do grau de cobrança intrínseco à posição de ministro. Um dos maiores desafios para o presidente Lula e para o próximo – oposição, por favor, acorde – é como escapar do dilema que marca nosso sistema político: não é possível governar nem com nem sem o PMDB. É difícil vencer esse paradoxo. Com uma reforma da administração pública evitaríamos, no mínimo, as cenas deprimentes do fisiologismo mais rasteiro e triste que observamos nesta semana de leilão dos postos da Petrobras.

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