Fantasmas espreitam o ninho dos tucanos

A ressaca da pesquisa CNI/Ibope que apontou a candidata Dilma Rousseff (PT) à frente de José Serra (PSDB) pela primeira vez na corrida presidencial mostrou que o comando de campanha dos tucanos ainda tenta assimilar o golpe do levantamento. Os principais colaboradores de Serra estiveram reunidos com o candidato ontem para tentar uma guinada na estratégia utilizada pelo candidato. A questão de ordem foi encaminhar pelo menos dois pontos urgentes. Às vésperas da inscrição das chapas para a corrida presidencial, os tucanos seguem sem um vice definido. Pior, não conseguiram formatar um palanque no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro, o que ameaça Serra no Sudeste.

A avaliação da cúpula tucana é de que as indefinições proporcionaram mais combustível à campanha de Dilma, turbinada pelos resultados recentes da economia e pela popularidade do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva. A cúpula da campanha tucana, composta por Serra, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), o deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA) e o coordenador do programa de governo, Xico Graziano, se debruçou sobre várias questões postas pelos aliados. No centro da mesa, desde a falta de agressividade de Serra contra Lula até a excessiva centralização das decisões.

Com a luz de alerta máximo ativada, praticamente todos os cotados para a vice do tucano foram convocados para reuniões ao longo do dia no edifício Joelma, em São Paulo, o centro nervoso da campanha. Dos principais nomes para o posto, estiveram no local a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), de manhã, além de Aleluia e Guerra, durante a tarde. Apenas Valéria Pires, praticamente descartada, não foi a São Paulo. O encontro, que durou mais de cinco horas, não trouxe o nome do vice de chapa. Marisa tergiversou e disse à imprensa que tratou apenas da agenda de Serra. Já Guerra e Aleluia não comentaram o teor das reuniões.

BatomM
Segundo a análise dos tucanos, mais do que a liderança de Dilma, a pesquisa CNI/Ibope trouxe duas questões preocupantes. De acordo com o levantamento, Serra perdeu terreno entre as mulheres. Se em março liderava os levantamentos nessa fatia do eleitorado, por 40% a 29% das intenções de voto, o estado atual é de empate em 37%. Entre os nordestinos, a liderança da petista é incontestável: 45% a 27%, mesmo com a alta exposição do tucano na região nas últimas semanas. “Não podemos continuar fazendo a campanha da Dilma, sem agredir o governo. Não somos o Lula, não somos a continuidade, não podemos passar isso. Precisamos marcar a diferença”, cobrou um tucano do alto escalão.

Assessores de Serra que trabalham na linha de frente do programa de televisão avaliam internamente que o candidato deve mudar o discurso em aparições futuras. Uma fonte do PSDB chegou a comentar no intervalo das reuniões no comando de campanha que o avanço de Dilma sobre Serra é consequência da demora do candidato em se mostrar para o grande público. “A Dilma está em campanha há mais de um ano. O Serra começou há dois meses, bem timidamente. Enrolou até para deixar o governo de São Paulo”, comentou. Entre os aliados, contudo, há uma corrente que não credita a falhas de estratégia a queda de Serra nas pesquisas, mas ao bom desempenho do governo federal nos últimos meses. A recuperação da economia e os aumentos em massa para servidores públicos, segundo essa ótica, aumentaram a correnteza contra a oposição. Isso independeria do candidato escolhido.

Entre as medidas urgentes já decididas está a maior participação do candidato a governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) na campanha serrista, para tentar uma dianteira do presidenciável no Sudeste. A tentativa é contrapor a situação do Rio de Janeiro, onde a costura de alianças foi prejudicial ao PSDB. O nome dos tucanos para o governo, Fernando Gabeira (PV), se divide entre o apoio formal a Marina Silva (PV) e a simpatia a Serra. “Não existe pressão apenas dos tucanos. Se eu for para um lado, a pressão do outro lado é muito forte. Eu tenho de me equilibrar”, resumiu Gabeira.


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A saga do vice tucano


Vantagens e desvantagens dos principais candidatos

José Carlos Aleluia (DEM-BA)
A favor: seria um vice nordestino, região onde Dilma apresenta os maiores índices de intenção de voto. Pertence ao DEM, o que equilibraria o peso da chapa entre os aliados.

Contra: É um político conhecido apenas na Bahia, sem potencial para influenciar os eleitores no resto do país.

Marisa Serrano (PSDB-MS)
A favor: Agrega votos femininos à campanha e é vista como uma pessoa conciliadora, o oposto da imagem construída em torno de José Serra.

Contra: Não tem expressão nacional e terá pouca influência para reverter o quadro no Nordeste, onde Dilma lidera com folgas.

Sérgio Guerra (PSDB-PE)
A favor: Outro político nordestino, é bom articulador e consegue trazer para a campanha uma parcela dos tucanos pouco simpáticos a José Serra, como Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Contra: As suspeitas de que teria contratado oito servidores fantasmas da mesma família o fizeram cair na bolsa de apostas. Apresenta, ainda, um fraco desempenho eleitoral em
seu próprio estado, Pernambuco, o que o forçou a abandonar a ideia de tentar a reeleição ao Senado, para mirar um mandato de deputado federal.

Valéria Pires (DEM-PA)
A favor: Traz a presença feminina à campanha, o que seria um contrapeso a Dilma. Foi vice-governadora de um estado da Região Norte, o Pará, onde Dilma aparece forte nas pesquisas.

Contra: Não tem expressão nacional nem foi testada em um cargo administrativo de maior peso. Além disso, tem divulgado que prefere tentar a eleição para o Senado.

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