Com uma camisa vermelha e os sapatos sujos de lama, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, in loco, um pacote de medidas na tentativa de minimizar os estragos provocados pela chuva em Alagoas e Pernambuco. Foram disponibilizados ontem R$ 275 milhões para cada estado, além de R$ 48 milhões do Ministério da Saúde para a reconstrução de postos e hospitais. Para reerguer, ainda que minimamente, a economia nas cidades atingidas pela chuva, mais R$ 1 bilhão de crédito foi liberado por meio do Banco do Nordeste. Ao contrário do procedimento adotado em outras tragédias, como em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, a burocracia desta vez foi reduzida a quase zero. O motivo, segundo o próprio presidente, está na realidade da Região Nordeste.
“Acontece que tem estado que tem mais estrutura do que o outro, mais rico que o outro, e você precisa ajudar aqueles que mais precisam de você”, disse ontem, quando questionado sobre a resposta rápida do governo. “Nós também aprendemos cada vez mais”, completou. A ministra chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, reforçou que “a grande tragédia” era os recursos demorarem a chegar ou até mesmo não chegarem às cidades em situação de emergência, como já havia acontecido. “É um voto de confiança que estamos dando aos governadores”, disse. Ela destacou ainda que um projeto de lei será encaminhado ao Congresso para alterar a legislação. A prestação de contas desses recursos será feita depois.
Visivelmente abalado, o presidente ignorou toda a estrutura montada às margens do rio Mundaú, em Alagoas, atravessou uma ponte destruída pela chuva e visitou os moradores da Ilha Angelita. Lula disse que não queria “ver cachoeira” e sim o sofrimento das pessoas. Chorando, uma mulher se atirou nos braços do presidente e apelou por socorro. Era uma das mais de 10 mil vítimas da chuva na cidade. Lula conversou com todos que se aproximaram, pediu detalhes da vida pessoal e ouviu relatos da tragédia.
Em Pernambuco, a visita do presidente trouxe ânimo e uma ponta de esperança para os moradores de Palmares. Em uma hora e meia, Lula conversou com prefeitos da região, abraçou e foi abraçado. Consolou as vítimas desoladas e fez promessas após transitar em uma caminhonete aberta pelas ruas atoladas por um barro sujo e “fedido”, como ele mesmo descreveu. “Temos obrigação política, humana e moral de ajudar a reconstruir o que foi destruído nos estados de Pernambuco e Alagoas”, disse. “Não haverá limites. Vamos derrotar a burocracia que costumeiramente atrapalhava a todos nós”, garantiu.
“Esse é o presidente que nós conhecemos, o que coloca o pé na lama”, disse, o comerciante Edson Gomes, 27 anos, uma das vítimas das enchentes, ao ver Lula percorrer quatro ruas do centro com uma bota sete léguas.Temos obrigação política, humana e moral de ajudar a reconstruir o que foi destruído nos estados”
Luiz Inácio Lula da Silva
Mortos são 17 em Pernambuco
A Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco, Codecipe, divulgou novo boletim com a avaliação dos estragos causados pelas chuvas em Pernambuco. Segundo o comunicado, são 59 municípios afetados, com nove em estado de calamidade pública e 30 em situação de emergência. O número de pessoas desabrigadas já soma 26.200 e o de desalojadas chega a 54.066. O número de vítimas fatais das chuvas em Pernambuco subiu para 17, segundo a Codecipe — um corpo foi encontrado pela Polícia Militar na tarde de ontem, em Barreiros.
A conta da reconstrução das cidades afetadas pelas chuvas no estado, por enquanto, é maior que a receita. Estimativas das diversas secretarias estaduais apontam que as 54 cidades atingidas pelas chuvas precisariam de, pelo menos, R$ 477 milhões para terem de volta a infraestrutura mínima que tinham antes de serem castigadas pelas enchentes. Somente com a construção de 11 mil casas perdidas, serão gastos R$ 250 milhões, quase o total anunciado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pernambuco (R$ 275 milhões).
Uma semana depois do início dos temporais, voltar à rotina está longe de ser fácil. A iluminação ainda não foi completamente restabelecida, assim como o abastecimento de água. Dos nove municípios em estado de calamidade pública, quatro (Cortês, Jaqueira, Água Preta e Barreiros) tinham um sistema municipal de abastecimento. Como as prefeituras ficaram arrasadas, é difícil reconstruí-los. “O governador já designou o estado, através da Compesa, para refazer esses sistemas”, explicou Roberto Carvalho, diretor de operações da Compesa. Por enquanto, só o serviço de atendimento médico funciona nas cidades atingidas. Com a ajuda de homens do Exército, o Ministério da Saúde já está realizando campanhas de vacinação da população. Ontem, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, informou que estão sendo enviadas 11 toneladas de medicamentos aos hospitais militares montados nos municípios de Palmares e Barreiros. Também chegaram ontem 105 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e infectologistas.
Segundo balanço divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), será preciso reconstruir, pelo menos, um grande hospital na Zona da Mata Sul do estado, área mais afetada pelas chuvas da semana passada. Em Palmares, o Hospital Sílvio Magalhães (Hospital Regional de Palmares) era referência na região, com média de 400 atendimentos por dia. A unidade, que prestava serviços de emergência, pediatria, clínica médica e obstetrícia (com 90 partos por mês), ficou totalmente destruída.
Muitos moradores continuam em abrigos. Construir casas será prioridade daqui para a frente, segundo o diretor da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab), Amaro João. “Cinquenta pessoas estão trabalhando diariamente no levantamento de áreas nesses municípios. Os que são particulares poderão ser desapropriados em regime de urgência. Em trinta dias, queremos dar início às construções.”
O número
R$ 477 milhões
Quantia estimada de recursos necessários para a reconstrução das cidades atingidas é muito maior que a verba anunciada
Iniciativa solidária
As fortes chuvas que atingiram e devastaram 59 cidades do estado de Pernambuco já passaram, mas o sofrimento das pessoas atingidas pela força das águas continua. Até ontem, além das 17 mortes já confirmadas, mais de 54 mil pessoas estavam desalojadas. Outras 26 mil, desabrigadas. Gente que perdeu tudo e que, agora, precisa recomeçar do zero. Matar a fome e ter o que vestir são prioridades, e para ajudar essas pessoas, o Diario de Pernambuco, jornal que faz parte dos Diários Associados, lançou a campanha SOS Pernambuco.
A iniciativa do Diario integra uma corrente que já mobiliza entidades públicas, privadas e filantrópicas, com vários postos de arrecadação espalhados pelo estado. Mas quem está longe também pode e deve ajudar. Para isso, basta fazer doações em dinheiro. Quaisquer valores podem ser depositados em uma das contas oficiais criadas para ajudar os municípios atingidos. Pelo Banco do Brasil, a conta-corrente é a de nº 100000-4, agência 1836-8. A organização não governamental Tribunal Solidário, formada por servidores do Tribunal de Contas do Estado, abriu conta no Banco Real: agência 1016 e conta-corrente 6.023.0762.
Entre os donativos de maior necessidade ainda estão os itens que compõem a cesta básica: feijão, arroz, macarrão e leite. Há também uma grande falta de artigos de higiene pessoal, como pasta e escova de dente, absorventes e fraldas descartáveis. Mas os principais produtos continuam sendo água e colchões.
Para obter mais informações a respeito das cidades atingidas e detalhes sobre como ajudar os desabrigados basta acessar o portal do jornal: www.diariodepernambuco.com.br
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