Estrategistas de Kassab divergem sobre rumos da campanha


A demora na reação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), nas pesquisas para a eleição municipal deste ano fez aumentar a pressão de seus aliados por mais recursos e já fomenta uma divisão entre o comando político da candidatura e os profissionais da campanha sobre estratégias para reversão do quadro.

Há vários meses Kassab aparece em terceiro lugar, distante de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marta Suplicy (PT) e empatado com Paulo Maluf (PP). Nas últimas sondagens, o prefeito perdeu alguns pontos percentuais e ficou com 11% na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada. Na cúpula do DEM, o resultado foi recebido com frustração. A expectativa inicial dos dirigentes partidários era que o prefeito entrasse no mês de agosto com índices em torno de 18%.

Kassab e dirigentes do DEM foram aconselhados pela área técnica da campanha em uma recente reunião a terem sangue frio. A avaliação é que existe uma tendência à polarização entre Marta e Alckmin, cada um veterano de três candidaturas majoritárias. Kassab, que jamais foi cabeça de chapa, só teria como romper este quadro com a força do horário eleitoral gratuito de rádio e TV não antes da terceira semana de programação, ou seja, em meados de setembro.

Há divergências sobre o tom que o prefeito deve usar na campanha até lá. O DEM é favorável à linha atual, em que Kassab procura forçar uma polarização com a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), procurando comparar as gestões e fazendo provocações, como o uso político da inclusão da petista na lista de candidatos que respondem a ações penais, improbidade administrativa ou crimes eleitorais, elaborada pela Associação dos Magistrados Brasileiros. Estrategistas da campanha afirmam que esta é uma conduta perigosa, já que deixa Alckmin na confortável posição de espectador. Lembram que o integrante do DEM precisa tirar votos do tucano e que uma linha propositiva seria a mais adequada.

Para dirigentes do DEM, está completamente descartada a possibilidade de Kassab recorrer a ataques a Alckmin para crescer. O partido conta com a manutenção da aliança PSDB-DEM na eleição de 2010 e , em caso de derrota de Kassab, que é o cenário mais provável neste instante, o atual prefeito poderia ser lançado como candidato a governador, na hipótese do governador José Serra (PSDB) disputar a presidência ou não concorrer à reeleição. Ainda que o bombardeio sobre a prefeita favoreça o tucano, a cúpula do DEM chegou à conclusão que, na hipótese de Kassab não decolar, a vitória do PSDB favoreceria mais ao partido que um triunfo de Marta em São Paulo.

Sem poder lançar mão do apoio da ala tucana identificada com o governador José Serra , em função da legislação partidária, o comando da campanha de Kassab integrou praticamente todos os tucanos do primeiro escalão do governo no esforço para fazer o prefeito decolar. Partido de estrutura frágil, o DEM não tem capilaridade necessária para sustentar uma campanha de rua em São Paulo e Kassab se vale dos militantes do PSDB que estão no governo para estabelecer ligações com líderes comunitários e associações de bairro.

O PMDB ainda não embarcou na candidatura de Kassab, apesar de a campanha do prefeito destacar que a vice pemedebista, Alda Marco Antônio, está presente em eventos públicos ao lado do candidato. O exército de candidatos a vereador do PMDB não se pôs a serviço do prefeito. Um dos motivos para o descontentamento é financeiro e pemedebistas cobram o fornecimento, às expensas da candidatura majoritária, de material impresso para a campanha, algo que só deve começar a ser distribuído depois da primeira semana de agosto. Para contornar a insatisfação, Kassab e o ex-governador Orestes Quércia, presidente do diretório estadual do PMDB, se encontraram este sábado para discutir o tema.

"Existem muitos descontentamentos no PMDB. Os candidatos pensavam que a candidatura majoritária já estaria ajudando a campanha deles", relatou um dirigente. "Em casa que falta pão todo mundo briga e ninguém tem razão", comentou.

O temor de candidatos a vereador é que os recursos, quando vierem, sejam escassos. "Quando o candidato a prefeito está bem nas pesquisas, ele recebe muito dinheiro. Agora quando está mal, como a do Kassab, os financiadores tiram o pé do acelerador", analisou um candidato do PMDB. "Eu só vou assumir compromisso com o Kassab quando ele assumir compromisso comigo", disse, referindo-se ao financiamento de sua campanha.

Além do descontentamento de pemedebistas, a campanha de Kassab também está vendo o esvaziamento de vereadores tucanos que o apoiavam. Os candidatos tucanos à reeleição da Câmara Municipal estão migrando para a campanha de Geraldo Alckmin. Até o mês passado, 11 de 12 vereadores apoiavam, em bloco, a reeleição de Kassab. Mesmo depois de o PSDB decidir, na convenção partidária, que lançaria candidatura própria, com Alckmin, a maior parte dos vereadores continuou apoiando o prefeito. Agora a situação mudou, assim como o tom dos discursos desses parlamentares.

"Avaliamos que seria melhor que cada um fizesse o que sua consciência mandasse", disse o líder do PSDB na Câmara Municipal, Gilberto Natalini. "Sou partidário e respeito a decisão do PSDB. Estou tocando minha campanha'", desconversou Natalini, em referência a Marta Suplicy. A lei eleitoral e a próprio formato do horário de rádio e TV tucano desaconselham a dissidência. O coordenador da campanha, deputado Edson Aparecido (SP), estipulou que todas as peças de propaganda dos candidatos a vereadores serão padronizadas, com uma mensagem de apoio ao candidato majoritário.

O deputado negou que os candidatos a vereadores tucanos tenham sido ameaçados de perderem o direito de aparecer no horário gratuito, caso não cedessem, conforme versão divulgada por aliados de Kassab, mas não descarta recorrer à Justiça caso a dissidência se materialize no decorrer da campanha. "Há normas da Justiça Eleitoral que precisam ser cumpridas", disse

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