A oposição tenta pegar um atalho buscando, de todas as formas, levar a ministra Dilma Roussef pra prestar depoimento no Congresso. E o que se escuta, na verdade, é o barulho dos tratores do tédio, como dizia Norman Mailer. O caso é dos mais intrincados. Talvez fosse preciso convocar gente de peso para resolver o mistério: Sherlock Holmes, o inspetor Maigret, miss Marple.
O crime é o dossiê, segundo a oposição, ou o banco de dados, segundo o governo. Mas estes documentos não incriminam ninguém. Porque não é possível imaginar que aquela listinha divulgada sobre os gastos de Fernando Henrique e dona Ruth possa abalar a honra, a respeitabilidade, a lisura dos chefes de governo anterior.
São toucas de banho, lixas de unha, xampu, coisas que podem muito bem constar na despensa de qualquer grande estrutura que recebe centenas de pessoas por dia, que tem destacamento militar funcionando 24 horas, garçons, motoristas, funcionárias, pessoal que faz limpeza e muito mais. Nesta fúria investigativa caberia também indagar quantos quilos de pó são usados para fazer o cafezinho dos palácios da Alvorada, do Planalto.
Para aqueles que fingem espanto, que acham inacreditáveis essas coisas, pode chocar a quantidade de dinheiro gasto com o aluguel de automóveis. Aí é preciso tomar uma decisão de alto nível que pode mudar os rumos da transparência na forma de governar. E as alternativas podem ser muitas. Por exemplo: a comitiva presidencial para fazer qualquer deslocamento deve ir a pé para não onerar os cofres públicos.
Pode, a comitiva, usar como alternativa os transportes públicos - trens, ônibus, metro, peruas, vans, nunca táxis porque é caro. Ou ainda, para deixar mais transparente os gastos com a operação, podem comprar os veículos e logo em seguida vendê-los. Assim, se o presidente for até São Tomé das Couves compram-se dez, quinze carros, para serem usados por duas horas, um dia ou dois.
O repasse das informações para a imprensa teria sido feito pelo senador tucano Álvaro Dias. Isso mesmo, um tucano, da oposição é bom que se diga. pelas informações surgidas, Álvaro Dias teria recebido os documentos de alguém do Palácio do Planalto para repassar em seguida à imprensa. Simplificando: a oposição quer pegar a ministra Dilma Roussef por tabela para acertar mesmo o presidente Lula, enquanto setores do governismo descontentes com o destaque obtido pela chefe da Casa Civil querem transformá-la em pó.
Aí o caso não é mais de detetives, mesmo que sejam os melhores. A CPI dos Cartões Corporativos se transforma em pura ficção política do tipo “O Ultimato Bourne”, “ O Dia do Chacal”, “O Afegão”, onde espiões perseguem espiões, com muita ação e muito tiroteio. Mas acontece que a nossa política não é tão imaginativa como esses livros, como esses filmes. Nada disso, o jogo é mais pobre. E se o jogo ficar muito complicado os autores abandonam o enredo no meio do caminho e vão brincar de outra coisa.
O que falta decidir é se maioria é maioria e minoria é minoria. Aqui parece que querem inverter a lógica do jogo democrático. Os que têm menos votos querem ganhar no grito, nas provocações, nas ameaças e na soberba de, mesmo sem votos suficientes, acharem que podem ditar a agenda política e impor derrotas aos que têm mais votos.
Até prova em contrário ainda está combinado que a maioria é que dá o andamento do samba. E cabe à minoria, à oposição, tentar atravessar o ritmo imposto pela maioria, pelo governo. A oposição sendo feliz acerta as contas na próxima eleição.
Na França, o Partido Socialista entrará com uma moção de censura contra o primeiro-ministro, François Fillon, porque o governo Sarkosy vai mandar mais soldados para o Afeganistão. O voto de censura é grave, no parlamentarismo é quase o voto de desconfiança que derruba o governo. Mas os socialistas franceses sabem que não tem a menor chance do processo seguir em frente. E por quê? Porque os socialistas são minoria, oras.
O PS francês atua como os tucanos e democratas: quer ocupar espaço político colocando em discussão um assunto que não é popular - 68% dos franceses são contra mandar mais soldados para fora de suas fronteiras. A oposição aqui também quer desgastar o governo e para isso nem se dá ao trabalho de buscar um tema que sensibilize a população. Então, no fundo, é tudo mais ou menos igual com algumas diferenças. Os socialistas fazem as coisas com menos truculência e o governo francês responde sem tanta arrogância.
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