Bancadas conservadoras tiram proveito de Palocci

Com a maior representação que já teve na Câmara - uma bancada de 74 deputados -, e no rastro das suspeitas contra o ministro Antonio Palocci, que fragilizou o Palácio do Planalto, parlamentares evangélicos aproveitam a crise para tirar o maior proveito e conseguir fazer prevalecer seus interesses no Congresso. Depois de conseguir barrar a distribuição do que chamou de kit gay, a pressão se volta agora contra o projeto que criminaliza a homofobia.

Mas não para aí. A bancada evangélica está em outro front. Agora, contra o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Querem um capelão evangélico no ordinariado militar, hoje ocupado por um arcebispo católico, dom Osvino Both. O posto é de arcebispo militar. Agendado para encontro com Jobim, semana passada, o grupo levou um chá de cadeira e, rebelados, os deputados e senadores da comitiva foram embora.

- Agora, se o ministro quiser tratar do assunto, que nos ligue - disse o líder da bancada evangélica, João Campos (PSDB-GO), aos assessores de Jobim. "

Para contornar a crise, Jobim enviou seu assessor especial e ex-deputado José Genoino para a Câmara e novo encontro foi marcado, para a última quinta, mas acabou adiado de novo. A atuação dos evangélicos se sobrepõe aos católicos. A explicação é que esses parlamentares, muitos pastores e que pregam em cultos, são eleitos quase que exclusivamente com votos de fiéis.

Toda quarta-feira, os evangélicos realizam culto num dos plenários da Câmara. O Estado é laico, mas o comprometimento dos parlamentares, em primeiro lugar, é com sua devoção religiosa. Walter Pinheiro (PT-BA), durante uma pregação, contou a todos que, para frequentar o culto, teve que abrir mão de reuniões de uma das comissões em que atua no Senado.

- Disse ao presidente da minha comissão: ou senhor troca o horário do início ou estarei sempre ausente em parte da reunião. Meu primeiro compromisso é com o Senhor - afirmou o senador, durante o culto.

Pinheiro, do partido da presidente Dilma Rousseff, se posicionou contra o governo e também se opôs à distribuição do kit anti-homofobia. O senador entendeu que o conteúdo do material era uma orientação sexual e não educação sexual. Mas afirmou que respeita a opção de cada um.

- Há toda forma de preconceito, inclusive religiosa. Não misturo política, que é algo coletivo, com fé, que é individual - disse Pinheiro.

Na última quarta, o culto foi no auditório Petrônio Portela, no Senado. O senador Magno Malta (PR-ES), que faz discursos inflamados, pregou contra a educação, no calor de ataques ao kit.

- Há uma mística infame que diz que a escola é que educa. Quem educa são os pais. A escola não educa. Este é um país de bêbados, de hipócritas, de fumantes. Não tem nada que se levante contra a família que vai prosperar. Glória a Deus - afirmou o senador, acompanhado pelos fiéis, que repetiram o "Glória a Deus".

O deputado Anthony Garotinho (PSB-RJ) é um comandante oficioso da bancada. Nas reuniões, é o que mais fala, e o que propõe é quase sempre aceito pelos pares. Partiu dele a sugestão de ameaçar convocar Antonio Palocci se Dilma Rousseff não recuasse em relação ao kit anti-homofobia. João Campos era contra a proposta, assim como o líder do PR, Lincoln Portela, que se manifestou contrário. Mas, no momento da votação, prevaleceu a ideia de Garotinho.

- É a arma que temos e é com ela que temos que lutar - diz Garotinho.

Mas há rachas entre os evangélicos. Por serem muitas igrejas, às vezes vivem às turras. Um exemplo: o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), também evangélico, tenta negociar um acordo com a senadora Marta Suplicy (PT-SP), relatora do projeto que criminaliza a homofobia.

- O Crivella não tem autorização para falar em nosso nome - disse Magno Malta, em discurso para fiéis.

Na última quarta, também foi realizado um ato público contra o projeto que criminaliza a homofobia. A manifestação foi organizada pelo pastor Silas Malafaia, que não é deputado. Muitos evangélicos foram contra a iniciativa de Malafaia, a princípio, mas depois acabaram participando da manifestação. João Campos atribui essas diferenças à uma briga de egos.

- A vaidade humana está presente em todos segmentos - disse João Campos.

O deputado Eros Biondini (PTB-MG) é o parlamentar católico mais atuante e está sempre presente nos atos promovidos pelos evangélicos. Ele também é cantor nos cultos da igreja, com vários CDs gravados, e esteve presente no ato público da quarta-feira. Ele discursou contra o projeto que criminaliza a homofobia.

- Uma lei não pode privilegiar apenas uma parcela da sociedade (homossexuais) e punir as demais. Tem que se coibir todas as formas de violência, contra os negros, contra os deficientes, contra homossexuais e todas as outras - disse Eros Biondini.

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