Quem pode mais, chora menos


O governo Lula entrou numa guerra de mídia contra o delegado Protógenes Queiroz. O objetivo é impedir que o policial, responsável pelas prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas, pose de vítima de uma “operação abafa” desfechada pelo Palácio do Planalto. Ontem, a direção da Polícia Federal entregou aos jornalistas gravações com três trechos da reunião na qual Protógenes acertou sua saída do inquérito sobre a Operação Satiagraha. Ao todo são seis minutos, pinçados de uma conversa que durou mais de duas horas. Os trechos foram escolhidos para tentar provar a tese oficial, segundo a qual o delegado saiu do caso por vontade própria, para concluir um curso na Academia de Polícia.

A atuação de Protógenes irritava o Palácio do Planalto, especialmente pelo vazamento constante de informações do inquérito contra figuras do governo. Os grampos da Operação Satiagraha alcançaram até Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O descontentamento gerou pressão sobre o delegado, que pediu para sair. Mas seu afastamento provocou ainda mais danos políticos.

Lula começou o dia ontem reunido com o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor-interino da Polícia Federal, Romero Lucena Menezes. O presidente avaliou que Protógenes estava vencendo a peleja pela opinião pública. Nos últimos dias, a maior parte da mídia bateu na tecla de que o afastamento do delegado seria uma represália contra o envolvimento de pessoas do governo nas investigações. Algumas reportagens traziam detalhes que só poderiam ter sido passados pelo próprio Protógenes. Para reagir, o governo decidiu tentar derrubar a versão do delegado.

À tarde, a PF deu curso à operação, divulgando as gravações, realizadas na reunião que o delegado teve segunda-feira passada com a cúpula da PF e que selou seu afastamento. Os trechos foram escolhidos cirurgicamente. Num deles, Protógenes agradece o apoio que teria recebido do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. A citação combate a versão de que Corrêa teria pressionado o delegado para obter informações sobre as prisões e retirado a estrutura necessária para a investigação.

Em outro trecho, o delegado registra não ter interesse em voltar à operação depois de concluir seu curso na academia. E, no último, fica decidido que ele teria prazo até hoje para concluir seu relatório e depois teria de entregar o caso a outros delegados. A versão de Protógenes é diferente. Ele tem dito que se ofereceu para continuar cuidando do processo aos finais de semana. Só depois que a proposta não foi aceita, teria anunciado o afastamento. Isso não aparece nas gravações escolhidas pelo governo.

Afastando-se agora, o delegado não poderá acompanhar etapas importantes do processo, que podem incluir novas investigações a pedido do Ministério Público. Para citar apenas uma, ainda não foi concluída a perícia nos computadores apreendidos na operação.

Investigação
O ministro Tarso Genro negou pressões contra o delegado, mas confirmou que haverá uma investigação sobre os vazamentos de informações. “Esste inquérito quebrou normas que eu impus, como a proibição de que equipes de TV fossem levadas para testemunhar as prisões. Na gravação, o próprio delegado reconhece que isso foi um erro”. Para o ministro, “o espisódio está totalmente encerrado”.

“Ele (Protógenes) terminará seu trabalho nesta sexta-feira e vai para a academia, como estava previsto”, diz Tarso. “Se o procurador responsável pelo caso quiser novas diligências, elas serão feitas por outros delegados.”
Não está descartada a possibilidade de os delegados Karina Murakami e Carlos Eduardo Pelegrini Magro, que auxiliaram Protógenes nas investigações da Operação Satiagraha e que também deixaram o caso, voltem a trabalhar no inquérito.


Trechos da gravação
Protógenes Queiroz
(...) Eu não preciso nem falar em relação ao doutor Troncon, que é um chefe ímpar, que me deu toda (trecho editado) (…) Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente, eu destaco doutor Troncon, doutor Roberto Troncon. Em segundo, o doutor Leandro. Em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia me esquecer aqui do doutor Luiz Fernando Corrêa, também. Ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Acho que na minha avaliação, tirando os erros que a gente está avaliando hoje aqui, hoje aqui é uma avaliação de erro para nós corrigirmos e nos policiarmos, né? Houve a presença da imprensa aqui em São Paulo, houve. Falhou, falhou. Quem falhou? O Queiroz falhou porque o doutor Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle. (...)

(...) E até mesmo depois da academia eu não pretendo. A minha proposta é: eu fico até o final da operação, porque eu criei um problema para os meus colegas delegados, criei um grande problema, e eu acredito que para você (Troncon) também, e a minha proposta é essa. É permanecer a minha vinculação no seu gabinete à sua disposição até o final dos trabalhos, para não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos estados e deixa no meio do caminho. As minhas nunca ficaram no meio do caminho. As minhas nunca ficaram. E, a exemplo dessa, não vai ficar. Só que com um diferencial. Eu não vou estar presidindo, eu não pretendo presidir nenhuma investigação. Aí ficaria uma coisa, um trabalho, coletando dados.(...)

Roberto Troncon
(...) Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instaurou, se você concluir antes desse período de você ir pra academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir, dentro da melhor técnica, se falar não, se requer mais tempo, requer maior análise, aí a gente passa para um dos colegas. (...)

Protógenes
(…) Esse inquérito está sequinho. Eu já tenho... Como é que ele se materializou? Ele se materializa com análise do laudo, a análise do HD, que eram as informações passadas, que foi estratificadas (sic) através desse laudo da Polícia Federal, cortejado com dados atualizados no decorrer de um ano e meio de interceptação telefônica e interceptação de e-mails ao transitar documentos. Então, além de outros crimes que dão fortemente a materialidade da gestão fraudulenta, tá? E a… a estratégia foi justamente fazer três instrumentos para poder facilitar o trabalho. Aí conversei com o Fausto (de Sanctis, juiz da causa) isso e ele achou boa idéia, ainda que lá na frente tudo (sic) sucumbir. Tá, uma canal só para a sexta vara (onde está o inquérito). (...)

Troncon
(...) Agora outra coisa que é importante deixar muito claro aqui: esses inquéritos são tombados na Delefin (Delegacia de Crimes Financeiros). O Saadi (Ricardo Saadi, que vai assumir o caso) está aqui porque está como chefe da Delefin, mas o superintendente está dizendo que ele vai permanecer. (…)


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