A promoção do Brasil à cobiçada categoria dos países considerados seguros para os investidores vai colocar o país no radar de muitos administradores que ainda viam o Brasil como um lugar exótico para apostar seu dinheiro, mas é improvável que provoque uma enxurrada de dólares de um dia para o outro.
Fundos de pensão e outros investidores institucionais em geral limitam a exposição de suas carteiras a ativos considerados perigosos pelas agências de classificação de risco, mas de uns anos para cá alguns dos maiores já tinham adotado normas mais flexíveis que permitiam aplicar em ações e outros papéis de países como o Brasil mesmo se as agências os desaconselhassem. Por outro lado, fundos mais conservadores podem exigir o grau de investimento de mais de uma agência para aplicar.
"Não temos nenhuma restrição para operar no mercado brasileiro, mas não mudamos rapidamente de posição", disse Clark McKinley, porta-voz do Calpers, o gigantesco fundo de pensão dos funcionários públicos do Estado da Califórnia. "Fazemos revisões de nossa alocação a cada três anos." Com ativos avaliados em US$ 245 bilhões, o Calpers é o maior fundo de pensão dos Estados Unidos. Sua carteira inclui uma pequena quantidade de papéis do governo brasileiro, que atualmente valem cerca de US$ 5 milhões, e outros US$ 885 milhões em ações de companhias brasileiras.
No ano passado o fundo reduziu sua exposição ao Brasil, vendendo US$ 25 milhões em títulos do governo que possuía.
Muitos fundos americanos como o Calpers tornaram suas políticas de investimento mais flexíveis depois que grandes empresas americanas como a Ford e a General Motors tiveram suas notas revistas pelas agências de classificação de risco e passaram a ser consideradas como investimentos mais arriscados, por causa das dificuldades financeiras que elas enfrentam há anos.
Como guardavam em suas carteiras um grande volume de papéis dessas empresas, esses fundos teriam enormes prejuízos se fossem forçados a se desfazer deles repentinamente.
Para evitar isso, eles mudaram suas políticas para permitir a aplicação em ativos classificados como mais arriscados. Mas, mesmo assim, continuaram agindo de forma bastante cautelosa.
O fundo de pensão dos funcionários públicos do Estado da Flórida, que administra ativos avaliados em US$ 138 bilhões, tem apenas 0,5% da sua carteira comprometida com papéis de empresas mal vistas pelas agências de classificação de risco. As normas do fundo não proíbem a compra desses títulos, mas limitam o volume de recursos que podem ser usados para comprar papéis sem grau de investimento. O fundo não divulga dados sobre a nacionalidade dos emissores dos títulos na sua carteira.
A opinião das agências de classificação de risco é importante para os fundos, mas não é o único fator que eles levam em conta na hora de investir. "Embora notas melhores sejam um benefício para a composição da nossa carteira, elas não necessariamente afetam nosso apetite por este ou aquele papel", afirmou Ricardo Duran, porta-voz do CalSTRS, fundo de pensão dos professores da Califórnia.
Com ativos de US$ 164 bilhões, o CalSTRS tem cerca de US$ 30 milhões em títulos do governo brasileiro na sua carteira. Um quinto do seu patrimônio está aplicado em ações e outros papéis de estrangeiros. Em junho de 2007, data da última posição detalhada, a carteira incluía US$ 855 milhões em ações de empresas brasileiras como a Petrobras, a Vale do Rio Doce e o Itaú.
Analistas como o economista Marcelo Carvalho, do banco de investimentos Morgan Stanley, acreditam que a atração de novos investimentos será gradual. "A expectativa de que o país estava perto de conquistar o grau de investimento fez muitos investidores se antecipar nos últimos meses", afirmou. "Agora será a vez de instituições mais cautelosas, como os bancos centrais de outros países, que não estão acostumados a aplicar em papéis brasileiros."
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