Meirelles embaralha disputa goiana em 2010


O desejo do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, de mergulhar a partir do próximo ano numa campanha ao governo de Goiás embaralhou o jogo político no estado. Todas as composições negociadas até agora nas eleições municipais previam uma aliança entre PT e PMDB em 2010, tendo o atual prefeito de Goiânia, o peemedebista Iris Rezende, como protagonista. Mas a disposição do principal comandante da política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva de entrar no páreo pode dividir ainda mais os petistas.

No dia 19 de abril, em convenção, o partido resolveu com uma diferença de apenas um voto, num universo de 231 delegados, que fecharia uma aliança com outro candidato e não teria um nome próprio na disputa. Na prática, significou a disposição de apoiar a reeleição de Iris. A negociação, conduzida pessoalmente pelo atual prefeito, prevê que o PT indique o vice na chapa à reeleição do PMDB. Caso a dobradinha seja vitoriosa, Iris deixará a prefeitura em 2010 para concorrer ao governo e o vice-prefeito herdará o comando da capital goiana.

Ainda não há uma definição oficial sobre o assunto. O atual vice-prefeito, Valdivino de Oliveira (PMDB), deseja permanecer na chapa e outros partidos, como o PR, também articulam essa posição em troca de apoio. Os petistas defensores da coligação, no entanto, desejam o cumprimento do compromisso. Por trás dessa articulação está o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares que, inclusive, participou da festa de comemoração da ala petista vitoriosa na convenção de abril. Afastado do partido, o ex-homem forte das finanças do PT manteve algumas conversas, mas no dia-a-dia é representado por duas pessoas de sua confiança: seu irmão, o vereador Carlos Soares (PT), e a ex-deputada federal Neyde Aparecida (PT).

Em Goiás, Henrique Meirelles faz política entre adversários do PT e do PMDB. Em 2002, ele se elegeu o deputado federal mais votado no estado, com 183 mil votos. Renunciou, em seguida, para assumir a presidência do Banco Central, a convite de Lula, então recém-eleito presidente da República. Há três semanas, Meirelles avisou o Palácio do Planalto de sua intenção de deixar o cargo no próximo ano para voltar às campanhas eleitorais. Recebeu total apoio de Lula e já começou a percorrer o estado.

Em abril, Meirelles esteve em Catalão (GO), a convite do presidente da Assembléia Legislativa de Goiás, deputado Jardel Sebba (PSDB), que é da cidade. O presidente do BC deu palestra sobre perspectivas econômicas do país diante da crise nos Estados Unidos. Também esteve há 10 dias em Anápolis, sua cidade natal, acompanhado da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), para lançamento do projeto de Zona de Processamento de Exportação, um Porto Seco.

O presidente do PT-GO, Rubens Ottoni, já declarou que a candidatura de Meirelles ao governo é viável. Ele deve, no entanto, ingressar em algum dos partidos da base aliada do governo Lula, como o PR ou o PTB. Se isso acontecer, o PT terá de escolher em qual posição estará no jogo político goiano. É certo, no entanto, que Meirelles vai surfar na onda da estabilidade e nos bons índices econômicos do governo Lula. Petistas avaliam, nos bastidores, que será difícil fazer oposição ao presidente do BC.

Reinvenção de Iris
O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, conseguiu se reinventar. Depois de passar seis anos fora da vida pública, ele ressurgiu na política goiana há quatro anos, quando disputou a prefeitura de Goiânia com a promessa de asfaltar todo o município. Ele tentava — e conseguiu — recomeçar depois de uma derrota para o então novato na política, Marconi Perillo (PSDB), que se elegeu governador num efeito considerado surpreendente entre os goianos.

Iris era favorito a vencer no primeiro turno, mas o tucano conseguiu ganhar na segunda fase da campanha com uma diferença de 1,67% dos votos. Iris era apontado como o político tradicional e populista. Perillo dizia que ele tinha sido afastado de vez do cenário. Em 2004, Iris, no entanto, derrotou o candidato de Perillo, Sandes Júnior (PP), e o então prefeito de Goiânia, Pedro Wilson (PT), num embate duro, recheado de troca de agressões. A disputa entre PMDB e PT era histórica até as últimas eleições, quando o grupo de Iris Rezende apoiou a reeleição do presidente Lula.

No primeiro turno, Lula perdeu para o tucano Geraldo Alckmin por uma diferença de 320 mil. A performance virou, no segundo turno, com a ajuda do prefeito de Goiânia. Lula terminou a eleição com 260 mil votos na frente do adversário. Com essa ajuda, Iris espera retribuição na eleição municipal deste ano e numa eventual candidatura ao governo, caso consiga se reeleger em outubro. Esses planos, no entanto, esbarram nas pretensões do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

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