O sistema bancário brasileiro começou o segundo bimestre de 2009 com liquidez mais do que suficiente para enfrentar eventual novo agravamento da crise


O setor de serviços, que salvou o Produto Interno Bruto (PIB) de uma queda mais forte no primeiro trimestre do ano, vê os seus preços ainda pressionados, a despeito do impacto da crise sobre a economia brasileira. Nos 12 meses até maio, o grupo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) formado por itens como empregados domésticos, cabeleireiro, aluguel, mensalidades escolares e conserto de automóveis teve alta de 7,23%, a maior variação desde dezembro de 2003, bem acima dos 5,2% registrados pelo indicador "cheio".

A resistência da massa de rendimentos é fundamental para explicar a pressão sobre essas cotações, assim como o crescimento do setor de serviços no PIB do primeiro trimestre, dizem analistas. Nos 12 meses até abril, a massa salarial ainda cresceu 6,8% acima da inflação, resultado da alta de 4,1% da renda real e de 2,6% da ocupação.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, nota que a piora do mercado de trabalho nesta crise não é tão intensa como em episódios anteriores de desaceleração da economia. Ele também destaca o forte aumento do salário mínimo, de 12%, que chegou em março ao bolso dos trabalhadores e dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Com isso, o poder de compra de muito consumidores não foi abalado pela turbulência econômica, dando combustível para manter os preços de serviços em alta firme.

Além de inflar a massa de rendimentos, o aumento do salário mínimo impacta diretamente alguns serviços. O item empregados domésticos, por exemplo, subiu 12,3% nos 12 meses até maio, como ressalta a economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores Associados. Com peso de cerca de 24% no IPCA, os serviços têm impedido um recuo mais forte do índice "cheio", diz Basililki.

O analista Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, lembra que alguns serviços são influenciados pela inflação passada. É o caso de itens como aluguel, em grande parte dos casos corrigido pelo Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M). Em 2008, vale notar, o IGP-M teve alta de 9,8%. Esse tipo de indexação ainda mantém elevado o grau de inércia inflacionária, o mecanismo pelo qual a inflação passada contamina a inflação futura. Nos 12 meses até maio, o grupo aluguéis e serviços residenciais subiu 7,4%, variação quase um ponto percentual superior à registrada no ano passado.

Os analistas esperam que a pressão sobre os serviços arrefeça um pouco nos próximos meses, mas ninguém aposta numa queda expressiva. Kinder, que projeta um IPCA de 4,1% em 2009, estima que os serviços fecharão o ano na casa de 6% - em 2008, a variação ficou em 6,58%. "Ao longo do segundo semestre, esses preços devem perder um pouco de força, mas a convergência para os níveis próximos do centro da meta, de 4,5%, deverá ser lenta", avalia Basiliki. Para ela, o efeito do aumento do salário mínimo vai diminuir nos próximos meses, e é possível que a taxa de desemprego suba mais um pouco. Basiliki prevê um IPCA de 4,5% neste ano, com os serviços em alta de 6,4%, um número bastante elevado.

Vale destacar que ninguém espera uma explosão do desemprego daqui para frente, o que ajuda a explicar a perspectiva de queda lenta da inflação de serviços daqui para frente. Em abril, a taxa de desocupação ficou em 8,9%, um ponto percentual acima da média de 7,9% de 2008. Ainda que suba mais nos próximos meses e a taxa média de 2009 fique na casa de 9,5%, será um resultado bem inferior aos 12,3% de 2003 e 11,5% de 2004.

Com um mercado de trabalho que não foi devastado pela crise, o setor de serviços conseguiu atenuar a queda do PIB no primeiro trimestre. Na comparação com o mesmo período de 2008, o segmento cresceu 1,7% - no mesmo intervalo, o PIB recuou 1,8%. "A sustentação da renda real no início deste ano amenizou a queda do produto interno via manutenção da demanda por serviços, assim como impediu a queda desses preços", resume, em relatório a MCM.

O grupo "outros serviços" foi o principal responsável pela alta do setor no primeiro trimestre, ao registrar expansão de 7%. Ele é composto pelo serviços prestados às empresas, às famílias, pelos de manutenção, reparação e os domésticos, além dos relacionados à saúde e educação. Segundo a MCM, "tomando por base a evolução do PIB industrial, é lícito imaginar que os serviços prestados às empresas também não tiveram desempenho brilhante. Restam os serviços prestados às famílias e outros, que provavelmente são responsáveis pela boa expansão deste subgrupo do PIB de serviços". Com a demanda firme, há espaço para repasses de preços nesses segmentos - nos 12 meses até maio, os serviços pessoais e de recreação subiram 8,2% e os médicos, 6,5%.

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