Disputas municipais antecipam 2010 no Mato Grosso


Entre comícios, carreatas e "arrastões" populares, as eleições municipais em Mato Grosso anteciparam um clima de intensa disputa pelo governo estadual em 2010. Os virtuais candidatos ao Palácio Paiaguás, e seus padrinhos políticos, têm literalmente suado a camisa na tentativa de emplacar prefeitos aliados nos maiores colégios eleitorais do Estado.

A coligação de nove partidos que reelegeram o governador Blairo Maggi (PR), em 2006, rachou. Os comandos partidários buscam garantir agora mais espaço para as negociações em torno do Executivo estadual. E o reposicionamento dos líderes dessas legendas para 2010 depende diretamente do voto dos quase 2 milhões de eleitores espalhados por 141 municípios.

Neste complicado xadrez eleitoral, onde se misturam várias eleições, o PR, controlado pelo grupo de Blairo Maggi, está perdendo terreno para o Democratas, do senador Jayme Campos, e o PMDB, comandado pelo deputado federal Carlos Bezerra. E o PP do reeleito presidente da Assembléia Legislativa, José Riva, também ocupa novos espaços.

A imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é disputada por todos os candidatos. Em santinhos, carros de som e programas de TV, Lula aparece como principal cabo eleitoral, um reflexo do bom momento da economia e de programas sociais, como Bolsa Família e ProUni. Em Cuiabá, até o PSDB usa imagens de Lula e seus ministros, como Patrus Ananias, para cabalar votos.

Curiosamente, o PT não aproveita essa boa avaliação do governo Lula em Mato Grosso, ficando sem a cabeça de chapa nas principais cidades. O partido, que tem uma senadora e o deputado federal mais votado do Estado, indicou apenas candidatos a vice em Cuiabá, Várzea Grande e Sinop, cidades onde tem chances reduzidas de vitória. Em 2006, desgastado nas áreas de forte base rural em razão de uma crise de renda, e sem o palanque de Maggi, Lula perdeu o primeiro turno para o tucano Geraldo Alckmin. Foi uma larga margem: 233 mil de um total de 1,43 milhão de votos válidos. No segundo turno, com Maggi já reeleito e apoiando Lula de olho em cargos federais, a desvantagem caiu para apenas 8,8 mil votos. Em 2002, Lula havia ganho de José Serra nos dois turnos em Mato Grosso.

A disputa municipal tem tudo para marcar uma inflexão na carreira política do megaempresário Blairo Maggi, um neófito em política até seis anos atrás. Mesmo com uma gestão bem avaliada, e bastante influente no rico interior do Estado, o governador corre riscos de ver o fortalecimento de seus adversários em cidades-chave, o que influiria em sua corrida para o Senado e na eleição de seu sucessor. Aliados acusam Maggi de "atropelar" alianças. Influente em todos os Poderes estaduais, o deputado José Riva reclama: "Ele desconhece alianças e cria atritos. Tem que dosar sua participação na campanha. O PR tem feito um massacre com aliados".

Com o nome envolvido em denúncias de corrupção, mas sempre uma eminência parda nos governos, Riva sugere prudência ao afirmar, em tom de ameaça, que "Blairo faz um bom governo, mas vai precisar da aliança". De fato, Maggi tem minoria na Assembléia. "Vai haver feridas graves destas eleições. E uma CPI poderia complicar a vida do governador", avalia o analista político Adjaime Ramos. No Tribunal de Contas, é ainda pior, lembra. Maggi tem apenas um dos sete votos e a rejeição de suas contas pode deixá-lo fora de uma disputa ao Senado. "O Blairo subiu só em palanques do PR. O Jayme e o Riva vão querer dar o troco", prevê. Sem representar uma perspectiva de poder, Maggi pode viver um ocaso antecipado. Os empresários já reclamam do arrocho fiscal imposto pelo Estado. "Ele atacava os altos impostos, mas a arrecadação de ICMS só cresceu e o comércio reclama muito dessa fúria fiscal", analisa o cientista político Alfredo Menezes, professor da Universidade de Cuiabá (Unic). Maggi rebate: "Tinha gente que fazia caixa com sonegação fiscal. Isso acabou. E não tem volta".

Mesmo com as advertências aliadas e queixas de empresários, o governador sonha emplacar seu braço-direito Luiz Antônio Pagot no governo. Suplente de senador e hoje diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), Pagot tem ficado à distância. Mas tem o poder da caneta que pode tirar do papel investimentos de até R$ 3 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstos para Mato Grosso. "Mas o Pagot tem que se viabilizar logo", alerta. Na dúvida, Maggi pode apoiar seu vice, Silval Barbosa (PMDB). Por isso, deixará o cargo antes do prazo final, em abril de 2010. "Vou sair em dezembro [de 2009] e viajar uns 60 dias pela América do Sul", disse ao Valor. Assim, Silval teria um ano para trabalhar seu nome ao governo. "Temos muito tempo ainda", diz Barbosa.

Na capital, o governador enfrenta uma situação delicada. Precisa derrotar o atual prefeito tucano Wilson Santos, líder em todas as pesquisas, para evitar a terceira via na eleição de 2010. Por isso, lançou Mauro Mendes, um candidato-empresário à sua imagem e semelhança que amarga o terceiro lugar com apenas 13% das intenções de voto. Maggi reconhece a dificuldade, mas promete "empenho total" por Mendes: "Vamos trabalhar tudo o que pudermos. Temos que ganhar". Se triunfar, o ex-deputado federal Santos será nome certo para 2010. Sua carreira meteórica, iniciada em 1985 como assessor do então prefeito de Cuiabá Dante de Oliveira, pode ganhar impulso com a eleição em primeiro turno, como já apontam sondagens de institutos locais. "Essa eleição decide o cenário de 2010 para todo mundo, inclusive para o Blairo", avalia Wilson Santos. Hegemônica no Estado por duas décadas, a família Campos apóia o cantor e deputado estadual Walter Rabello (PP). Do outro lado do rio Coxipó, na vizinha Várzea Grande, segundo maior colégio eleitoral do Estado, o ex-governador Júlio Campos (DEM) está na frente do atual prefeito Murilo Domingos (PR), também apoiado por Maggi.

Mas o grande teste para Blairo Maggi será em Rondonópolis, seu berço político e terceiro maior colégio. O deputado estadual Zé do Pátio (PMDB) tem larga vantagem de 15 pontos sobre o atual prefeito Adilton Sachetti (PR), amigo de Maggi desde a juventude na paranaense São Miguel do Iguaçu. "Está difícil. A recuperação está muito lenta", admite Maggi. Se perder em casa, Maggi ficará mal. "E leva junto outros aliados", diz Alfredo Menezes. Nas pequenas cidades, porém, Maggi mantém forte influência. Bastou subir em alguns palanques do interior para ajudar seus candidatos. Das 68 candidaturas, ele estará em 35 palanques. Mas só do PR, o que tem irritado ainda mais seus aliados. "Todos querem ocupar meu espaço, mas não posso entrar no dos outros?", reclama Maggi. (Mauro Zanatta do jornal Valor Econômico))

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