A anticandidata


Há uma tendência de menosprezar a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República em 2010. É até compreensível. Ela não passa dos 5% nas pesquisas de opinião pública e não demonstra muita vontade de disputar o Palácio do Planalto. Além disso, a figura severa de Dilma parece muito distante do estereótipo do candidato sorridente, distribuindo abraços e apertos de mão a caminho do palanque. Mas essa análise, feita em cima de elementos superficiais, pode ser enganosa. As condições para construir uma candidatura existem. E pode ser uma candidatura forte.

Vamos começar pela figura. Quais os adjetivos que são normalmente associados à Dilma? Quem gosta dela aponta a competência como gerente e a capacidade de comprar brigas pelo que acredita. Quem é contra diz que ela é teimosa, difícil de convencer e muito brava. O mesmo figurino poderia ser aplicado ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB). E ele, como todos sabem, é o líder em todas as pesquisas de opinião.

Há muitas diferenças entre Serra e Dilma. Uma das principais é a carreira política. A ex-guerrilheira Dilma construiu a sua como um quadro de Estado, sempre movendo-se na burocracia do Executivo. Nunca disputou uma eleição. O governador de São Paulo começou no movimento estudantil e depois construiu-se disputando eleições. É uma figura nacional, com um forte recall de ex-candidato. Dilma, ao contrário, ainda é uma relativa desconhecida. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem trabalhando para mudar esse quadro. Não por acaso, passou a levar a ministra pelo braço em inaugurações de obras ou cerimônias de lançamento de programas públicos. Tampouco foi casual que a tenha apontado como a mãe do PAC, o bilionário Plano de Aceleração do Crescimento que constitui o eixo de seu segundo mandato.

Lula acredita que o Brasil quer um gerente e que Dilma pode caber nesse personagem. Ainda é muito cedo para saber se a estratégia vai dar certo. Mas é um erro enorme imaginar que ela esteja fadada ao fracasso. A ministra pode se transformar numa boa candidata. Mesmo que ela própria duvide disso.

Roteiro conhecido
A CPI dos Cartões Corporativos está cumprindo à risca o roteiro esperado. Todos os atores mantêm o desempenho que seu objetivo político exige. A começar pela bancada governista. Muita gente estranhou o empenho do líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) em criar a Comissão Parlamentar de Inquérito. A resposta era simples. Como a oposição tinha o número de assinaturas necessário para criar a CPI no Senado, o governo antecipou-se e garantiu que ela fosse mista, formada por deputados e senadores. Com isso, assegurou maioria política na comissão.

A oposição, por sua vez, desistiu da CPI própria e aceitou um acordo com os governistas. Ele incluía não apenas a ampliação da investigação para o Congresso mas também uma espécie de pacto de não-agressão. PSDB e DEM não investigariam os gastos da Presidência da República na gestão Lula. Em compensação, petistas e seus aliados ficariam ao largo das despesas do Planalto durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.

Também dentro do roteiro, houve um jogo de empurra antes da instalação da CPI. Os governistas demoraram para ceder à oposição a presidência da comissão. A oposição ameaçou mais uma vez com a criação de uma CPI própria. O impasse foi resolvido com mais uma negociação. Os oposicionistas ficaram com a presidência, mas o governo ficou com a relatoria e a maioria das cadeiras.

Como era de se esperar, a investigação não andou. A oposição esqueceu o antigo acordo e pediu a quebra de sigilo dos gastos da presidência. O governo, claro, barrou a proposta. Os oposicionistas saíram denunciando uma farsa. A senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), escolhida para a presidência em conseqüência do acordão, agora ameaça renunciar ao cargo para não participar do circo. É mais um daqueles casos em que todo mundo joga para a torcida. E quanto mais eles fazem isso, menor a chance da investigação produzir algum resultado.

Coluna - Nas Entrelinhas

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