"Lula não tem tempo para fofocas"

Acusada pela ex-diretora da Anac, Denise Abreu, de ser "truculenta" e de usar o nome do presidente Lula para defender os interesses do fundo americano Matlin Patterson na compra da Varig, a advogada Valeska Teixeira, filha do compadre de Lula, Roberto Teixeira, fala pela primeira vez sobre o caso. Vinte quilos mais magra depois de um regime radical, ela defende a legalidade da operação, na qual trabalhou junto com o pai, e afirma nunca ter usado o nome de Lula. Diz que suas conversas com a ex-diretora da Anac sempre foram "amenas" e que até chegou a elogiar "a bolsa Louis Vuitton" que Denise teria usado em um dos encontros que tiveram.


Mônica Bergamo - A Denise Abreu declarou no Senado que o comportamento do escritório de vocês foi imoral.

VALESKA TEIXEIRA - Por tudo o que eu já li sobre ela, a Denise Abreu não tem reputação para julgar o que é moral e imoral.

- Por quê?

VALESKA - Pergunte para a família das vítimas do acidente da Gol. Pergunte para a desembargadora para quem ela mentiu [em 2007, Denise Abreu foi acusada de apresentar documento sem validade legal à desembargadora Cecília Marcondes atestando a "absoluta segurança na operação do aeroporto de Congonhas"]. O fato de ela ter caído [da Anac] por ter mentido já diz muita coisa, né? Ela mentiu perante a desembargadora. Ela mentiu no Congresso Nacional.

- Ela diz que você agia de forma truculenta na Anac.

VALESKA - Imagina! De jeito nenhum. Tive uns três contatos com ela. Foram, inclusive, conversas muito amenas. Na primeira vez, eu a procurei porque, no nosso entendimento, a venda da VarigLog [para o fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros para quem Valeska e o pai advogavam] já estava aprovada pelo antigo DAC. E esse processo não poderia ser reaberto, como ela queria fazer. Ela estava numa reunião. Falou que depois me receberia. Não me recebeu. Eu deixei os pareceres jurídicos que defendiam nossa tese com outra pessoa. E ficou nisso.

- E os outros encontros?

VALESKA - Numa outra vez, depois de muitos e muitos meses, eu estava na Anac, com outros advogados, e a Denise Abreu me chamou. Eu até achei estranho: ela começou a se abrir comigo. Disse: "Ai, eu fico muito chateada com os ataques que a imprensa faz à minha pessoa por conta da minha relação com o ex-ministro José Dirceu." Eu me solidarizei com ela, obviamente. E ofereci um modelo de petição, a minuta de uma ação que nós temos contra esse mesmo jornalista, que nos atacava também.

- Que jornalista?

VALESKA - Prefiro omitir o nome. O fato é que nós oferecemos a petição e ela adorou muito. A Denise Abreu falou também que tinha muita mágoa do presidente Lula. Ela disse: "A maior mágoa da minha vida é o presidente Lula nunca ter me recebido". Eu falei: "Olha, eu não posso te ajudar. É um momento atribuladíssimo do país, época de campanha eleitoral [em 2006], não posso te ajudar nesse sentido." E elogiei muito a bolsa Louis Vuitton dela. Ela tinha acabado de chegar de uma viagem particular à Europa. Elogiei a bolsa e o relógio, que era bem chamativo.

- Denise Abreu diz que você usava o nome do presidente Lula, que é compadre do seu pai, para pressionar a favor de seus clientes.

VALESKA - Tenho muito orgulho de nosso relacionamento pessoal, mas nunca usei o nome de Lula. Se, em vez de me apresentar como advogada, eu me apresentasse como afilhada do Lula, estaria me diminuindo. Eu sou advogada antes de qualquer coisa. E advogo bem.

- Vocês têm relação próxima com o presidente Lula, familiar. Nunca tiveram oportunidade de reclamar com ele da Denise?

VALESKA - Eu cresci com ele. Só que Lula é o presidente do país. Se alguém imagina que Lula tem tempo para ouvir fofoca, "tá" muito equivocado. E estávamos em 2006. Era uma época atribulada, o presidente Lula estava em plena campanha da reeleição. Nós reclamamos dela, sim, mas pelas vias legítimas. Fizemos uma representação contra a Denise no Ministério da Defesa e entramos com mandado de segurança na Justiça Federal de Brasília.

- De que reclamavam?

VALESKA - O processo [de compra da VarigLog pelo fundo Matlin Patterson e pelos sócios brasileiros] já estava finalizado pelo antigo DAC, com todos os pareceres das áreas técnicas aprovando a operação. Quando meu cliente fez a proposta para a compra da Varig [a VarigLog adquiriu a empresa e depois vendeu para a Gol], a Denise Abreu resolveu reabrir o processo. Os pareceres favoráveis à operação sumiram do processo administrativo. E apareceram outros, inconclusivos.

- Ela diz outra coisa: que pareceres contrários aos interesses de seus clientes foram modificados depois de pressão feita pela ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.

VALESKA - Será que não foi o contrário? Os pareceres favoráveis somem e aparecem novos, contra a operação. Depois, apresentamos todos os documentos solicitados num ofício dela [Denise Abreu]. E aí concluíram novamente pela aprovação. Esses são os fatos.

- Documentos mostram que o fundo americano Matlin Patterson emprestou dinheiro para os sócios brasileiros entrarem na empresa. Ou seja, o dinheiro não era deles, o que burlaria a legislação, que exige que 80% do capital de empresa aérea seja nacional.

VALESKA - Eles [sócios brasileiros] fizeram empréstimo pessoal no banco JP Morgan para subscrever as ações da Volo Brasil [que adquiriu a Varig- Log]. O fundo Matlin Patterson emprestou dinheiro para a empresa investir.

- Reclamaram de Denise Abreu com a ministra Dilma?

VALESKA - Não. Não.

- E por que a ministra Dilma interferiu no processo?

VALESKA - Eu duvido que tenha acontecido isso. A minha percepção das coisas, o que eu vivi lá, foi o seguinte: nós ficávamos em sala de espera, junto com outros advogados. E tudo, tudo foi feito nos autos do processo de recuperação judicial da Varig, que corria na 1ª Vara Empersarial do Rio de Janeiro. Se não fosse a Denise Abreu, a Varig hoje seria a terceira maior companhia do país. A demora do processo prejudicou muito a empresa. Falar que o processo foi recorde... A Anac prometeu fazer a homologação [para funcionamento da VarigLog] em um mês. Demorou seis. A empresa não conseguia fazer leasing de avião, não conseguia crédito.

- Denise diz que foi acusada de trabalhar para a TAM quando apenas zelava pela lisura da operação e que inclusive foi impedida de pedir o imposto de renda dos sócios para comprovar que eles tinham como comprar a VarigLog. Vocês fizeram essa acusação?

VALESKA - Não. A única coisa que eu sei, que eu vi, que eu vivi, era o esforço que ela fazia para que a Varig não sobrevivesse. É a única coisa que posso relatar, por ter vivido.

"Ela [Denise Abreu] tinha acabado de chegar de uma viagem particular à Europa. Elogiei a bolsa Louis Vuitton e o relógio, que era bem chamativo"

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