O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega à bateria de reuniões de hoje entre o G-5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) e o G-8 com um roteiro preparado para empurrar aos países ricos a responsabilidade maior pelos problemas globais. Em três sessões, os dois grupos discutirão, pela ordem: crise alimentar, mudanças climáticas e inflação global.
Lula vai focar em dois pontos centrais, a julgar pelas informações que circulavam no Itamaraty às vésperas da viagem. Primeiro, a insistência em que os biocombustíveis não são necessariamente os vilões da alta dos alimentos. Ao contrário, o governo brasileiro sustentará que a produção de etanol — o de cana-de-açúcar — ou biodiesel pode ser alavanca para o crescimento econômico justamente nos países onde a inflação dos alimentos atinge os mais pobres. Citará exemplos de programas-piloto na África, como o desenvolvido em Gana para fornecer etanol à Suécia, segundo o modelo da cooperação triangular.
O segundo eixo de intervenção será a defesa (complicada) da isenção de metas de corte de emissões para economias como as da China e Índia, que já hoje respondem por um quarto dos gases produzidos pela atividade humana. A tese brasileira, em resumo, é de que as economias industriais têm a responsabilidade principal pelo aquecimento do planeta, e não podem agora “usar” o pretexto ambiental para “frear o desenvolvimento” dos emergentes. O diplomata lembra que a maioria dos chineses e indianos ainda vive no campo, em muitos casos sem eletricidade. “Você não vai dizer ao camponês da China que ele tem de ficar sem luz porque a usina elétrica vai provocar muitas emissões de gases”, argumenta o negociador brasileiro.
Ontem os presidentes do G-5 fizeram uma reunião preparatória. E querem dos países dos ricos mais disposição para lidar com a alta de preços de alimentos e petróleo. “Há má gerência do mercado financeiro, que vem transferindo recursos de investimentos para aplicações futuras em commodities. Essa especulação nos preços futuros dos alimentos e do petróleo está causando distorções nos preços atuais, então alguma ação deve ser feita no sentido de se reduzir a especulação”, atacou o presidente do México, Felipe Calderón.
Abrindo portas
O encontro entre os países ricos e os em desenvolvimento é considerado da maior importância pelo Brasil. “Esse diálogo se refere a coisas muito concretas na vida das pessoas, e é extremamente importante, pois envolve as 13 maiores economias do mundo, responsáveis por 80% do PIB mundial.” Na visão do Itamaraty, a inclusão progressiva do G-5 na agenda do G-8 decorre não de uma vontade de ampliar o clube, mas da constatação de que é impossível avançar em certos temas sem acordo com os países emergentes.
Na cúpula do ano passado, em Heiligendamm (Alemanha), a anfitriã Angela Merkel — ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, uma das mais abertas à participação dos cinco — costurou a definição de uma agenda comum. Os temas são desenvolvimento, energia, inovação e investimentos. “O Brasil e seus parceiros do G-5 estão participando da construção de uma nova ordem mundial”, avalia o diplomata. “Estamos atravessando um período de transição, em que o G-5 amplia seu papel graças à maturidade institucional que os países alcançaram, e às posições consistentes que apresentam em temas da agenda internacional.”
Segundo explicou à reportagem um diplomata que acompanha de perto o processo, as sessões de debates dos líderes do G-8 funcionam em regime relativamente informal. O anfitrião preside e coordena os debates: introduz o tema, convida os demais a se pronunciarem e coloca as balizas para orientar a troca de opiniões. Os convidados não lêem discursos: fazem intervenções breves e coloquiais, com base em tópicos preparados por suas equipes.
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