A estatal sueca Swedish Space Corporation (SSC), dedicada ao desenvolvimento de tecnologia espacial, está negociando a compra de novos foguetes de sondagem VSB-30, produzidos no Brasil pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), órgão de pesquisa do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Segundo o executivo-chefe da SSC, Lars Persson, a empresa já utilizou o VSB-30 em 11 lançamentos de experimentos científicos e tecnológicos apoiados pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Os dois lançamentos mais recentes ocorreram durante os meses de novembro e dezembro do ano passado, no campo de Esrange, em Kiruna, na Suécia. O VSB-30 começou a ser desenvolvido em 2001, a pedido da Agência Espacial Alemã (DLR), para atender ao programa europeu de microgravidade e também para substituir o foguete inglês Skylark 7, que deixou de ser produzido. O desenvolvimento do VSB-30 foi feito com investimentos de cerca de R$ 5 milhões e o DLR arcou com 40% desse valor. O foguete custa cerca de R$ 750 mil.
O programa europeu de microgravidade, conhecido em inglês como "Unified Microgravity Sounding Rocket Program for the Future", reúne um consórcio de organizações formado pela DLR e pelas companhias Astrium, Kayser-Threde e SSC . Até o momento, o VSB-30 acumula um total de nove lançamentos de sucesso, sendo dois a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (MA) e sete do Centro de Esrange, na Suécia.
"O VSB-30 é o melhor do mundo em sua categoria. É tão bom e confiável que não vamos gastar tempo, dinheiro e energia para inventar o que já existe", afirmou Persson. Segundo ele, as organizações europeias envolvidas no programa de microgravidade já trabalham nos experimentos científicos e tecnológicos que serão lançados, em abril de 2011, por meio de três foguetes de sondagem do IAE.
Em 2004, quando o programa de lançadores brasileiro sofreu um revés, com a explosão do foguete VLS-1 na torre de Alcântara, a companhia canadense Bristol Aerospace chegou a oferecer ao consórcio europeu um voo gratuito do foguete de sondagem Black Brant, visando à substituição do VSB-30. Segundo o IAE, a agência espacial alemã DLR se manteve firme na manutenção dos lançamentos com o foguete de sondagem brasileiro.
"O nosso foguete foi o primeiro produto espacial brasileiro a ser comercializado no mercado externo e também o primeiro a receber uma certificação de nível internacional, o que demonstra o alto nível de capacitação brasileira no segmento espacial", disse o diretor do IAE, coronel Francisco Carlos Melo Pantoja.
A certificação do VSB-30, emitida em outubro de 2009, contou com uma rigorosa avaliação da ESA e das companhias europeias do programa de microgravidade, afirmou Pantoja.
A missão do foguete de sondagem brasileiro é lançar um conjunto de experimentos (carga útil) com massa de até 400 quilos, a uma altitude máxima de 250 quilômetros, permanecendo no ambiente de microgravidade por seis minutos. Durante esse período, a carga útil aciona um sistema que elimina qualquer movimento angular. Com isso, a formação de cristais torna-se uniforme, conferindo melhores propriedades aos produtos químicos, orgânicos e inorgânicos, e às ligas metálicas.
Nos dois mais recentes lançamentos do VSB-30 feitos na Suécia, o foguete levou ao espaço experimentos científicos com o objetivo de testar novos materiais e o comportamento de células humanas e metais em ambiente de microgravidade, informou Persson.
Em visita recente ao Brasil, o executivo-chefe da SSC reuniu-se com os pesquisadores do IAE para reforçar a parceria que a empresa mantém com o instituto na área de foguetes de sondagem e para apresentar um combustível inédito que a companhia pretende testar, em breve, no lançamento do seu mais novo satélite, o Prisma. "Trata-se de um combustível ecológico, feito à base de compostos salinos e que já demonstrou, em laboratório, ser 30% mais potente que os compostos líquidos normalmente utilizados pelos atuais lançadores", disse o executivo.
Persson informou que a SSC também tem interesse em colaborar no desenvolvimento do programa brasileiro de lançadores e que considera o foguete VLS-1 muito promissor, porque pode atuar em um nicho de mercado novo, que está crescendo bastante.
"Para os microssatélites e nanossatélites de até 400 quilos não existe quase nenhum lançador disponível, o que nos obriga a procurar o serviço dos grandes lançadores, nem sempre disponíveis quando precisamos", disse Persson. O Brasil, segundo o executivo, tem interesse em dominar a tecnologia de microssatélites e a SSC quer oferecer uma parceria nessa área, que poderá facilitar o acesso do país a esse mercado.
O lançamento de dois satélites Prisma, planejado para o próximo mês, será feito pelo foguete russo Dnieper, disse Persson. Avaliado em US$ 75 milhões, o Prisma é um microssatélite demonstrador de tecnologia, que será usado como plataforma para várias aplicações, especialmente na área de observação da Terra.
Com faturamento anual de US$ 250 milhões e 650 profissionais em 11 países, a SSC é especializada no desenvolvimento de câmeras para satélites de observação da Terra, prestação de serviços de recepção de dados de satélites, pesquisas em ambiente de microgravidade e vigilância marítima por meio de radares, câmeras e sensores.
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