A Polícia Federal anunciou ontem o nome dos delegados Ricardo Saadi e Érika Mialik Marena como os novos responsáveis pela Operações Satiagraha, que investiga os investidores Daniel Dantas e Naji Nahas, além do ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, por lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e evasão de divisas. Eles substituem o delegado Protógenes Queiroz - que, oficialmente, deixou o comando dos trabalhos para fazer um curso interno de especialização - , Karina Murakami Souza (que alegou problemas pessoais) e Carlos Eduardo Pelegrine, que não fazia parte das investigações e estava cedido apenas para atuar na fase ostensiva da operação.
A saída de Protógenes gerou uma manifestação do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele criticou o delegado. "Moralmente, esse cidadão tem que ficar no cargo até terminar esse relatório, entregá-lo para o Ministério Público e depois, então, ele pode se afastar. A não ser que ele queira e diga que não queira", disse Lula.
Os novos responsáveis pelo caso são delegados com reputação de firmeza na Polícia Federal. Saadi é chefe do departamento de combate à crimes financeiros em São Paulo e atuou na Operação Kaspar II, investigação que descobriu um esquema montado por gerentes de bancos suíços e doleiros brasileiros para enviar e receber dinheiro em contas na Suíça. Érika destacou-se nas investigações do caso Banestado e Beacon Hill, uma das maiores lavadoras de dinheiro do mundo.
O que mais incomoda Lula e o governo não é a saída do delegado, mas a impressão pública de que ele deixou o cargo por pressão do Executivo diante da importância das pessoas presas. Na terça, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, já haviam rebatido insinuações de que a polêmica em torno da operação devia-se ao fato de ter prendido "figurões". Lula voltou a criticar as insinuações e cobrou desmentido de quem apontava pressões sobre Protógenes.
"Ele não pode, na hora de finalizar o relatório, dizer "eu vou embora fazer meu curso", deixar para outro e ainda dar vazão à insinuações de que foi tirado", reagiu Lula. "Vender essa idéia é, no mínimo, uma atuação de má-fé."
Lula ameaçou procurar o ministro da Justiça para exigir a permanência de Protógenes. Pouco depois das críticas, a PF divulgou nota na qual afirmava que a parte do relatório que cabe ao delegado licenciado estará concluída até sexta, embora vários documentos ainda não analisados tenham sido recolhidos na semana passada em uma parede falsa do apartamento de Dantas.
Na nota, a PF afirma que Protógenes chegou a sugerir que freqüentaria o curso durante a semana e conduziria o inquérito aos sábados e domingos. "A sugestão não foi acatada pelos diretores (o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho; o chefe da Divisão de Combate aos Crimes Financeiros, Paulo de Tarso Teixeira e o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Leandro Daiello Coimbra), já que traria prejuízo às pessoas convidadas a prestar esclarecimentos junto à investigação", diz a nota.
Para a PF, outro empecilho seria que a saída sugerida por Protógenes comprometeria a celeridade da apuração e quebraria a regra de dedicação exclusiva exigida de todos os participantes na fase presencial. Lula concordou com a cúpula da PF.
O presidente também se manifestou sobre o telefonema do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh ao chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, pedindo informações sobre um homem que seguia Humberto Braz, ex-diretor da Brasil Telecom Participações, detido pela Satiagraha. Na segunda, Carvalho explicou-se perante os integrantes da coordenação política e divulgou nota negando tráfico de influência. Lula defendeu seu secretário pessoal.
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