Mares Guia atrai prefeitos aecistas para Dilma


Três anos depois de sua abrupta saída do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro de relações institucionais e empresário Walfrido dos Mares Guia voltou a operar politicamente. Hoje filiado ao PSB, Mares Guia montou um escritório a algumas centenas de metros da Assembleia Legislativa mineira que funciona como um "movimento pluripartidário de prefeitos e prefeitas pró-Dilma [Rousseff, candidata do PT à Presidência]", que fica sob a coordenação "de fato e de direito", nas palavras do ex-ministro, do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.

Um dos artífices do "Lulécio" em 2006, ou o apoio simultâneo às reeleições de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente e de Aécio Neves (PSDB) para o governo de Minas, Mares Guia passa o dia telefonando e encontrando-se pessoalmente com prefeitos, a maior parte deles da base aecista, organizando o apoio a Dilma nas pequenas cidades mineiras. "Em nome pessoal, peço o segundo voto ao Senado para o Fernando Pimentel", diz, referindo-se ao ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato do PT ao cargo. Foram 180 prefeitos contactados até a tarde de segunda-feira e a meta de Mares Guia é abordar mais 120 até o fim do mês.

Nos encontros, não há referência ao candidato de Aécio ao governo estadual, o governador Antonio Anastasia (PSDB), que tenta a reeleição, e nem ao candidato de Dilma, o senador Hélio Costa (PMDB). "A eleição ao governo mineiro é rigorosamente imprevisível. Como em quase todas as eleições no Estado, a diferença entre os dois deve ficar abaixo de cinco pontos percentuais. Já para a Dilma achamos que podemos chegar a 3 milhões de votos de vantagem, porque ela tem apoio nos dois lados. Não interessa a nós entrar na questão estadual", afirma.

Três milhões de votos em Minas significam 20% do total de 14 milhões de eleitores no Estado. Na história eleitoral mineira, seria uma dianteira acima da obtida por Lula e por Aécio em 2002 e 2006. Igualaria o recorde de Fernando Henrique Cardoso, que em 1994 conseguiu 4,5 milhões de votos em Minas Gerais, ante 1,5 milhão de Lula.

De acordo com Mares Guia, não tem havido constrangimentos em atrair prefeitos que apoiam Anastasia no âmbito estadual. "Ninguém vai fazer manifesto ou carta aberta, mas seria ridículo os prefeitos se esconderem, mesmo sendo do PSDB ou do DEM". O ex-ministro afirma ouvir raros pedidos sobre alguma pendência governamental e diz que sua arma para conseguir adesões são "os argumentos da experiência".

Mares Guia diz que não lida com cabos eleitorais remunerados. "Sempre existirão as lideranças que pedem estrutura financeira para dar este ou aquele apoio e isso não é ilegítimo, mas não é com o que tratamos aqui. Este escritório não ordena despesas e nem arrecada", frisa. O ex-ministro é lacônico ao ser instado a explicar como o apoio a Dilma se materializa nas pequenas cidades. "Os prefeitos têm uma rede de irradiação de apoios, uma sequência, que passa pelos seus secretários, seus vereadores e seus cabos eleitorais. Não é uma coisa que se explique como acontece, ela se dá", disse. Além de receber em seu escritório, o ex-ministro também viaja, muitas vezes acompanhado por Lacerda, para reuniões em outros municípios. Já esteve em Oliveira, Serro, Patrocínio, João Pinheiro, Varginha, Monte Alegre e Uberlândia.

O apoio para Pimentel é sempre abordado, mas tratado como algo descasado da opção presidencial. "O comitê é para apoiar Dilma, mas eu e Márcio Lacerda temos profundas vinculações com o Pimentel. E temos observado que o nome dele está crescendo mesmo entre os prefeitos da aliança de Aécio", disse. Lacerda teve apoio de Pimentel para eleger-se prefeito em 2008.

Mares Guia foi um dos principais assessores do então governador Hélio Garcia (1991-1994), ocasião em que tornou-se vice-governador e coordenador de campanha na eleição do tucano Eduardo Azeredo, em 1994. Quatro anos depois, elegeu-se deputado federal pelo PTB. Ele nega ter participado da campanha mal sucedida pela reeleição de Azeredo em 1998, mas é em função de um suposto esquema de caixa dois na campanha do tucano que terminou indiciado em um inquérito do Ministério Público.

Em 2007, o então procurador Antonio Fernando de Souza considerou que Mares Guia teria sido, na prática, o coordenador da campanha de 1998 e que portanto teria conhecimento de um presumido desvio de recursos públicos. O inquérito foi desdobrado e Mares Guia está se defendendo na primeira instância, representado pelo advogado Arnaldo Malheiros. Não há qualquer decisão judicial a respeito. O episódio fez com que Mares Guia pedisse demissão do ministério, tendo sido substituído por José Múcio.

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