José Múcio e Gim Argello tentaram evitar a criação da CPI, mas não conseguiram. Governistas acreditam que a comissão de inquérito não irá muito longe
Marcelo Rocha e Daniel Pereira
Sem Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, que cumpria agenda em seu estado, o Palácio do Planalto escalou o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), e o senador Gim Argello (DF), vice-líder do PTB na Casa, para tentar derrubar pelo menos seis assinaturas no requerimento de criação da CPI da Petrobras, lido ontem em plenário. Trinta e dois parlamentares o endossaram. São necessários pelo menos 27 para que a comissão seja instalada.
Múcio e Gim passaram a sexta-feira trancados em seus gabinetes ao telefone. Os dois tinham até meia-noite para convencer os colegas a desistir da investigação. A dupla mirava principalmente, em dois nomes: Romeu Tuma (SP) e Mozarildo Cavalcanti (RO), integrantes também do PTB. Até às 23h45, apenas Cristovam Buarque (PDT-DF) e ADELMIR SANTANA haviam cedido à pressão e retirado a assinatura.
Mesmo com a derrota, aliados do Planalto estão convencidos de que a apuração parlamentar contra supostas irregularidades na gestão da Petrobras não fará o barulho prometido. Se entre os adversários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cantilena é de que a administração petista explorou politicamente a estatal, os governistas entoam o mesmo canto ao lembrar que, antes de Lula, o tucano Fernando Henrique Cardoso governou o país por oito anos e a estatal recebeu o mesmo tratamento. Recordam-se ainda de um precedente: a recente CPI dos Cartões Corporativos, investigação que nada produziu pelo potencial de constrangimento tanto para a gestão FHC como para os anos Lula. Além disso, o Planalto avalia que a CPI não interessa ao PSDB, partido com perspectiva de poder a partir de 1º de janeiro de 2011.
Jogo de cena
Na visão de alguns integrantes da base aliada, o barulho que o líder tucano no Senado, Arhur Virgílio (AM), aprontou em plenário na quinta-feira à noite foi jogo de cena. Isso porque, naquele dia, Virgílio faltou à reunião dos líderes que selou, ao meio-dia, um acordo para adiar a leitura do requerimento de criação da CPI, ato que só se concretizaria caso as explicações do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, em audiência conjunta de três comissões não satisfizessem os questionamentos da oposição. Em sua defesa, o tucano alega que não sabia que a matéria seria discutida pelas lideranças.
O fato é que a ausência do PSDB na reunião para defender o requerimento de autoria do senador tucano Álvaro Dias (PR) repercutiu mal. E, horas depois, Virgílio decidiu exigir a leitura do documento em plenário. Não conseguiu, numa sessão tumultuada e encerrada pela petista Serys Slhessarenko (MT), segunda vice-presidente. Foi, então, acionado o plano B: mobilizar tucanos para a manhã destsa sexta. O primeiro-vice, Marconi Perillo (GO), que estava em Goiânia, pegou carona num jatinho de Tasso Jereissati (CE) para presidir a sessão. O governo não conseguiu mobilizar a tropa de choque e criticou Virgílio. O tucano retrucou: "Isso é conversa de bêbado para delegado. Que satisfação eu devo ao ministro (José Múcio)? Rompi com a minha primeira por que não romperia com o Múcio?"
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