O secretário da Segurança Pública de SP, Ronaldo Marzagão, anunciou ontem à tarde a realização de uma "operação saturação" a partir de hoje na região da favela de Paraisópolis, zona oeste de São Paulo, como forma de identificar e prender os responsáveis pelos confrontos com a polícia ocorridos anteontem.
Ontem, Paraisópolis era um autorama de carros da polícia -nada menos do que 124 trafegavam por lá. A bordo, 330 homens que só deixavam os veículos para revistar carros e moradores. Não se viam soldados a pé, apesar de os moradores ocuparem as ruas e o comércio funcionar normalmente.
Vinte e quatro horas depois do início dos enfrentamentos em Paraisópolis, a polícia ainda não crava uma hipótese para explicar o que levou grupos de moradores a atear fogo em carros, depredar casas e comércio, atirar em soldados e montar barricadas em vários pontos da favela. Agiram ou não a mando da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital)?, perguntou-se. "Ainda não se sabe", foi a resposta da Secretaria da Segurança Pública.
Apesar da negativa do "representante", a Folha apurou que a polícia investiga a hipótese de que o quebra-quebra de anteontem tenha o dedo do detento Francisco Antonio Cesário da Silva, 32, conhecido por "Piauí". Ele, é do PCC e suspeito de chefiar o tráfico e ser o braço-direito do PCC na favela, foi preso em agosto de 2008
No domingo passado, a mesma ação policial que resultou na morte de Marcos Porcino, 25, também prendeu Antonio Galdino de Oliveira, 24, que vem a ser cunhado de "Piauí". Essa operação policial foi apontada por vários envolvidos nos confrontos como o estopim da baderna.
Galdino trabalha na panificadora "Empório das Delícias", na qual a gerente é Francisca Cesário da Silva, de 35 anos, irmã de "Piauí".Segundo Francisca, a polícia forjou o flagrante por porte ilegal de armas contra seu companheiro. O motivo: ele teria presenciado a execução sumária de Marcos Porcino, por um soldado PM. Ela disse que hoje levará dezenas de testemunhas à Corregedoria da Polícia Militar para depor em defesa de Galdino. A Polícia Civil disse que investigará a denúncia.
Os três PMs feridos a bala nos confrontos devem passar hoje por cirurgia no Hospital da Polícia Militar. Eles não correm risco de morte. Ontem à noite, não havia nenhum preso acusado de participação nos confrontos de anteontem.
As ruas e botequins de Paraisópolis eram um mar de boatos ontem. A tese mais ouvida: a de que a comunidade havia finalmente resolvido se rebelar contra a tirania de "Zoio Roxo" (ou "Raio") e "Nego Zica", dois policiais que aparecem nas falas de jovens do bairro como os autores não de apenas uma mas de quatro mortes no fim de semana -eles "tocam o terror", disse um morador à Folha.
A suposta dupla -cuja existência a polícia diz desconhecer- teria matado Marcos Porcino, 25, com quem o padeiro Daniel Melo, 27, diz ter "crescido junto", e mais um "companheiro de crime", de nome "Roni". Segundo o padeiro, os dois "faziam uns corres [delitos] mesmo", mas "não eram ligados ao PCC não".
Melo diz ter "ficado sabendo" também que a dupla de policiais teria matado outros dois inocentes no domingo: um adolescente "de uns 14 anos" que estaria no carro junto com os bandidos e "um trabalhador", que estava indo para o serviço, viu tudo e, por isso, foi morto.
Apesar da riqueza de detalhes, ninguém sabe os nomes completos das vítimas, onde moram os parentes ou onde estariam os corpos desses mortos.
Questionado, o secretário Ronaldo Marzagão minimizou os boatos anti-PM -"são um grão de sal" na investigação, disse.
A boataria, porém, não era unânime. Muitos moradores atribuíram o conflito a uma minoria de baderneiros. "Aqui é um bairro ótimo, a maioria é trabalhador, aquilo foi coisa de baderneiro", disse o comerciante Elivalmir Gomes de Melo, 46.
A empregada doméstica Maria Aparecida de Jesus, que matriculava a filha na Escola Estadual Vila Andrade, na favela, dizia ter sido ameaçada por rapazes drogados que participaram da depredação. Ela já denunciou dois deles à polícia e diz que "Paraisópolis só será um lugar bom para se viver quando se livrar das drogas".
Governador em exército e Gilberto Kassab não comentam caso
O desembargador Roberto Antonio Valim Bellochi, governador em exercício do Estado, não quis falar ontem sobre a onda de violência em Paraisópolis. Bellochi assumiu o cargo devido às férias do governador José Serra (PSDB), que volta no dia 8, e às licenças do vice-governador, Alberto Goldman (PSDB), e do presidente da Assembleia, deputado Vaz de Lima (PSDB), que estão em viagem oficial ao Chile e retomam seus cargos hoje. A Folha também procurou a assessoria do prefeito Gilberto Kassab (DEM), mas não obteve resposta
O desembargador Roberto Antonio Valim Bellochi, governador em exercício de SP, atribuiu a responsabilidade pela violência em Paraisópolis a um "grupo de marginais". "Não há descontrole. Foi uma situação difícil, mas o secretário da Segurança, Ronaldo Marzagão, teve uma participação excelente." Bellochi ocupa o cargo porque José Serra está em férias -já o vice-governador, Alberto Goldman, e o presidente da Assembleia, Vaz de Lima, estão em viagem oficial ao Chile. A Folha procurou o prefeito Gilberto Kassab (DEM) para que ele comentasse o assunto, mas não obteve resposta.
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