Os indesculpáveis pedem desculpas


"Aja ou saia, faça ou vá embora. Nunca explique, nunca se desculpe", ordenou Nelson Jobim no discurso de posse no Ministério da Defesa. O caso dos três jovens moradores do Morro da Providência assassinados na Favela da Mangueira comprovou que Jobim faz exatamente contrário do que diz. Não agiu para evitar que o Exército deslocasse um destacamento para o canteiro de votos do senador Marcelo Crivella no Morro da Providência. Não agiu mas não saiu. Nada fez para que a tropa voltasse ao quartel.

Nada fez mas não foi embora. Atropelado pela descoberta de que o triplo assassinato foi consumado em parceria por militares e narcotraficantes, o ministro tentou explicar o inexplicável e se desculpou com os parentes das vítimas. Foi promovido a Pedinte-Geral de Perdão da União. E a moda pegou.

Em menos de 20 dias, 32 crianças recém-nascidas foram exterminadas na Santa Casa de Misericórdia de Belém, capital do Pará. "As mortes estão dentro do aceitável", explicou a secretária da Saúde, Laura Rossetti. "Isso vem acontecendo há muito tempo", desculpou-se a governadora Ana Júlia Carepa. Ela diz a mesma frase sempre que estabelece um novo recorde de incompetência. Já que as coisas estão mudando para pior, deveria devolver o cargo a qualquer antecessor.

Numa rua do Rio, um menino de 3 anos foi metralhado por soldados da Polícia Militar no carro em que estava com a mãe e o irmão. Lá agora é assim: a polícia atira primeiro e pergunta depois. O secretário de Segurança explicou que foi um equívoco. E pediu desculpas. Mas não saiu. O governador Sérgio Cabral qualificou os matadores de "débeis mentais". Nem pensa em ir embora. Mas pediu desculpas aos pais devastados pela dor que não passa.

O ministro da Defesa, o governador do Rio, a governadora do Pará, o secretário de Segurança, a secretária da Saúde, nenhum agiu a tempo, nenhum fez o que deveria ser feito. E nenhum vai cair fora.

Um presidente na encruzilhada

Os sucessivos recordes de popularidade estabelecidos por Alvaro Uribe comprovam que a imensa maioria do povo colombiano exigirá do próximo presidente - seja ele quem for - o prosseguimento do confronto militar com as Farc até a erradicação do narcoterrorismo. Mais um motivo para que Uribe resista à tentação de estuprar a Constituição para conseguir o terceiro mandato consecutivo.

Se tiver juízo e grandeza, Alvaro Uribe será lembrado como o governante que feriu de morte o bando de assassinos da selva, devolveu a paz à terra conflagrada e consolidou a democracia colombiana. Se capitular, será mais um entre tantos pais da pátria latino-americanos que preferiram prorrogar a permanência no poder - por fugazes quatro anos - a eternizar-se na História.

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