O mercado interno continuará aquecido durante este ano. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o consumo das famílias crescerá 7,5% em 2008, em comparação ao ano passado. A estimativa é superior ao cálculo feito em dezembro pela instituição, quando o aumento avaliado foi de 6,2%. Tal avanço, explica o Informe Conjuntural publicado pela CNI a cada três meses, deve-se ao aumento da renda das classes menos favorecidas, "em que a propensão ao consumo é bastante elevada".
Como resultado, apesar do risco da crise financeira norte-americana contaminar outros mercados, a entidade manteve a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano em 5%. "Não temos ainda a dimensão de qual será a extensão dessa crise ou com que defasagem ela chegará ao Brasil, se um recrudescimento gerar impacto sobre terceiros mercados", explicou Paulo Mol, analista de Política e Indústria da CN. Para ele, o perigo maior para a economia brasileira pode estar em 2009. "Se acontecer algum problema, ocorrerá no fim do ano, quando o crescimento de 2008 já estará garantido."
A perspectiva do crescimento da produção industrial também foi conservada em 5,0%. Segundo a CNI, a alta do PIB será liderada pela agropecuária. Impulsionado pela elevação dos preços das commodities, acredita a entidade, o setor avançará 6,0%. Já o segmento de serviços crescerá 4,5%, liderado pelo comércio e pela intermediação financeira.
O maior consumo das famílias é justificado pelo reajuste do salário mínimo - alta real de aproximadamente 5% - e pelo aumento das transferências de renda promovidas pelo Bolsa Família e pelo Pró-Jovem. O orçamento dos programas sociais crescerá 30% neste ano, para cerca de R$ 12 bilhões.
A CNI destaca ainda que outros fatores contribuirão para o aumento da demanda doméstica: o aumento do crédito e a recomposição dos estoques. De acordo com a entidade, uma em cada quatro indústrias iniciou o ano com o nível de estoques abaixo do planejado. No mesmo período dos dois anos anteriores, essa taxa era de uma a cada cinco empresas.
A instituição alega, entretanto, que a indústria não crescerá mais devido à substituição de parte da produção local pelas importações. A estimativa de importações foi elevada de US$ 150 bilhões para US$ 165 bilhões. Para a CNI, o aumento das compras no exterior tem funcionado para aumentar a oferta de produtos e atender à crescente demanda. A organização questiona, entretanto, a sustentabilidade desse processo. Culpa o câmbio e a alta carga tributária pela perda de competitivida-de do empresariado nacional. "Parcela substantiva da produção está sendo substituída por importações. Mas, não se pode falar em desindustrialização com a indústria crescendo 5%", ponderou o economista. A projeção da média da taxa de câmbio para este ano foi mantida em R$ 1,72.
Para Mol, a oferta de bens nacionais subirá. Isso porque os investimentos continuam a aumentar. Segundo o informe da CNI, a formação bruta de capital fixo terá variação positiva de 14% neste ano, o mesmo patamar estimado em dezembro. O documento destaca ainda que o nível de utilização da capacidade instalada (Nuci) dessazonalizado mantém-se em torno de 83% desde setembro do ano passado. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), entretanto, a pressão é maior. O indicador apurado pela FGV atingiu 85,3% em janeiro e 84,7% em fevereiro.
Mesmo assim, a CNI aumentou a estimativa para a inflação. Antes em 4,1%, a projeção atual passou a ser 4,7% - 0,2 ponto percentual acima do centro da meta visado pelo Banco Central (BC). "A demanda está forte, mas a inflação não é puxada pela indústria. Ela se concentra em alguns produtos, como feijão, carne e leite", disse Mol. "A inflação não está disseminada."
Por isso, a CNI espera que o Comitê de Política Monetária do BC mantenha as taxas de juros em 11,25% ao fim de 2008. Antes, a previsão da instituição era de uma queda para 10,50% ao ano. "O BC pode até aumentar os juros, mas será uma ação preventiva."
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