Mercado volta ao nível de setembro de 2008


Contrariando aqueles que acham que a bolsa já subiu tudo e mais um pouco do que deveria, esse movimento de valorização vai de vento em popa. Há alguns dias, o Índice Bovespa vem tentando superar a marca dos 53 mil pontos. Isso chegou a ocorrer, mas logo em seguida as compras perderam força e o índice voltou a ficar abaixo dessa marca. Ontem, a história mudou. A bolsa passou o dia inteiro em alta, que ganhou ainda mais força no fim dos negócios, fazendo com que o Ibovespa fechasse com valorização de 2,41%, aos 53.040 pontos. É muito pouco acima, mas, enfim, acima dos fatídicos 53 mil pontos. Essa é a maior pontuação do indicador desde 19 de setembro do ano passado, quatro dias depois da quebra do banco americano Lehman Brothers, no dia 15, uma data emblemática, considerada o grande divisor de águas da crise.


Após 15 de setembro, a crise piorou muito e os ativos do mundo inteiro entraram num longo e profundo processo de desvalorização que ocorreu até meados do mês passado. Voltando a fita dessa crise, no dia 12 de setembro, uma sexta-feira, o Ibovespa fechou aos 52.392 pontos. Na segunda-feira, dia 15, já com a notícia da solene quebra do banco americano, o índice fechou aos 48.416 pontos, despencando nada menos do que 7,59%. No dia seguinte, o governo americano, percebendo os estragos que a quebra de outras instituições financeiras poderiam causar, correu para anunciar o pacote gigantesco de ajuda à seguradora AIG. Com isso, o Ibovespa se recuperou um pouco, fechando aos 49.228 pontos.

No ano, o Ibovespa já acumula alta de 41,25% em real e de 63,87% em dólar. Ou seja, se a bolsa em 2009 já trouxe alegrias aos investidores brasileiros, para os estrangeiros então nem se fala. Mais uma explicação para o fluxo recorde de entrada de recursos internacionais no pregão local.

O ânimo do mercado nas últimas semanas tem surpreendido um grupo cada vez maior de analistas que se baseiam nos fundamentos da economia e das empresas para fazer suas projeções. Em alguns dias, os indicadores não só não melhoraram, como vieram abaixo do esperado. Mais um motivo para os profissionais ficarem céticos quanto ao desempenho positivo dos ativos.

Ontem, foi um desses dias. As vendas de casas novas nos Estados Unidos cresceram 0,3% em abril, para uma taxa anualizada sazonalmente ajustada de 352 mil unidades, enquanto os economistas esperavam um acréscimo de 365 mil unidades. Comparado com o mês de abril do ano passado, as vendas do último mês tiveram uma queda de 34%. O resultado de março foi revisado para baixo, de 356 mil casas para 351 mil unidades, mais um dado negativo.

Assim como outros profissionais, o chefe da área de renda variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira, credita boa parte da recente valorização das ações ao fluxo de entrada de estrangeiros. "Quem entrou já ganhou mais de 60%; esse percentual deve animar ainda mais para que outros investidores desembarquem na bolsa", diz Sá Pereira. Ele afirma que ainda há uma grande quantidade de investidores institucionais estrangeiros com muito dinheiro em caixa.


Esperando Godot

Analistas e economistas acreditam que, mais dia menos dia, algum fator irá deflagrar um processo mais forte de realização de lucros dos mercados, reduzindo o tom exagerado de otimismo. Segundo Sá Pereira, alguns acreditam que esse catalisador será a economia da China, que deve começar a ratear a partir do terceiro trimestre. "O PIB chinês deve crescer bem neste semestre, impactado pelo pacote do governo de US$ 500 bilhões de estímulo ao crédito", diz Sá Pereira. "No entanto, percebendo que a economia passou a crescer muito, o governo já tirou o pé do estímulo ao crédito", explica ele. Outros profissionais acreditam que a volta da racionalidade virá junto com o verão nos EUA, que começa em agosto. Seja lá como for, muitos não acreditam nessa lua de mel do mercado.

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