A secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, justificou ontem a incursão colombiana no Equador para atacar uma base das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). "As fronteiras são importantes, mas não podem ser usadas como um esconderijo para terroristas que depois vão matar civis inocentes", declarou Condoleezza em entrevista coletiva concedida durante rápida visita a Brasília.
Condoleezza elogiou o desempenho brasileiro e de outros países para contornar a crise causada pelo incidente, mas cobrou apoio de todos na guerra contra o terrorismo. A secretária evitou classificar a Venezuela, que ameaçou apoiar o Equador em uma eventual guerra e foi acusada pela Colômbia de enviar US$ 300 milhões às Farc, de um país que financia grupos terroristas. Destoando dos demais países da região, o governo norte-americano foi o único a apoiar a ação colombiana.
"Temos que nos preocupar com o terrorismo e o bem-estar dos Estados da região", comentou. "É uma obrigação que todos assumiram na Organização das Nações Unidas (ONU), de fazer tudo o que podem para evitar que terroristas usem seus territórios e combater o financiamento ao terrorismo."
Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ressaltou que os representantes brasileiro e americano na Organização dos Estados Americanos (OEA) agiram em sintonia a fim de aprovar a resolução que encerrou o incidente. "Contaremos sempre com a boa receptividade da parte dos EUA para as idéias que nós ajudarmos a dar", disse o chanceler. O ministro e Condoleezza não responderam uma questão sobre eventuais atividades das Farc em território brasileiro.
A secretária de Estado americana achou positiva a idéia brasileira de os países sul-americanos criarem um conselho de defesa que faça a intermediação de conflitos na região. "Sou sempre a favor da cooperação regional e supra-regional. É natural que existam vários foros em que se possam discutir melhor cooperação e como lidar com crises. Não só não tenho nenhum problema com essa iniciativa, como confio na liderança brasileira."
Perguntada se a atuação do Brasil na missão de paz no Haiti e durante a recente crise credenciariam o país para obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, Condoleezza desconversou. Disse que os EUA estão abertos a uma reforma do conselho, pois reconhecem que "o mundo mudou desde 1945". Ponderou, entretanto, que até agora o governo George W. Bush só apóia a adesão do Japão. Atualmente, só EUA, China, Rússia, França e Reino Unido participam de forma plena do órgão e, por isso, têm poder de veto nas discussões. Em resposta, o chanceler brasileiro considerou os comentários da colega "apropriados".
Mesmo assim, citando a liderança brasileira na missão no Haiti e os esforços do País na promoção de um acordo de paz entre Israel e palestinos, a secretária encorajou a diplomacia brasileira a reforçar sua atuação. "O Brasil, que é uma grande democracia multiétnica, deveria desempenhar um papel muito importante não apenas nas questões regionais, mas também nas mundiais."
Amorim e Condoleezza assinaram um acordo para a promoção de projetos de combate à desigualdade racial e trataram do fortalecimento da parceria bilateral na área de biocombustíveis. Segundo a secretária de Estado dos EUA, falaram também sobre o desejo dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush de concluir a Rodada Doha de liberalização comercial.
"A coisa mais importante que podemos fazer para os países em desenvolvimento é contar com um sistema de intercâmbio mundial que apóie o desenvolvimento e garanta mercados para países em desenvolvimento e desenvolvidos, para que todos possam prosperar", afirmou Condoleezza."
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