Muito se tem falado das bilionárias reservas de petróleo e gás escondidas por uma larga camada de sal abaixo do leito do oceano no litoral brasileiro, mas pouco se provou até agora. Ao mencionar que o campo de Carioca teria 33 bilhões de barris de petróleo - quase três vezes as atuais reservas brasileiras - o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, não foi o primeiro a falar de números grandiosos.
O pontapé inicial partiu do governo brasileiro e da Petrobras, em outubro do ano passado, quando foi anunciada a descoberta do gigantesco campo de Tupi, na bacia de Santos, e informou a retirada de 41 blocos da 9ª Rodada de Licitações da ANP. A alegação foi de que existiriam ali entre 70 bilhões e 100 bilhões de barris na camada pré-sal que podem ser extraídos quase sem risco. Esse número nunca foi desmentido nem confirmado. Era o mote para um movimento, em curso, para mudar o marco regulatório do setor de petróleo.
A própria Petrobras, com participação majoritária em quase todos os blocos onde já se descobriu óleo no pré-sal, só divulgou estimativas para Tupi, que teria de 5 bilhões a 8 bilhões de barris de petróleo e gás recuperáveis.
Em janeiro veio a notificação das descobertas de gás em Júpiter, estimadas em mais de 10 trilhões de pés cúbicos pelo mercado, com base em informações da Petrobras de que "a área desta estrutura pode ter dimensões similares às de Tupi". Sobre ela, o banco Credit Suisse divulgou relatório mostrando que, se mostrar similaridades com o vizinho, Júpiter pode ter entre 28 e 45 trilhões de pés cúbicos (TCF) de gás natural, permitindo ao Brasil ultrapassar as reservas de gás da Bolívia e da Argentina. Essa perspectiva foi reduzida mais tarde.
Os bancos vêm chamando a atenção para uma área no pré-sal da bacia de Santos - o Pão de Açúcar Açúcar, que está embaixo de quatro blocos incluindo o Carioca - que pode ser maior que o campo de Tupi. Em relatório divulgado em dezembro chamado "Is Tupi Small?", o UBS Pactual coloca algumas questões ainda não respondidas. Entre elas, se Tupi poderá produzir por muitos anos, quanto vai custar seu desenvolvimento e quando a Petrobras vai desenvolver, de fato, a produção ali.
Em seu último relatório sobre o tema, divulgado na segunda-feira, o Credit Suisse estima que os cinco blocos mais importantes do pré-sal - BM-S-11 (Tupi), BM-S-9 (Carioca), BM-S-24 (Júpiter), BM-S-8 (chamado pela Petrobras de Bem-Te-Vi) e BM-S-22 (operado pela Exxon) - têm reservas de 20,8 bilhões de barris no cenário mais conservador e de 32,5 bilhões de barris no melhor cenário. A conta é a soma das reservas em cinco áreas enormes e quase inexploradas. O artigo mencionado por Lima cita 33 bilhões de barris só no Carioca.
Já se forem consideradas as estimativas de reservas apenas do prospecto já apelidado de Pão de Açúcar (portanto, sem Tupi, nem Jupiter), o Credit Suisse estima que ali estejam 15 bilhões de barris de petróleo, mas ressalta que apenas 60% dessa área já foi concedida.
Apesar do otimismo velado manifestado por técnicos da Petrobras, e dos relatórios financeiros e de veículos especializados recheados de mapas com o resultado de pesquisas sísmicas, o fato que ninguém sabe até agora qual é a reserva do pré-sal. Até porque cada área destas teve, no máximo, um poço perfurado, o que é muito pouco.
"Nenhum volume pode ser classificado como reserva se não passar por certos critérios e sem um plano de desenvolvimento aprovado pelo órgão regulador. O que se tem até agora, em termos técnicos, são recursos contingentes que apontam para um volume potencialmente recuperável. Mas são necessárias várias comprovações. Com as informações que se têm hoje, a incerteza é gigantesca", explica um especialista da indústria.
Ele acrescenta que "até o momento o que se tem são mapas que mostram estruturas gigantes e poços perfurados em trechos que deram bons resultados. Agora, se essa estrutura toda está saturada de petróleo, água ou gás ninguém pode garantir com a informação limitadíssima que existe."
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