O projeto presidencial de Dilma Rousseff não é apenas um test-drive para a sucessão de 2010. É bem mais do que isso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está disposto a investir pesado politicamente para bancar a candidatura da ministra da Casa Civil. Isso significa tentar persuadir aliados e o próprio PT de que Dilma é o caminho ideal a trilhar.
Um resumo das razões de Lula: Dilma seria a melhor candidata para ganhar ou para perder.
Na hipótese de vitória, Lula seria a âncora política de Dilma durante todo o governo dela. A ministra possui perfil administrativo, mas atua com pouca desenvoltura nas negociações partidárias devido à mistura de temperamento explosivo e inabilidade política. Lula, portanto, seria um tutor político da presidente Dilma.
Outro ponto que conta a favor dela aos olhos de Lula: o presidente costuma dizer que Dilma não tem projeto coletivo. Traduzindo: não é ligada a nenhuma corrente interna do PT, não tem facção política. A corrente de Dilma se chama Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente tem extrema confiança em Dilma. Ela, por sua vez, dedica fidelidade canina ao chefe. Para algumas pessoas que já a ouviram falar de Lula na intimidade, ela coloca o presidente numa espécie de pedestal.
Por isso, no caso de Lula desejar ser candidato novamente ao Palácio do Planalto, Dilma seria a pessoa mais confiável para um acordo político nesse sentido.
Lula enxerga vantagens na escolha de Dilma até na hipótese de derrota. Em primeiro lugar e mais importante, a ministra faria uma campanha de defesa incisiva dos oito anos de Lula no poder. Ela própria é "a mãe do PAC", "a capitã do time", como disse o presidente em discursos públicos.
Se Dilma perder a eleição, Lula terá lançado uma nova e leal liderança política. No cenário de retirada da vida institucional brasileira para tentar uma carreira no exterior, saída que alguns ministros acham que Lula cogita seguir, ele deixaria uma mulher como herdeira política. E isso soa sempre inovador num país que teve apenas homens na Presidência da República.
Conjecturas eleitorais
Lula é sincero quando diz querer construir uma candidatura única de seu campo político em 2010. Se Dilma não for competitiva, haveria ainda a saída, complicada, de o presidente tentar fazer dela vice de Ciro Gomes (PSB), que tem cerca de 20% nas pesquisas sobre 2010. Ou até mesmo de Aécio Neves, se o tucano mineiro migrar para o PMDB e for candidato ao Planalto. Dilma está hoje na faixa dos 5% nas pesquisas. Lula acha que, em 2009, ela precisa estar na faixa dos 15% aos 20%.
Se for inevitável o PT lançar um candidato, como hoje parece que será, mais conveniente lançar um nome de confiança. Ou seja, ponto mais uma vez para Dilma.
No segundo turno da eleição, Lula poderia apoiar com ênfase o candidato de seu campo político que passar à etapa final. Aliados e petistas já ouviram Lula dizer que pretende eleger o "sucessor ou sucessora".
Se tudo isso falhar, Lula se empenha ainda para ter bom relacionamento com os tucanos Aécio e José Serra, presidenciáveis da oposição e respectivamente, governadores de Minas e de São Paulo.
Adrenalina
Lula elogia o perfil técnico de Dilma. No segundo mandato, essa característica da ministra deu segurança ao presidente, que tem o governo mais em suas mãos do que tinha na época da poderosa dupla José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda). No entanto, o presidente já pediu a ela que tenha mais jogo de cintura para lidar com os políticos.
Além de maior maleabilidade para tratar com os partidos aliados, há outra preocupação do presidente: o temperamento explosivo de Dilma resistiria à tensão de uma campanha presidencial? Disputas por cargos majoritários, especialmente pela Presidência, são um misto de corredor polonês e de intensivo teste de paciência. Não faltarão ataques políticos e pessoais. A vida de um candidato que estréia na corrida presidencial é escarafunchada de cima a baixo.
Em 2002, por exemplo, Ciro Gomes inviabilizou sua candidatura por declarações e atitudes impensadas. Lula teme que Dilma siga o mesmo caminho. A ministra da Casa Civil não gosta de ser questionada, com exceção de Lula, obviamente. Tem intolerância a críticas. Já destratou ministros, secretários-executivos e presidentes de estatais. Reservadamente, alguns dizem que não votariam nela nem para síndica de condomínio.
Auxiliares da própria Dilma já pediram para deixar de trabalhar com ela por não aguentar a falta, digamos assim, de cortesia no relacionamento com subordinados. Dilma também já cultiva ódios na mídia e na política. A ministra tem lista de jornalistas dos quais não gosta e de políticos que detesta. Há risco dessa natureza autoritária estragar os planos do presidente.
Olho da rua
Reservadamente, um petista amigo de Dilma dá um exemplo do estilo da chefe da Casa Civil. Não faz muito tempo, ela teve uma reunião com diretores da BR Distribuidora no Palácio do Planalto. No meio da reunião, mandou que saíssem da sala. E telefonou para o presidente da BR Distribuidora, o ex-senador José Eduardo Dutra. Dilma disse a Dutra que seus diretores eram incompetentes e que não havia como lidar com eles.
Um dos diretores disse que nunca foi tão maltratado em sua carreira. Vai ser meio difícil esse diretor votar nela para presidente.
Kennedy Alencar - E-mail: kalencar@folhasp.com.br
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