Protagonista da maior crise política enfrentada pela governadora Yeda Crusius (PSDB) a partir da divulgação de uma conversa gravada com o ex-chefe da Casa Civil, Cezar Busatto, há um mês, o vice-governador e empresário Paulo Afonso Feijó (DEM) começa a ser visto como potencial candidato ao Palácio Piratini em 2010. Para adversários políticos ele é "candidatíssimo", enquanto amigos do meio empresarial admitem que, embora ele não seja uma "unanimidade" entre seus pares, poderá angariar apoios importantes porque personifica idéias caras ao setor como a redução de impostos e um Estado enxuto e eficiente, e porque está conquistando a simpatia do eleitor médio graças à cruzada anti-corrupção que vem fazendo por dentro da administração estadual.
Fora do núcleo decisório do governo desde o início da gestão, Feijó nega ter ambições políticas, mas não fecha portas para uma candidatura em 2010: "A decisão não é unicamente pessoal. Em primeiro lugar, é familiar, em segundo, empresarial e em terceiro, do partido". "É muito cedo para definir isto." Neste ano, ele admite acompanhar o candidato do partido à prefeitura de Porto Alegre, deputado Onyx Lorenzoni, em eventos "fora do horário de expediente".
Liberal convicto e assumido, mantém o estilo polêmico e a crítica afiada a Yeda. "É centralizadora e totalmente autoritária, não dá responsabilidade a absolutamente ninguém", disse. "As decisões (de governo) são todas dela". Os problemas entre os dois começaram já na passagem ao segundo turno em 2006, quando, segundo ele, a governadora "esfriou o DEM (então PFL) e fez aliança com o PP e com o PMDB". Ele reconhece como "válida" a tentativa de Yeda de se aproximar dos grandes partidos para governar, mas não perdoa o tratamento aos aliados de primeira hora. "Ela nos abandonou, nos traiu".
Por enquanto Feijó aguarda a decisão da executiva nacional do DEM, depois que o senador Heráclito Fortes (PI) pediu sua expulsão pela divulgação da conversa com Busatto, que, sem saber da gravação, admitiu que estatais e órgãos públicos como o Banrisul e o Detran serviam de fonte de financiamento a partidos aliados. O relator do caso, deputado André de Paula (PE), optou por uma saída intermediária e vai propor uma censura pública ao método empregado no episódio, mas o desfecho, que pode ocorrer nesta semana, não preocupa o vice-governador. "Cabe ao partido tomar a decisão."
Classificado pelos amigos como "obstinado" e "afável" e também como "brigão" quando entende ser necessário, Feijó já foi presidente de entidades como a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul) e tinha planos de entrar na política em 2006 disputando uma vaga no Senado. Ele já tinha equipe montada há duas semanas para isso quando, às vésperas do registro da chapa, foi convidado pela então candidata à governadora para assumir o posto de vice. "Eu disse: não, de forma alguma, mas no dia seguinte nos jornais eu era o vice", lembrou.
A partir dali, Feijó valeu-se de contatos para angariar fundos para a campanha. "Contribuí bastante com o meu network", disse. Mas só até o fim do primeiro turno, quando Yeda pediu que ele renunciasse, o que não foi aceito. A relação entre ambos, então, azedou de vez e antes da posse Feijó chegou a participar de uma passeata contra o aumento do ICMS proposto pelo então governador Germano Rigotto (PMDB) em acordo com a governadora eleita. Depois disto, o alvo passou a ser o presidente do Banrisul, Fernando Lemos, a quem o vice-governador acusa de irregularidades no cargo mas foi mantido no posto. "Eu quero simplesmente participar de decisões do governo. Nada mais do que isso".
Segundo o porta-voz do governo gaúcho, Paulo Fona, o vice-governador acusa Yeda de "autoritária" porque não conhece o modelo de gestão adotado por ela, baseado em câmaras setoriais onde as decisões são discutidas por todas as secretarias antes de serem adotadas. Além disto, de acordo com ele, quem traiu o governo foi o próprio Feijó, que antes de tomar posse manifestou-se contrário à proposta relativa ao ICMS.
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