País pode se tornar um dos líderes globais, diz Fiori


A instabilidade econômica americana jogou luz sobre o novo cenário geopolítico que se desenha no mercado global desde o fim da Guerra Fria, em 1991. Nesse cenário, os Estados Unidos ainda têm condições de retomar a liderança, mas terão agora de concorrer com atores que ganham peso na economia global: China e Rússia. Na América do Sul, apenas um país tem potencial para entrar nessa briga: Brasil. Mas, para isso, terá de rever os acordos políticos que mantém, sobretudo com os vizinhos sul-americanos. A avaliação é de José Luís Fiori, professor de economia política na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

"Falta ao Brasil coordenação para desenvolver uma estratégia expansiva que integre a América do Sul. Hoje o país é o único da região com condições de desempenhar esse papel de locomotiva da expansão sul-americana", avalia Fiori. Ele observa que o país possui o maior mercado interno, disponibilidade de alimentos, reservas de minério, auto-suficiência energética e potencial para expandir a produção de petróleo, fatores que tornam os outros atores capazes de concorrer pela hegemonia geopolítica no século XXI.

Para tirar melhor proveito desse potencial, porém, o país deveria desenvolver a economia doméstica a ritmo mais acelerado, com crescimentos superiores à média de 5% dos últimos anos. E precisa desenvolver uma política econômica regional - Fiori sugere que os recursos do fundo soberano sejam utilizados, por exemplo, para financiar a expansão econômica dos países vizinhos. "Essa é uma hipótese, mas tenho consciência de que a cultura política de integração não existe na América do Sul", afirma. Além disso, diz, assumir a posição de "locomotiva" significa colocar-se na posição de concorrente dos EUA. "Os governantes atuais não parecem estar dispostos a isso."

Contrariando a visão de alguns economistas, Fiori não vê uma derrocada dos Estados Unidos enquanto ator político com o agravamento da crise imobiliária. "Não considero que exista um colapso do poder americano, mas uma crise de liderança na segunda gestão Bush, que vai provocar um realinhamento, como ocorreu na década de 70 após a guerra do Vietnã", afirma. Ele observa que foi durante a guerra do Vietnã que os EUA reafirmaram a parceria comercial com a China e outros países da Ásia. "O fim da Guerra Fria, que foi uma vitória americana, também trouxe de volta uma Alemanha inteira, que ganha força na Europa."

Outro ator político que se recupera a passos largos e pode disputar uma nova corrida imperialista, segundo Fiori, é a Rússia. O país perdeu regiões de produção de alimentos e de produção de minérios com a desintegração do território após a Guerra Fria, o que gerou uma forte crise interna. Mas desde 2001, multiplicou em seis vezes o seu Produto Interno Bruto (PIB), tendo superando o PIB da Itália, e já detém a terceira maior reserva de moeda estrangeira, depois de China e Japão. Além disso, mantém o segundo maior arsenal atômico do mundo. "O (John) McCain (candidato republicano à sucessão de Bush) já negocia acordo nuclear com a Rússia", lembra.

Na avaliação do economista, a disputa entre esses países estimulou o aquecimento acelerado de suas economias nos últimos anos e provocou recentemente a alta generalizada nos preços de alimentos, petróleo e de commodities minerais. "A pressão competitiva desses gigantes já começa a mostrar seus efeitos na economia global", alerta. Fiori participou do seminário Desenvolvimento: Relações Econômicas Internacionais, realizado pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap).

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