Setembro vai ser mês do petróleo


Vai se aproximando o “setembro do petróleo” e a temporada é de marcar posição ante a iminente decisão sobre o futuro das jazidas do pré-sal, especialmente pela garantia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que nada foi definido até agora. Governadores reclamam da repartição dos royalties, operadores do mercado financeiro calculam que vai faltar dinheiro se o Estado quiser investir sozinho, e acionistas da Petrobras temem a desvalorização de seus papéis, enquanto a estatal e o Ministério de Minas e Energia parecem tentar minar as propostas um do outro.

Setembro começa com o primeiro barril de petróleo de uma área ultraprofunda, no caso o campo de Jubarte, na Bahia. No dia 7, Lula fará um pronunciamento à Nação tendo o petróleo e independência como temas. E antes do fim do mês, no dia 19, fica pronta a proposta da comissão interministerial que estuda um novo modelo de exploração do óleo no país. É calendário para fazer do ouro negro a nova mania nacional.

“Acho que petróleo virou tema igual à Seleção Brasileira, todo mundo tem palpite”, resumiu o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que considera um debate “esquizofrênico” as mudanças na legislação. Como que para comprovar sua máxima, ele e os colegas do Espírito Santo, Paulo Hartung, e de Sergipe, Marcelo Déda, dividiram o seu.

“Enquanto a riqueza ficar lá embaixo, ninguém usufrui dela. Enquanto ficar essa esquizofrenia, o Brasil não ganha. Existem instrumentos importantes, como a Participação Especial, que por meio de decreto o governo brasileiro poderá aumentar sua arrecadação”, disse Cabral. O recado dos três governadores de estados produtores de petróleo, portanto, é que a lei deve ficar onde está.

Ainda que por motivos diferentes, a defesa do modelo atual, de concessões, predominou num seminário que reuniu, também no Rio de Janeiro, analistas do mercado de capitais. O presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa, Gilberto Mifano, afirmou que já foi procurado por acionistas da empresa, preocupados com os rumores da criação da estatal e os efeitos sobre as ações. “Não estou preocupado com investidores estrangeiros. Estou preocupado com 400 mil brasileiros que escolheram ter ações da Petrobras”, explicou.

Por outro viés, há quem desconfie da capacidade do país aportar os recursos necessários para transformar o óleo acumulado a seis mil metros de profundidade em riqueza. “Explorar o pré-sal demanda investimentos elevados, o que o governo não tem”, afirmou o presidente da associação dos analistas, a Apimec, Álvaro Bandeira, para quem as reservas do pré-sal só foram descobertas porque o governo quebrou o monopólio da exploração no setor e, com isso, permitiu a Petrobras realizar convênios com 37 companhias estrangeiras.

“Os investimentos são estimados em US$ 600 bilhões. Vamos precisar de outras empresas nesse processo”, avaliou o senador Delcídio Amaral (PT-MS). Esse tema, por sinal, está no cerne da mais recente divergência entre a Petrobras e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Nos planos da estatal está um aumento de capital de US$ 100 bilhões, o que exigiria um aporte de US$ 40 bilhões pela União, valor considerado alto pelo ministro.

“Isso não dá em nada. Se você aumenta o capital em US$ 100 bilhões e a União Federal, chamada a se manifestar, comparece com 40%, os outros também vão subscrever. Ou seja, a União continuaria com os mesmos 40%, tendo de desembolsar dinheiro para isso”, disse Lobão, referindo-se ao interesse dos acionistas minoritários no negócio.

A Petrobras, por meio seu gerente de Relações com Investidores, Elder Leite, rebateu que a empresa “sempre andou com as próprias pernas”, mas preferiu ser cauteloso a arriscar que isso também valeria para o pré-sal pois os números ainda seriam imprecisos. “É difícil dizer porque não temos ainda uma estimativa do volume de recursos que serão necessários.”

Boa parte do debate está em como utilizar o dinheiro gerado por essa riqueza. Aos partidos aliados, Lula teria sustentado mudanças na lei para que os novos recursos sejam convertidos na área social, mas também quer uma nova divisão dos royalties.


Petrobras puxa alta da Bovespa

A alta do preço do petróleo e dos metais garantiu à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) o terceiro pregão consecutivo de ganhos, engordados pela recuperação das bolsas americanas. Petrobras guiou as ordens de compras, amparada pela disparada do petróleo. As commodities metálicas acompanharam e Vale e siderúrgicas registraram variações robustas.

O Ibovespa terminou com variação de + 1,01%, aos 55.934,7. No mês, as perdas foram diminuídas a 6% e, no ano, a 12,45%. Apenas nestas três sessões, os ganhos somaram 4,89%. O volume financeiro totalizou R$ 4,635 bilhões. A alta da Bolsa doméstica foi impulsionada pela arrancada do petróleo, motivada por tensões geopolíticas e também pelo enfraquecimento do dólar.

A moeda norte americana voltou a cair no mercado e terminou com a terceira queda seguida em relação ao real, pressionado por novos indicadores ruins dos Estados Unidos e a migração dos investidores para o petróleo e outras commodities. Com a tensão entre os EUA e a Rússia e a persistente preocupação com a saúde do setor financeiro norte-americano, os agentes internacionais reduziram posições em dólar, direcionando os negócios domésticos. Por isso, segundo um operador, o aumento do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos do Brasil para US$ 2,111 bilhões em julho foi recebido sem pressão sobre as taxas de câmbio.

Em sessão de negócios reduzidos, o dólar terminou cotado a R$ 1,6100, com queda de 0,53% na BM&F e a R$ 1,61, com declínio de 0,56% no balcão.

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