Parentes que elegem um vereador


Onze filhos, seis noras, cinco genros e 68 netos. No município goiano de Vila Boa, esse contingente eleitoral é capaz de eleger um vereador. A cidade do Entorno do Distrito Federal é citada nas estatísticas como a segunda menor na região, com apenas 4.198 habitantes. Desses, 3.566 votam. Matematicamente falando, a família de João Alves dos Santos equivale a 2,5% do eleitorado. Na prática, significa dizer que tem potencial para eleger até dois vereadores, se estiver unida, é claro.

Foi o que aconteceu em 2000, quando os Alves dos Santos conseguiram emplacar dois herdeiros na Câmara Municipal. A empolgação foi tanta que há quatro anos perderam as vagas. Lançaram três candidatos e dividiram os votos. A estratégia de outubro será diferente. A família pretende concentrar os votos em apenas um dos representantes, Edson dos Santos Silva, o Ponda, como é conhecido na vizinhança.

A experiência política vivida pela família de Ponda está entre as particularidades da cidade do Entorno com um dos mais baixos contingentes eleitorais — só perde para Mimoso. No município, uma das variáveis mais importantes na disputa eleitoral é o tamanho da família que o candidato tem. Nesse contexto, a plataforma política do candidato nem sempre é o mais importante. “Eu nem gosto muito desse negócio de política não, mas se a gente precisa votar é melhor que seja em gente da família, pelo menos é de confiança”, justifica Agda de Souza Costa. Ela é tia de Ponda, que sairá na chapa do prefeito, candidato à reeleição.

Mesmo entre parentes, é preciso amarrar o voto em uma pesada campanha interna. “Sabe como é família grande, às vezes tem uma briga aqui e outra ali. E como o voto é secreto…”, diz tia Olímpia, chamada assim porque tem como sobrinhos boa parte da população no município. Mas se em Vila Boa é possível unir genro, sogra, irmãos, primos em torno de um mesmo ideal, a composição entre PT, PSDB e DEM não é tratada com espanto.

Único petista
A coligação que aposta na recondução do único candidato do PT no Entorno, Dr. Waldir Gualberto de Brito (leia matéria abaixo) é formada ainda pelo PPS, PSB, PTdoB e PP. “Na cidade, a gente costuma brincar que só o prefeito de Vila Boa conseguiu a proeza de unir petistas, democratas e tucanos”, comenta o secretário de saúde do município, Aurélio Herculano. Um dos candidatos de Cidade Ocidental também disputará com o apoio da aliança dos partidos que, na esfera nacional, são adversários.

Não é só a baixa quantidade de habitantes e de eleitores que coloca Vila Boa na berlinda das estatísticas. A cidade tem a segunda pior colocação no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na região, que mede a qualidade de vida da população com parâmetros no rendimento per capita, expectativa de vida e grau de alfabetização do lugar. Dos 246 municípios de Goiás, só 20 são considerados menos desenvolvidos que Vila Boa.

Apesar do desempenho baixo, a cidade está em segundo lugar na lista das cidades do Entorno em que a população mais gastou para manter em funcionamento as câmaras municipais em 2006, um dos três poderes responsáveis por tornar a vida das pessoas melhor. A despesa de Vila Boa com o Legislativo nesse período foi de R$ 268,3 mil. Esse valor dividido pelo número de habitantes é de R$ 74,19. Dos 19 municípios do Entorno, apenas os vereadores de Mimoso de Goiás gastaram mais que em Vila Boa: R$ 139,35.

Ficha técnica
Vila Boa
Distância de Brasília 163km

População 4.198 habitantes

Eleitorado 3.566 eleitores

Arrecadação do município R$ 4,5 milhões/ano

Candidatos a prefeito 2

Candidatos a vereador 30

Dois políticos disputam a prefeitura

Uma das peculiaridades de Vila Boa (GO) está relacionada ao desempenho do Partido dos Trabalhadores nas últimas eleições no Entorno. A cidade foi a única entre os 22 municípios da região em que o PT conseguiu eleger um prefeito há quatro anos. Dr. Waldir (nome de guerra que leva em conta a profissão de dentista) conseguiu a vitória em 2004 com a preferência de 1.392 eleitores. Foi motivo de comemoração para a legenda.

Agora o candidato da situação está empenhado em permanecer mais quatro anos à frente do Executivo em Vila Boa. Usa como argumento a seu favor o fato de ser do mesmo partido do presidente Luiz Inácio da Silva. “Se Deus quiser e nós ganharmos as eleições, vamos ter mais dois anos de uma parceria muito produtiva”, avalia o candidato. Dr. Waldir se refere ao conjunto dos recursos liberados para a cidade nos últimos três anos.

O fundo municipal de Vila Boa é de RS 4,5 milhões ao ano, o que representa pouco menos de R$ 400 mil por mês. Mas a liberação de emendas federais dobrou a capacidade de investimento da prefeitura, que pôde garantir, por exemplo, a programação do Executivo local de fazer 42 mil m² de calçadas, projeto ainda em execução e que se tornou o mote da campanha do prefeito licenciado.

Mas nem tudo é progresso em Vila Boa. O único adversário de Dr. Waldir nas eleições de outubro, o ex-prefeito Abeçolon Ribeiro de Moura (PR) – ele administrou a cidade duas vezes entre 1996 e 2003 — aponta o que usará na campanha para se contrapor ao concorrente: “A pavimentação de calçadas não é a nossa principal necessidade. A saúde e a educação estão muito ruins. Foram sucateadas”, ataca o candidato apoiado pelo PMDB e PDT.

No estacionamento da prefeitura, há dois ônibus escolares, uma ambulância, um caminhão e uma kombi sem a menor condição de uso. Os veículos estão enferrujados, os vidros quebrados e os bancos rasgados, como confirmou o Correio em visita à cidade na semana passada. (LT)

Sem dinheiro para o visual

Maria Aparecida Ferreira, 36 anos, é dona do único salão de beleza de Vila Boa (GO). A rotina da empresária é um termômetro da economia no município. Há semanas em que a cabeleireira atende apenas a duas clientes no Salão Celebridade. “O movimento só aumenta um pouco quando tem alguma festa importante”, diz. A principal fonte de renda dos moradores de Vila Boa é o emprego na prefeitura: 256 pessoas têm cargo no Executivo. A maior parte ganha salário mínimo. Uma parcela da população vive da roça e há 400 empregados na usina de álcool, nas imediações do município. Como circula pouco dinheiro em Vila Boa, o comércio é fraco. “As pessoas aqui não têm dinheiro para o essencial. Entendo que não queiram gastar com o visual”, lamenta Aparecida.

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