Bancos já pagam mais para captar dinheiro no mercado


Os bancos passaram a viver uma situação curiosa de um mês e meio para cá: existe muito dinheiro na praça, mas ficou bem mais caro para captá-lo dos clientes. Instituições de grande porte, como o Itaú, o Bradesco e o Unibanco, estão pagando juros equivalentes a 107% do CDI para captar depósitos a prazo, bem acima dos 101% do CDI que pagavam no início do ano.

O que surpreende é o fato de que há muito dinheiro no mercado. Em tese, quando há muito dinheiro disponível, os juros tendem a cair. As estatísticas do Banco Central mostram que o excesso de dinheiro no mercado soma impressionantes R$ 270 bilhões, que o próprio BC tem que, regularmente, retirar de circulação por meio de operações de curtíssimo prazo com títulos públicos.

A explicação para esse aparente paradoxo é que os clientes que têm dinheiro preferem mantê-lo aplicado no curtíssimo prazo. E os bancos estão interessados em captar dinheiro com prazos longos, para emprestá-lo. A concorrência no mercado de crédito estimula os bancos a esticarem os prazos dos empréstimos.

Como sobra dinheiro no mercado, as taxas de juros de curtíssimo prazo seguem bastante baixas. Até ontem, a meta da taxa Selic estava em 11,25% ao ano. Isso significa que o BC, nas suas operações diárias com títulos públicos, esforçava-se para deixar os juros de curtíssimo prazo em 11,25% ao ano. Mas, como há muito dinheiro disponível, a Selic de fato vem ficando um pouco abaixo da meta, em torno de 11,18% ao ano. E os empréstimos de curto prazo entre os bancos, os CDIs, ficavam ainda mais baixos que a Selic, em 11,1%.

O CDI abaixo da Selic é um sinal importante de que o mercado não sofre com falta de liquidez. Na Europa, onde os bancos foram fortemente atingidos pela crise das hipotecas, a taxa Libor subiu bem acima da taxa básica perseguida pelo Banco Central Europeu (BCE), expondo um claro problema de falta de liquidez.

No Brasil, sobra liquidez porque o BC vem injetando volumes maciços de dinheiro na economia por meio da compra de dólares, destinadas a fortalecer as reservas. Só nos 11 primeiros das de abril, o BC injetou R$ 2,304 bilhões. Ao mesmo tempo, para evitar que os juros de mercado fiquem muito abaixo da meta para a taxa Selic, o BC faz as chamadas operações do mercado aberto, que é a colocação de títulos em negócios de curtíssimo prazo.

Nos primeiros 9 dias de abril, o BC recolheu em média R$ 48,641 bilhões em operações de mercado aberto com prazo de até duas semanas; R$ 133,793 bilhões em operações com prazo entre duas semanas e três meses; e R$ 86,142 bilhões em operações entre três meses e sete meses.

Ou seja: bancos que quiserem captar com prazos curtos pagam relativamente barato pelo dinheiro. Mas a demanda dos bancos é por empréstimos de prazos mais longos. Três fatores, principalmente, explicam essa preferência por prazos maiores.

O principal deles é a expansão da carteira de crédito. Desde 2004 a carteira de crédito dos bancos vem se expandindo a taxas superiores a 20% ao ano. Durante muito tempo, não foi problema para os bancos levantarem dinheiro para bancar a expansão do crédito. As instituições financeiras reduziram as carteiras de títulos e direcionaram o dinheiro para empréstimos. Mas a continuidade do ciclo de expansão de crédito demandou mais dinheiro, e os bancos recorreram mais a captações em depósitos à prazo.

Os bancos, agora, estão buscando mais recursos dos clientes, sobretudo com prazos mais longos. O objetivo é minimizar o descasamento de prazos. O ideal é que os depósitos tenham prazos semelhante aos empréstimos.

Outro fator que puxa os juros dos depósitos à prazo é a crise do mercado de hipotecas, que reduziu a disponibilidade de linhas internacionais para os bancos. Os bancos trocaram parte das linhas externas por captações no país.

Para representantes do setor, como o presidente da Andima, Alfredo Moraes, e o vice-presidente de Associação Brasileira dos Bancos Comerciais (ABBC), Renato Oliva, é a crise internacional que está contaminando o mercado interno. "A crise externa está chegando ao mercado financeiro por meio do encarecimento do custo de captação", disse Oliva.

O vice-presidente da ABBC afirma que a alta dos juros está levando os bancos a buscar um casamento de taxas e prazos das operações de captação com as de repasse no crédito. "Os bancos estavam acostumados a captar no CDI e emprestar a taxa prefixada. Quando a tendência era de queda do juro isso era fácil. Mas, a elevação do juro sugere uma reflexão a respeito da necessidade de casar taxas e prazos", disse Oliva.

Um terceiro fator que puxa os juros dos depósitos a prazo é o recolhimento compulsório criado pelo BC para as operações de "leasing". Em maio, os bancos terão que recolher cerca de R$ 8 bilhões ao Banco Central e, até janeiro de 2009 a exigência deverá chegar a R$ 40 bilhões.

O impacto dos compulsórios sobre o "leasing" é importante, mas esse não é o principal fator. O Banco Central de fato tira dinheiro do mercado com o compulsórios, mas continua injetando reais na economia nas suas compras de dólares. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, a injeção de reais das operações do setor externo somou R$ 121 bilhões.

A alta nos juros dos depósitos a prazo representa, para os bancos, o encarecimento dos custos de captação. Esse custo adicional poderá tanto ser absorvido pelos próprios bancos, por meio da redução dos "spreads", como repassados para os clientes, por meio de juros mais altos.

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